Certidão de óbito
Rui Costa, presidente do Benfica. Foto: SL Benfica

Certidão de óbito

OPINIÃO28.05.202414:25

A comunicação do Benfica é gerida de forma a causar o mínimo ruído possível

Paz à alma da comunicação do Sport Lisboa e Benfica. A mesma ainda deu sinais de vida durante a época 2023/2024, mas depois entrou de tal forma em coma profundo que simplesmente desapareceu. Crê-se na atestação do seu óbito e a recente entrevista do presidente em funções dificilmente a conseguirá ressuscitar. Isto porque não se pode optar por dar mais relevância ao facto da entrevista ter sido aberta a vários meios de comunicação do que propriamente fomentar o debate sobre a pouca clareza daquilo que foi dito pelo seu chefe máximo.

Só faltou parabenizarem publicamente a Atalanta e fazer uma estátua a Gasperini no Estádio. Era previsível a justificação do insucesso desportivo devido a «escolhas erradas» (por outras palavras, planeamento deficiente ou simplesmente má gestão) e os estatutos já nem sequer são tema de tal forma que a BTV forçou a pergunta final porque era conveniente oficializar uma Assembleia Geral cuja data de realização deverá saber-se hoje.

A auditoria foi tópico menosprezado por quem esteve a interrogar no campus mesmo depois do entrevistado, na qualidade de arguido, voltar a banalizar o conceito e alcance de auditoria forense com base em contratos e transferências de jogadores. As auditorias forenses investigam eventuais fraudes cometidas nas empresas através dos seus representantes legais para obter e avaliar evidências relativas às contas e declarações financeiras, regularidade e legalidade das operações e gestão financeira, tentando-se apurar o grau de correspondência entre essas mesmas provas e os critérios estabelecidos.

Assim, face a suspeitas de fraude (ou perante fraudes que possam ter sido consumadas), contratam-se terceiros para diagnosticarem potenciais ilícitos penais, contraordenacionais e civis após analisarem as áreas de contabilidade, criminologia, recolha e interpretação de dados, economia, finanças, direito, psicologia, antropologia, sociologia e, o mais importante de tudo, o envolvimento no setor desportivo. Pior só quando se ouve Rui Costa referir que a alteração estatutária e auditoria (duas maiores bandeiras de campanha eleitoral em 2021) são uma dupla inoportuna para serem apresentadas durante as épocas pois mexem com o futebol e as modalidades.

Foi esta a melhor justificação que os conselheiros do presidente arranjaram para apresentação aos sócios no último ano de mandato? Em Barcelona discorda-se. Aliás, um passo básico teria sido o Benfica contratar a consultora Kroll (responsável pela auditoria forense no FC Barcelona) para pegar nos seus casos.

Ora, não podemos fugir ao facto de que a comunicação do Benfica é gerida de forma a causar o mínimo ruído possível, sobretudo em ano horribilis. Mas isso não implica que não saiba utilizar, por exemplo, uma ferramenta premium como a BTV. É um canal pago com difusão exclusiva dos jogos da equipa principal (uma das principais fontes de receita) e das restantes modalidades com transmissão técnica, gráfica e eticamente credíveis e prestigiantes.

Contudo, a relação deste player interno com o futebol profissional é estranha, nunca tendo existido uma intenção em promover proximidade entre atletas e adeptos. Antes se dá azo a uma inexplicável inacessibilidade através de uma relação tensa, desagradável e pouco abonatória para os interesses da instituição a nível global.

Sei-o com conhecimento de causa pelos 10 anos de envolvência e em que seis deles tiveram influência direta da minha parte em determinado conteúdo, nomeadamente, como não podia deixar de ser, com cariz legal.

Numa lógica de relação de grupo e pela receita anual que gera, faria sentido que esta empresa gozasse de melhores condições ao nível de número de trabalhadores e respetiva atualização salarial (incluindo para colmatar saídas de valor humano-profissional elevado e para evitar com que os internos tenham que se tornar multidisciplinares para lhes serem assacadas diferentes capacidades de resposta e sustentar um padrão de mínimos sem excelência), as instalações deveriam comportar uma redação maior com melhores condições físicas, bem como o software de edição carece de atualização imediata.

Não há comunicação sem transparência. O impacto é positivo se os sócios virem que é bem feito, mesmo quando o resultado final não seja o esperado.

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