Bruno Pacheco
Antes de falar do Bruno, recuemos até 10 de Março, dia do Dragões Sandinenses-Gulpilhares. O jogo ficou marcado por momentos inenarráveis que envolveram jogadores das duas equipas, após o apito final. As imagens foram difundidas pel’ O Gaiense.
Na ressaca, o discurso do costume: uns a apontarem o dedo aos outros, centrando a discussão nas futilidades que ninguém quer saber.
O que qualquer pessoa sensata sabe é que bater é crime, portanto quem bate é criminoso. A ofensa está prevista no Código Penal e isso é claro, objetivo e factual. O desporto é uma escola de virtudes que tem obrigação de ser servida por gente responsável. Não é nem pode ser um espaço que justifique o emergir de delinquentes que não sabem perder nem aceitar as vicissitudes do jogo.
Voltemos ao Bruno Pacheco. O lateral foi a vítima mais visível daquela tarde inesquecível.
Horas depois das agressões de que foi alvo, sentiu-se mal e foi levado para o Hospital de Sto. António. Mandaram-no ficar em repouso, em casa. No dia seguinte piorou. Deixou de ter sensibilidade à esquerda e desmaiou. Foi de novo para o hospital, onde lhe diagnosticaram traumatismo craniano com obstrução de uma veia. Concluiu-se que, algures nesse período, sofreu um AVC!
Seguem-se tempos difíceis. Espera-o meses de reabilitação específica, na esperança que recupere na totalidade. Passados 15 dias, o Bruno ainda não se equilibra sozinho, perdeu capacidade de visão num olho e tem dificuldade em falar. Para ele, há uma diferença significativa entre o antes e o depois do jogo. Daquele jogo.
Assim por alto, ocorrem-me algumas perguntas: temos todos noção da gravidade do que se passou no dia 10? Quem será responsabilizado? Quando? Como? Quem vai assumir as consequências de tantas sequelas? Quem pode ressarci-las? Como? De que forma irão atuar as justiças desportiva e civil perante esta atrocidade? Como tenciona agir a CM Gaia, que dias antes anunciara tolerância zero à violência no desporto do seu concelho? O que vai ser feito para que mais nenhum jogador, treinador, adepto ou árbitro passem por isto, quando estiverem num local destinado à prática desportiva?
Alguém, no seu perfeito juízo, acha normal que algo tão feio tenha acontecido em Portugal? Bem, se calhar até achará. O que aconteceu ao Bruno só surpreende quem não mora neste planeta. O fenómeno da violência (não só no desporto) galopa diariamente, quer na casa do vizinho, quer no campo ao lado. É o maior cancro da atualidade no país. No mesmo país que se diz de brandos costumes.
Não é possível esperar que se consiga erradicar atos como os que vitimaram aquele jovem jogador quando se permite, noutra vertente, que tanta criminoso se passeie pelas ruas, enquanto as suas vítimas são obrigadas a viver escondidas. A viver em pânico. A viver presas.
Para que tudo comece a mudar, é preciso independência e coragem. Coragem para dar um murro na mesa e dizer «chega!». Chega em nome deste Bruno, dos que vieram antes dele e dos que provavelmente virão a seguir.
Um jogador sofreu um AVC depois de ter sido agredido numa partida de futebol e no passa nada?!? Isto nunca mais pode voltar a acontecer. Nunca mais!
O que pode e tem que acontecer é simples: quem bate não pode ser agente desportivo nem entrar em recintos desportivos. Ponto. Quem bate tem que se sentar no banco dos réus e sofrer as consequências dos seus atos. Ponto. Quem não impede que se bata, podendo, tem que ser responsabilizado. Ponto. Quem incentiva à violência tem que ser afastado de vez e punido na justiça civil. Ponto.É isto e só isto.
Assobiamos para o lado, batemos mais palmadinhas nas costas ou assumimos esta frente com caráter, celeridade e sentido de justiça?
PS - Se o Bruno fosse o vosso filho, irmão ou amigo... que justiça gostariam que fosse feita?