Este Sporting é de elite

A vitória da equipa de andebol frente ao Veszprém não foi apenas extraordinária, foi consequência de uma estratégia e de um plano bem estruturado e posto em prática com raízes sólidas. Este é 'Nunca Mais é Sábado', espaço de opinião de Nuno Raposo

Imaginem a equipa de futebol do Sporting receber o Paris Saint-Germain no Estádio José Alvalade e aplicar-lhe uma chapa três na Liga dos Campeões, com ocasiões para chegar aos 4-0 num jogo dominado pelos leões, do primeiro ao último minuto e com direito a descompressão na parte final. O que não se escreveria da equipa de Rúben Amorim a espantar a Europa?

Pois foi mais ou menos isso que aconteceu na quarta-feira no Pavilhão João Rocha na Champions de andebol. Os verdes e brancos receberam os húngaros do Veszprém, colosso do andebol europeu — que por acaso ainda recentemente aviou o PSG, outro colosso da modalidade por 13 golos de diferença — que investiu como nunca para passar do estatuto de candidato a ganhar a prova continental a conquistá-la pela primeira vez, como a equipa francesa faz ano após ano no futebol, mas que, também época após época, vê esse objetivo adiado.

Uma vitória extraordinária de uma equipa magnífica, sem par em Portugal — na temporada passada ganhou o que tinha para ganhar (campeonato, Taça de Portugal e Supertaça) e esta época já venceu a Supertaça com final contra o Benfica e ganhou às águias outra vez, para o campeonato, sempre por 16 de diferença! — e que começa a ser um caso sério na Europa — em 2023/2024 já ameaçara, ainda que na Taça EHF (para os menos familiarizados, uma espécie de Liga Europa da modalidade), caindo às portas da final four.

Não foi, por tudo isto, apenas uma vitória extraordinária. Foi bem mais do que isso. São os frutos de um projeto que começou a ser construído há anos, numa altura em que o FC Porto dominava internamente a modalidade, também com presenças fortes na Liga dos Campeões. Carlos Carneiro, depois de terminada uma brilhante carreira de jogador e de um ano como coordenador da formação do andebol leonino, assumiu em 2021/2022 a função de diretor máximo da modalidade em Alvalade. Contratou Ricardo Costa para treinador, que levou os filhos Martim e Kiko, ambos pertencentes aos quadros dos dragões, ainda projetos de jogadores e que hoje são já dois dos expoentes máximos do andebol nacional, internacionais com lugar cativo numa Seleção Nacional com presenças sólidas em Mundiais e Europeus. Aproveitou a juventude do plantel e, claro, investimento em estrangeiros à medida das possibilidades nacionais, com jogadores jovens, alguns internacionais, com muita margem de progressão e ambição. Esta vitória com o Veszprém não foi então apenas extraordinária, foi consequência de uma estratégia e de um plano bem estruturado e posto em prática com raízes sólidas.

E por isto tudo, a equipa de futebol do Sporting, a equipa de Rúben Amorim, Gyokeres e companhia, não é a única que faz vibrar os adeptos no reino do leão. E diria mais, a cumplicidade que existe entre jogadores e adeptos no João Rocha consegue ser ainda maior do que no José Alvalade, basta ver a forma como os atletas celebram as vitórias no final dos jogos…

Já havia o futebol, já havia o futsal e o projeto de há muitos anos que faz do Sporting uma das maiores potencias europeias da modalidade, mas o andebol entra agora também nestas contas. E na Europa do desporto este feito tem ainda mais impacto, por ser uma modalidade com maior expressão, com mais concorrentes e em países bem mais poderosos economicamente, logo com uma concorrência maior e mais robusta a nível financeiro. O feito extraordinário do andebol do Sporting não foi apenas a vitória com o Veszprém, antes a forma como o clube consegue agora ser encarado como mais um integrante da elite europeia da modalidade.

«Queremos que o Sporting seja um grande clube, tão grande como os maiores da Europa», disse José Alvalade em 1906 — por conta desta equipa de andebol certamente que é.