Benfica é rei das comissões
Rui Costa, presidente do Benfica (Miguel Nunes/ASF)

Benfica é rei das comissões

OPINIÃO09.04.202409:30

O setor desportivo profissional exige hoje formação adequada

O Benfica não venceu apenas a Liga Portuguesa em 2022/23. Foi coroado também rei das comissões referentes a esta mesma época desportiva conforme atesta a mais recente publicação anual da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) relativamente às transações executadas entre 1 de abril de 2022 e 31 de março de 2023. Trata-se do período que albergou o mercado de verão e de inverno de 2022/23.

A SAD liderada por Rui Costa gastou 33.322.226,85 € (trinta e três milhões, trezentos e vinte e dois mil, duzentos e vinte e seis euros e oitenta e cinco cêntimos).

Convém escrever por extenso para que não haja dúvidas sobre a descrição da cifra e para que se perceba a envergadura do custo e gasto notável (pela negativa) para somente duas janelas de transferências. Como exemplo meramente comparativo para este mesmo período de tempo, a Sporting SAD teve uma despesa de 18.697.805,46 € (dezoito milhões, seiscentos e noventa e sete mil, oitocentos e cinco euros e quarenta e seis cêntimos) e a FC Porto SAD assumiu um custo de 17.428.241,27 € (dezassete milhões, quatrocentos e vinte e oito mil, duzentos e quarenta e um euros e vinte e sete cêntimos).

Contas feitas, Sporting e FC Porto juntos gastaram apenas mais 2.804.819,88 € que a Benfica SAD. Não se consegue fugir à evidência de que parece fazer todo o sentido para Rui Costa continuar aquele que foi o legado mercantil de Vieira. Ou seja, pagando principescamente a alguns agentes de futebol e respetivas empresas (em 17 operações da Gestifute, 10 são com o SLB) e fazendo com que estes se mantenham motivados a continuar a trabalhar em seu prol.

A façanha repetiu a época 2021/22 cuja abertura ficou marcada pela detenção de Luís Filipe Vieira. O Benfica conseguiu gastar nesta também mais do que os seus rivais ainda que em menor escala: 19.632.009,00 € por comparação a 14.511.091,50 € do FC Porto e 5.205.378,40 € do Sporting.

Talvez o modus operandi de Rui Costa se justifique por ter sido aquela a sua única escola de formação em gestão e administração que teve desde a época 2008/09. Não é de criticar. É a vida.

Ainda que não se possa ter memória curta para o facto de Vieira ter que ser sempre responsabilizado por ter depositado a função de diretor desportivo de uma verdadeira multinacional num Rui Costa altamente impreparado e que acabara de fechar o seu ciclo futebolístico. Numa estrutura profissional que se preze aos dias de hoje com uma liderança obrigatoriamente servidora, não há nome ou figura que valha, que deva prevalecer ou relevar por mais que seja forte a nível público ou querida pelo passado agregado ao clube. Por mais que a paixão e irracionalidade estejam sempre presentes e ditem (mais do que deviam) determinadas decisões, o setor desportivo profissional exige hoje, necessária e minimamente, formação adequada, experiência relevante e dedicação. E acima de tudo, ao contrário do que muitos possam pensar ou ou sequer considerar, sensibilidade. É este o ingrediente essencial que permitirá alcançar a tão almejada antecipação transversal a todos os níveis. Quer perante os seus concorrentes, quer em termos de posicionamento e estratégia global do próprio mercado onde se encontra inserida (receitas, patrocinadores, parceiros, Liga e Federação, entre outros). Há que atuar com delicadeza em determinados dossiers. Como, por exemplo, atualizar planos de carreiras e respetivas políticas de remunerações dos seus trabalhadores in house.

Como se sentirão estes a olhar para gastos operacionais como o fornecimento e serviços externos (despesas externas à organização) a disparar nos relatórios de contas da SAD benfiquista de ano para ano quando a sua base salarial se encontra estagnada a par do seu futuro em termos de progressão na carreira? Mais de 50% destes trabalhadores devem situar-se num escalão remuneratório entre salário mínimo nacional e 1000 € e uma parca percentagem deles acima deste valor mensal até aos 2000 € líquidos.

Isto para nem falar do ridículo que é um administrador executivo da SAD que desempenha ao mesmo tempo o cargo de diretor no Clube não poder ser remunerado. Espero que tais administradores integrem agregado familiar onde são os seus cônjuges a meter o pão e leite na mesa em casa, tal é o pro bono praticado.

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