Dilema (Liga) Europa
Sporting e Benfica com diferentes perspetivas na Europa. Schmidt não terá dos benfiquistas a mesma folga que Amorim pode ter dos sportinguistas
Este dilema tem um nome: Europa. Ou melhor, tem dois nomes: Liga Europa. Porque se da Champions se tratasse nada de dilema: a Liga dos Campeões não permite gestões, ainda mais nesta fase, pede ambição que pode levar ao prestígio e ainda a mais milhões.
Compreendo que o Sporting, tal como Rúben Amorim anda a dizer há algum tempo, dê prioridade ao campeonato. Não é todos os anos que os leões são campeões - ou melhor, raros são os anos em que os leões são campeões -, menos ainda os intervalos curtos entre campeonatos a verde e branco. Por isso compreendo que em temporada em que o título é, em março, um objetivo palpável o foco seja a liga nacional. Mas custa-me entender que se possa abdicar assim tão facilmente de uma prova europeia - menos milionária, sim, mas igualmente prestigiante e mediática, sobretudo com o passar das fases e eliminatórias.
O plantel do Sporting é curto. Sim, é curto. Quando todos às ordens, como foi o caso do jogo com o Arouca, ainda se olha para um banco com alternativas que podem acrescentar. O problema é quando falta uma ou duas peças: basta isso para a manta ficar curta. Demasiado curta. E aí o treinador não poderá ser absolvido de época após época preferir sempre grupos mais reduzidos…
Antes do jogo com o Arouca - deslocação vista, e com razão, como chave -, porém, o treinador leonino abriu a porta a alguma ambição europeia: «Não abdicamos de nada! Se houver uma duvidazinha, vamos sempre para o campeonato. Este [jogo, Arouca] é o mais importante que temos, por ser a nossa grande prioridade, mas não abdicamos de nada, nem da Taça de Portugal nem da Liga Europa!» Não se pede a Amorim que perca esse foco principal no campeonato, mas os adeptos do Sporting têm sido claros em todas as deslocações europeias e a mensagem tem sido mostrada em faixas nas bancadas: chegar a Dublin é também um sonho - menos realista? Sim, mas se os adeptos sonham, o treinador não os deve acordar antes de tempo, o risco faz parte do jogo.
Do jogo do Benfica faz também parte a Liga Europa. O dilema encarnado é no entanto diferente do leonino. Porque Roger Schmidt está numa posição em que eliminação aos pés do Rangers agudizaria ainda mais a relação extremada entre treinador e massa adepta encarnada. As águias entraram para a eliminatória com os escoceses com o estatuto de favoritas, derrota não seria perdoada e deixava o foco (negativo) ainda mais colocado no alemão. Nesta perspetiva puramente europeia, o dilema de Schmidt é um problema, não lhe perdoariam mais um desaire; já Amorim não tem essa pressão - mas que isso não o desresponsabilize de tal forma para abdicar de lutar.