Di Maria entre os melhores, sim
Que os jogadores do Benfica percebam uma coisa: há os que sonham chegar lá. E há os que já foram e voltaram. Di Maria é um desses. Nata. Elite. ‘Top’
CESAR LUIS MENOTTI, 84 anos, é o treinador que levou a selecção Argentina ao seu primeiro título mundial, em 1978 (3-1 à Holanda de Ernst Happel na famosa final dos ‘papelitos’, com um bis do «touro enraivecido» Kempes). Menotti foi um grande treinador e continua a ser uma figura fascinante. O olhar. As rugas. O tom de voz. A pose, elegante e «cool» (chamavam-lhe ‘El Flaco’ numa alusão à figura esguia). Culto, interventivo, com preocupações e interesses que sempre foram muito para além do futebol, Menotti colocou Angel Di Maria «ao nível de Maradona, Messi e Kempes» na história do futebol argentino. A frase pegou como fogo em erva seca e fez a delicia dos adeptos benfiquistas, prontos para receberem o hipertalentoso «Fideo» ao fim de uma separação de 13 anos.
Natural da cidade de Rosario, como Messi e Di Maria, o grande Menotti, quer-me parecer, quis corrigir uma injustiça que é feita há muitos anos a Di Maria até pelos próprios adeptos argentinos. É claro que ninguém discute a primazia de Messi na selecção, mas poucos têm presente - e deviam ter - que foi Angelito o homem mais decisivo nas finais ganhas pela Argentina no tempo de Messi. Lembre-se. Foi Di Maria quem marcou o único golo argentino na final do Torneio Olimpico de 2008 (1-0 à Nigéria em Pequim); foi Di Maria quem marcou, no Maracanã, o golo que deu à Argentina a saborosa vitória na Copa America de 2021 (1-0 ao Brasil). O «Fideo» também marcou na final do último Mundial (assinou o segundo golo à França a concluir uma soberba movimentação colectiva) repetindo o que havia feito na Finalissima com a Itália, em Wembley (3-0), seis meses antes.
Ou seja: Messi é o maior, mas Angelito é que esteve em todas.
Creio que era isto que Menotti queria sublinhar. A importância de Di Maria nos títulos conquistados pela Alviceleste durante a «era Messi». Porque, no resto, é óbvio que Di Maria não está ao nível de Maradona nem de Messi - nem pouco mais ou menos.
É, sim, um dos grandes, um dos maiores futebolistas que os argentinos ofereceram ao futebol nos últimos cem anos. E foram tantos, senhores!.... Façam o favor de se lembrarem de Angel Labruna, Jose Manuel Moreno, Adolfo Pedernera, Guillermo Stabile, Osmar Corbatta, Omar Sivori, Alfredo Di Stefano, Hector Yazalde, Mario Kempes, Daniel Passarella, Ubaldo Fillol, Osvaldo Ardiles, Diego Armando Maradona, Jorge Valdano, Javier Zanetti, Ariel Ortega, Pablo Aimar, Fernando Redondo, Gabriel Batistuta, Hernan Jorge Crespo, Carlos Tevez, Sergio Aguero, Angel Di Maria… foram tantos, tantos! e tantos certamente deixei aqui por mencionar.
Para mim é claro que, em termos de percepção global, o Benfica da próxima época será o Benfica «de» Di Maria. O extremo argentino continua a ser, aos 35 anos, um jogador de classe mundial com assento regular nas páginas dos grandes jornais desportivos internacionais. Quantos no Benfica, independentemente da idade, podem dizer o mesmo?
Vejo Angelito não como salvador da pátria (um rótulo sempre perigoso que não é justo colar num jogador com 35 anos; Roger Schmidt terá de saber como gerir a sua utilização em beneficio do argentino e da equipa), mas como um reforço de luxo que pode fazer a diferença nos grandes jogos domésticos e, sobretudo, na Champions. Por falar nisso: o Benfica, em 30 edições da Champions, nunca conseguiu passar dos quartos-de-final. E mesmo aí chegou poucas vezes. Di Maria, esse, é um habitué das etapas decisivas da maior competição clubistica do Mundo. Além das três meias-finais consecutivas a que chegou com o Madrid de Cristiano e Mourinho, e daquela que atingiu com o Paris SG em 2021, Angelito esteve presente em duas finais da Champions. A primeira em 2014, ao serviço do Real Madrid (goleada de 4-1 ao Atletico de Madrid), a segunda em 2020, com o Paris SG (derrota minima com o Bayern, 0-1). Agora, lembram-se onde é que ele as jogou? Sim, parece sinal do destino: foram ambas no estádio da Luz.
Que os jogadores do Benfica não se esqueçam disso e percebam uma coisa. Há os que sonham chegar lá. E há os que já foram e voltaram. Di Maria é um desses. Nata. Élite. Top. Recebam-no bem. E aprendam como se faz.
Lionel Messi é o maior mas Angelito foi o mais decisivo das finais ganhas pela Argentina no tempo de Messi
TEIA PORTUGUESA NA ARÁBIA
NO espaço de uma semana, o terrível «aspirador» saudita levou, a peso de ouro, mais três profissionais portugueses para aquela que promete ser a liga periférica mais mediática da próxima época. Falamos do irrequieto e talentoso Jota (ex-Celtic), que se junta a Benzema e N’Golo Kanté no Al-Itthiad de Nuno; e dos treinadores Luis Castro (ex-Botafogo), que assinou pelo Al-Nassr de Ronaldo; e Jorge Jesus (ex-Fenerbahçe), que regressa ao clube (Al-Hilal de Rúben Neves e Koulibaly) onde, há precisamente cinco anos, viveu a sua primeira experiência internacional. Significa isto que três dos quatro clubes que foram comprados pelo Fundo Soberano Saudita (ordem para gastar!) têm treinadores portugueses - lembre-se que Nuno Espirito Santo, campeão em título com o Al-Itthiad, já lá estava. E ainda há mais três na liga principal: Pedro Emanuel (Al Khaleej), Jorge Mendonça (Al-Akhdoud) e Filipe Gouveia (Al-Hhazh). Mas estes, como não foram intervencionados, são mais pobrezinhos.
Dos quatro ricos candidatos ao título, só o Al-Ahli (que se reforçou com o excelente guarda-redes Mendy e com o não menos excelente Roberto Firmino) ainda não tem treinador. Será que também vai escolher um português? Tinha piada ver os quatro milionários envolvidos numa teia portuguesa.
É claro que tudo isto é muito compensador do ponto de vista financeiro e é significativo que profissionais portugueses (jogadores e treinadores) estejam na primeira linha de preferências de uma liga que quer ser grande à força. Mas, por outro lado, convém não perder de vista que no conjunto das cinco grandes ligas europeias só vejo quatro treinadores portugueses, todos em clubes de classe média ou nem isso: José Mourinho na Roma e Paulo Sousa na Salternitana; Marco Silva no Fulham; e Paulo Fonseca no Lille. Nenhum deles luta pelo título, nem em sonhos. Enquanto isso, os dois maiores clubes franceses (Marselha e Paris SG) apresentaram treinadores espanhóis em dois dias consecutivos: Marcelino Garcia Toral no Velódromo e Luis Enrique no «Parc»; ao mesmo tempo, em Inglaterra, o espanhol Mikel Arteta reforça o plantel do Arsenal para voltar a desafiar o inatingível City do espanhol Guardiola. Só para lembrar.