Espanha e Itália: de 2012 a 2021

OPINIÃO06.07.202107:00

Memórias de outro Itália-Espanha, no caso no Olímpico de Kiev, na decisão do Euro-2012, jogo arbitrado por portugueses...

OItália-Espanha, que irá disputar-se hoje em Londres (ainda por cima no majestoso Wembley), é já considerado por muitos como uma final antecipada e percebe-se bem porquê: frente a frente estarão duas das melhores seleções da atualidade, que contam com treinadores competentes, jogadores extraordinários e um histórico robusto de vitórias em jogos internacionais.
Para mim, que já passei como espectador por várias provas destas (na memória ainda mora o inesquecível Mundial-1982, do Naranjito), é quase impossível olhar para o jogaço desta noite e não me lembrar, quase automaticamente, da única competição deste calibre que tive a felicidade de participar, ao vivo e a cores: a final do Europeu de 2012.
É que nessa também estavam Itália e Espanha, mas além delas uma equipa de arbitragem (quase) totalmente portuguesa - o Cuneyt Çakir foi o quarto árbitro -, liderada por Pedro Proença.
Apesar dos mais de nove anos que separam aquele dia 1 de Julho da meia-final de mais logo, a verdade é que ainda permanecem vivas na minha memória todas as peripécias de um jogo absolutamente fantástico, dominado do primeiro ao último minuto por nuestros hermanos.
O resultado final - goleada de 4-0 à squadra azzurra - foi o menos importante face a tudo aquilo que eu, o Jorge (Sousa), o Bertino (Miranda), o Ricardo (Santos) e, claro, o Pedro (Proença), tivemos o privilégio de viver e sentir. O privilégio de usufruir. Responsavelmente. Seriamente.
Têm noção do que é estar dentro de um relvado impecavelmente tratado, num estádio imponente (como é o Olímpico de Kiev), para um jogo daquele calibre? Têm noção do que é entrar em campo, à frente daquelas duas equipas, ao som de uma música e perante a presença de 63.170 adeptos em euforia? Adeptos que, meses antes, pagaram muitos milhares de euros para garantirem um lugar naquele evento? Naquele momento? Têm noção do que saber que muitas dezenas de milhões de pessoas, em todo o mundo, tinham os olhos ali? Colocados no espetáculo, nos jogadores e em nós?
Eu também não tinha... até ter. E deixem-me que vos diga... não há muitas sensações na vida profissional de uma pessoa que se assemelhem a essa. Foi memorável. Arrepiante.
A acrescer a tanta emoção e adrenalina, a noção clara de que na bancada estavam ainda alguns notáveis. Notáveis que apenas acrescentaram  responsabilidade a quem sentia que, em campo, tinha mesmo que estar ao seu melhor nível: o presidente da Ucrânia, Víktor Yanukóvytch, o presidente e o primeiro-ministro italianos na altura, Giorgio Napolitano e Mario Monti, o herdeiro da coroa espanhola, Príncipe Filipe das Astúrias, Michel Platini, então presidente da UEFA, Joseph Blatter, à data presidente da FIFA, Gianni Infantino e muitos outros.

PARECE QUE NÃO PESA... MAS PESA

LÁ dentro, ao nosso lado, a perfilar connosco, uma verdadeira constelação de estrelas: Casillas, Sergio Ramos, Piquet, Iniesta (eleito o melhor da final), Xavi, David Silva, Buffon, Pirlo, Chiellini, Balotelli, Bonnuci, Fernando Torres, Thiago Motta e tantos, tantos outros.
A final de 2012 foi para nós um pouco como a meia-final de hoje será para Felix Brych: intensa, emocionante e seguramente bem disputada.
Estão lá Espanha, Itália e um árbitro internacional de categoria. Em termos de qualidade teórica, a coisa não pode ser muito maior do que isso.
Usufruam e divirtam-se a ver futebol do bom, tal como nós nos divertimos a saborear cada segundo daquele jogo.