Desta vez, Rúben não tem razão
O Sporting perdeu dois pontos em Famalicão, mas não comprometeu expectativas, disfarçadas ou não, ou sequer o processo que, até aqui, alcançou bons resultados. Sobre a má exibição, escrevi no site deste jornal e quem pretender análise mais alargada pode aí encontrá-la, mas simplifico assim: o Famalicão bloqueou o leão ao ponto de este só ameaçar o golo com recurso ao talento individual (e a uma ou outra bola parada). Perante um adversário de bloco baixo, mais eficaz no controlo do jogo interior e da profundidade, a equipa de Rúben Amorim sofreu sempre que teve a bola, o que lhe vale um enigma para o futuro.
Talvez tenham sido essas dificuldades a espoletar tamanha e enfurecida reação quando aquele golo caído do céu foi anulado (também aqui há especialistas de arbitragens, fenómeno do qual faço questão de me abstrair). Amorim foi expulso (outra vez), o acesso aos balneários teve daquelas confusões à anos 80 ou 90 - mesmo que não tenha sido nada de mais, a imagem é sempre má -, Varandas recuperou o tesourinho deprimente que já tinha sido o discurso no pós-clássico e os adeptos voltaram a atirar-se a tudo o que mexe e a recuperar teorias da conspiração. No meio disto tudo, os discursos exemplares de Emanuel Ferro e do envergonhado João Pedro Sousa deveriam ter sido elogiados em vez de engolidos pela poluição do costume.
Se a gestão comunicacional tem sido dos pontos fortes de Amorim, há ainda trabalho a fazer na gestão emocional, a começar pelo próprio. O treinador não pode andar constantemente a ser expulso e enfraquecer a própria equipa. E, por muito que, de certa forma, ainda se sinta um pouco jogador terá de ser sempre ele o primeiro a dar o exemplo. Desta vez, não tem razão: se vai um, não podem ir todos. Alguém tem de manter a cabeça fria.