Dirigir com superioridade

Cada palavra, gesto ou intervenção que têm diz mais de você do que dos outros

T ENHO por cada presidente, diretor, dirigente e funcionário de clube/SAD profundo respeito. Tenho de verdade. Sei que, nos tempos que correm, é preciso muita coragem, paixão e espírito aventureiro para assumir um cargo numa instituição que, regra geral, tem passivos difíceis, décadas de história e milhares de apoiantes em todo o lado. O vosso trabalho e esforço nunca é avaliado na totalidade. É e será sempre escrutinado em função dos resultados, do golo marcado ou sofrido. É injusto mas, no mundo da bola (e não só), é assim.
Tiro o meu chapéu à vossa visão estratégica, tenacidade e risco. O risco que escolhem correr todos os dias. Tiro o meu chapéu à vossa resiliência.
Sei que, nalguns casos, são anos e anos de desgaste e pancada, ao qual respondem (quase sempre) com maiorias eleitorais ou votos de confiança de quem mais importa. Sei também do sacrifício pessoal e familiar que fazem, das horas que passam longe de casa, longe de quem mais importa. Sei do cansaço que sentem, do desespero pontual, da raiva e frustração inerentes a uma função verdadeiramente avassaladora.
Como digo e repito com frequência, não é para quem quer. É só para quem pode e são poucos os que podem.
Dito isto, o reverso da medalha. Vocês são líderes. São quem arquiteta o plano e desenha a ambição de milhões. Cada palavra, gesto ou intervenção que têm diz mais de vocês do que dos outros.
As pessoas que vos seguem e admiram ouvem a vossa mensagem mas, em simultâneo, avaliam a vossa coerência. O vosso compromisso com a palavra. Sejam estratégicos, defendam os vossos interesses, exijam justiça e equidade, mas não caiam no erro de dizer uma coisa hoje e fazer outra amanhã. Toda a gente vê, toda a gente percebe, toda a gente comenta. Não se exponham a isso.
De cada vez que dão o dito por não dito - e às vezes fazem-no de um dia para outro - não estão a vender nada de bom. Estão apenas a dar um tiro certeiro na vossa credibilidade e caráter. O mundo de hoje está diferente e uma das poucas coisas que nos resta é a forma como mantemos a coluna esticada. Não deixem que a bola que não entra vos transforme em algo que não vos define.
Lembrem-se (porque nós lembramo-nos) que já fizeram pactos de sangue com aqueles a quem agora apelidam de almas errantes. Lembrem-se que já venceram com erros iguais àqueles que, se calhar, já vos tiraram algumas vitórias. Lembrem-se que já criticaram palavras proferidas pelos outros, embora já as tivessem repetido, noutros contextos, vezes sem conta. Lembrem-se disso... porque nós nunca nos esquecemos.
Coerência, dignidade, elevação. Respeito, classe, personalidade. Na vitória e na derrota. Sempre. A época vem aí e nós estamos todos a ver. Contamos com o melhor de cada um. Obviamente.
Vamos a eles!