Dar e receber
SILAS é o homem escolhido para o comando, agora não interino, do Sporting. O antigo médio criativo chega sem grande respaldo, porque não tem uma carreira longa nem recheada de títulos mas com uma proposta de jogo interessante, pelo menos pelo visto quando esteve no Belenenses. A construção costuma começar muito detrás, com três homens na defesa, cinco no meio e dois na frente, e um futebol feito de muitos passes curtos e muitos apoios. O novo técnico do Sporting já disse que adora o jogo ofensivo e a ideia até é agradável para os amantes mais puros do futebol. O problema é que em Portugal há muito poucos amantes puros do futebol. Olha-se muito mais para o resultado do que para o processo e nos frutos que este poderá dar a médio/longo prazo. E se os resultados não surgirem, Silas já sabe qual será a porta que lhe será aberta por Frederico Varandas: a de saída.
Muito acossado nos últimos tempos por uma massa adepta cada vez mais intolerante, Frederico Varandas tem repetido a ideia de que é preciso darem-lhe tempo porque os resultados do trabalho que está a ser efetuado num clube que estava em cacos só serão proveitosos mais à frente. Até pode ter razão nesta ideia e provavelmente tem. Mas o mesmo se pode aplicar aos treinadores, que precisam de tempo para aplicar as suas ideias e as desenvolverem. E o problema do Sporting não está apenas em quem se tem sentado no banco. É mais extenso. A começar no plantel, que, além de desequilibrado, qualitativamente comparando com os rivais, está vários furos abaixo. Este é o principal problema e não é culpa de qualquer treinador: é de Varandas e restante SAD, que não dá aos outros (tempo) aquilo que pede para ele.
António Variações escreveu uma canção há muito anos intitulada Dar e Receber: «Trocar o corpo/Trocar a voz/Trocar o canto pra não cantarmos sós/Trocar o corpo/Trocar a voz/Trocar o canto pra não cantarmos sós.»
Porque, por esta via, Varandas arrisca-se a acabar a cantar só.