Encomendem lá as faixas, mas paguem uma rodada

OPINIÃO13.04.202206:55

Não irei dizer que o FC Porto tem sido beneficiado; na realidade a equipa joga bem e o treinador é consistente. Mas um penálti aqui e ali, ajuda um pouco

Q UEM lê as minhas opiniões, aqui expressas, já sabe que o meu guru na arbitragem é Duarte Gomes. Em primeiro lugar, deixem-me explicar o seguinte: ao contrário de tudólogos vários, que se estendem da economia, à política, às ciências ambientais e, claro, ao futebol, eu entendo que quem não percebe (nem pode) tudo o que nos rodeia deve fazer duas coisas: tentar informar-se o mais possível e, depois de observar as diversas opiniões que essa informação lhe propicia, escolher, entre elas, a que parece mais sólida e estruturada.

Foi o que fiz, e Duarte Gomes pareceu-me a pessoa (haverá outros) com opiniões mais sensatas, organizadas e independentes acerca da arbitragem, apresentando, além disso, propostas de melhoramento da atividade, nos textos e nas intervenções que vai fazendo, nomeadamente em dois órgãos que estimo e onde também colaboro - este, A BOLA, e a SIC.

Poderia dizer que nem sempre estou de acordo com ele, porque nunca se está 100% de acordo com alguém. Mas, nem me atrevo! Para discordar, não basta ter uma opinião diferente; é necessário que tenhamos argumentos para terçar a favor do nosso entendimento. Por isso, e prudentemente, no caso do penálti sobre Paulinho no jogo contra o Paços de Ferreira (que vencemos 2-0) guardei silêncio. Confesso que tive dúvidas… e ao ler o que Duarte Gomes escreveu, essas dúvidas adensaram-se.

O resultado, em si, não ficou alterado - seria uma vitória. Se o Sporting ganhou ou não alento com esse penálti, é obvio que ganhou. Mas fez uma segunda parte avassaladora e o resultado pecou por escasso, sem um único remate enquadrado da equipa pacense, contra seis do Sporting, dos quais resultaram os dois golos.

Não foi preciso esperar muito para verificar que o meu guru manteve a opinião. Dois penáltis semelhantes assinalados a favor do FC Porto, no jogo de domingo, contra o V. Guimarães, mereceram também a discordância de Duarte Gomes. E aqui, quando os olhos da paixão clubística já quase estão desvanecidos, verifica-se exatamente o mesmo. Sobretudo no segundo (por acaso falhado por Taremi), o avançado portista vai claramente  a correr contra o guarda-redes Varela, que estava a fazer a mancha e parado. Mais do que isso, começou a cair antes de haver qualquer contacto. Quanto ao primeiro, aos 34 minutos, aquele ditou a vitória do FC Porto em Guimarães, porque convertido, também me pareceu uma simulação tão grande que, como escreveu segunda-feira neste jornal Duarte Gomes, devia ter sido amarelo para o avançado.

Não serei eu a dizer que há uma conspiração a nível da arbitragem para tornar o FC Porto campeão, embora vários amigos meus do Benfica e do Sporting entendam que esses tempos estão a voltar. No geral, combato esse tipo de teorias de conspiração e sou mais dado a acreditar que os árbitros de campo e os VAR não têm regulamentos e indicações precisas sobre o que devem fazer. Ou seja, em meu entender, se quisermos um jogo o mais impossível isento de erros, deveríamos dar mais poder ao VAR. Ter como lei que só intervém ou chama a atenção ao árbitro de campo com 100% de certeza e só em determinadas circunstâncias, leva a cenas destas. E a outras, como o conhecido problema da intensidade ou do quis ou não jogar a bola.

Depois do jogo em Guimarães o FC Porto pode, praticamente, encomendar as faixas de campeão. Mas era justo pagar uma rodada a quem fez estas leis e aos árbitros que as interpretam. Não por eles terem deliberadamente beneficiado o FC Porto; mas por, objetivamente, o FC Porto ter sido beneficiado.
 

Taremi foi protagonista nos dois penáltis assinalados a favor do FC Porto em Guimarães 


O 2.º LUGAR É NOSSO? 

S ENDO a vitória no campeonato quase impossível , ainda que consigamos os 88 pontos possíveis, vencendo os cinco jogos que faltam, centremo-nos no segundo e no acesso direto à Liga dos Campeões. 

A dificuldade está em o FC Porto precisar apenas de nove pontos em cinco jogos; ou seja, precisaria de perder seis pontos, quando nos 29 jogos anteriores apenas perdeu oito. É certo que os portistas ainda têm de ir à Luz e a Braga, mas mesmo assim e pelo que se tem visto, parece algo irreal. 

Já o segundo lugar depende apenas do dérbi de Domingo de Páscoa. Em Alvalade, se o Sporting vencer o Benfica, assegura o segundo lugar para si e o terceiro para o Benfica (mesmo assim, este ainda matematicamente ameaçado pelo SC Braga). Se os dois maiores clubes de Lisboa empatarem, o Sporting apenas precisará de três pontos nos últimos quatro jogos para ter o acesso direto à Champions. E, mesmo se perdesse - longe vá o agouro - ainda podia perder cinco ou seis pontos (metade dos 12 que estarão em disputa), para ficar à frente do Benfica. Ora, como costuma dizer Rúben Amorim, isto é jogo a jogo, mas como se percebe pelas contas, vencer o Benfica já no próximo domingo, é uma solução definitiva para um lugar no campeonato milionário.

Eu acredito que a vitória sobre o Benfica é possível e lógica. Ainda sábado passado, em Tondela, vimos como o Sporting sabe jogar e manter um esquema de jogo sem depender de individualidades. Slimani, por razões de gestão da equipa por parte do treinador, não foi sequer convocado e Paulinho não saiu do banco. Sarabia, com dois golos (um de penálti que Duarte Gomes assinalou como bem marcado) e Gonçalo Inácio com um, aquele que abriu o marcador, venceram uma equipa que nem sempre é fácil, mas que curiosamente este ano perdeu sempre pela mesma marca contra os três grandes: 1-3. 

Aliás, a gestão dos jogos torna-se fundamental no fim da época e Rúben parece muito seguro do que faz… e bem. 
 

A ARTE DE GERIR HOMENS 

T ODOS se lembram dos galácticos, aquelas equipas do Real Madrid. Houve duas gerações: a primeira com Luís Figo, Roberto Carlos, Zidane, Ronaldo (fenómeno), Beckham, Robinho, Raúl e Casillas, na primeira, que correspondeu à primeira presidência de Florentino Pérez; quando este voltou a ser presidente dos madridistas, depois de demitido em 2006 e eleito em 2009, Florentino formou a segunda geração de galáticos: Cristiano Ronaldo, Kaká, Benzema, Di María, Ozil, Modric, Kroos, Bale e mais uns tantos. Enfim, eram equipas formadas com os melhores jogadores do mundo, mas os resultados, muitas vezes não correspondiam ao valor, tanto futebolístico, como do ponto de vista do investimento, feito naquelas formações. Por vezes, até com situações relativamente contraditórias; por exemplo, de 2016 a 2018 o Real venceu três Champions consecutivas.  Já no campeonato espanhol, apenas venceu o de 2016, ficando em terceiro nos dois anos seguintes. Estes anos, quando o treinador era Zinedine Zidane, que entretanto saiu, voltou e voltou a sair, corresponderam a uma das melhores formas de gerir jogadores. Na verdade, estou convencido de que, com aqueles jogadores, qualquer treinador com noções básicas de tática e de análise do adversário, se deixasse os jogadores explanarem o seu futebol, conseguiria vencer os jogos. Mais difícil do que isso é, seguramente, gerir os egos de tantas vedetas. Embora substancialmente diferente, o mesmo acontece em Portugal. Por isso há treinadores que podendo saber imenso de futebol não ganham nada; e outros que sabendo o mesmo, ganham tudo. Os segundos, são tipo Rúben Amorim: sabem agir com conta, peso e medida e aplainar egos quando necessário. 

Não sabendo o que se passou com Slimani, que voltou a treinar com grandes sorrisos para Rúben, e se mantém como hipótese para defrontar o Benfica, acho que foi algo deste estilo. 
 

JOGAR FORA 

SC BRAGA  

Começo pelo jogo de amanhã à noite, porque o SC Braga tem francas hipóteses de passar o Rangers e avançar para as meias-finais da Liga Europa, onde poderá sonhar com a segunda final europeia da sua vida. Espero que sim.
 

BENFICA  

Poderia salvar a época na Champions (e de certa forma, mesmo que esta noite seja afastado, salvou-a), mas passar o Liverpool, a jogar fora e depois de perder 1-3 na Luz é uma missão quase impossível. Basta ter visto o Manchester City-Liverpool, este domingo, para ver do que são capazes os adversários da equipa da Luz.