As grandes vitórias

OPINIÃO17.03.202205:55

Harmonizar sem fanatismos e com ‘fair-play’. Aprofundar e qualificar o futebol jovem sempre com valores humanos

DESUMANIDADE: corrupção, fanatismo e prepotência. Esses são adversários para derrotar completamente. Não basta ter milhões para se fazerem campeões. Quando um processo de crescimento não cumpre regras elementares o descalabro aproxima-se a grande velocidade. Quem permite a poderosos comportamentos diferentes só está a adiar a tragédia iminente. O futebol, na última década, tem sofrido alterações profundas e envolvimento de muitos milhões de euros, com origens diversas e nem sempre transparentes. As fontes de financiamento descaracterizaram-se e, eventualmente, com influência decisiva. O que era conhecido passou a ser um conjunto de dúvidas, sempre por esclarecer.

Vemos presidentes e donos de clubes como figuras centrais e os génios como assalariados muito bem pagos, apenas isso e outras equipas com enormes desequilíbrios. Atinge-se um ponto de não retorno e o futebol terá de se defender com a velocidade possível. São múltiplos os sinais de inquietação e desmoronamento do jogo como o conhecemos. As derrotas inesperadas, em equipas muito caras, provocam desequilíbrios, ameaças, invasões de balneário e uma frustração inesperada para quem se julga com direito a vencer. Foi assim em Madrid, com a reação do presidente do PSG.

Afinal não basta Messi e outros craques, é preciso marcar golos e Benzema, com três, decidiu o apuramento. Após o jogo voltaram as suspeições sobre os Mundiais de 2021 e 2030… Não bastam salários imensos: é preciso identidade de equipa.

Após a invasão da Ucrânia pela Rússia perduram as incertezas, a guerra e o enorme sofrimento das populações, com número muito elevado de refugiados que partem para outros países. A situação coloca novas interrogações ao futuro da Humanidade. No futebol inglês, os patrocinadores do Chelsea decidem sanções aplicadas a Abramovich, magnata russo e líder do clube: há muitas dúvidas financeiras. Esses patrocinadores contribuíam, em cada época, com várias dezenas de milhões de euros para o Chelsea. Está em causa o fim do patrocínio referente a várias marcas, por não aceitarem estar associadas à influência russa. Por outro lado o governo do Reino Unido decidiu o congelamento do património desse oligarca, como sequência natural e retaliação da guerra na Ucrânia. Abramovich (com os bens congelados e desqualificado como diretor pela Liga inglesa) está impedido de vender o Chelsea e o clube impedido de vender bilhetes e negociar jogadores. O rabino do Porto que validou a naturalização de Abramovich foi detido  (com termo de identidade e residência), com suspeição de falsos certificados de descendentes sefarditas, associação criminosa, corrupção, branqueamento de capitais, fraude fiscal e tráfico de influências. São estas dúvidas e inquietações que destroem os valores que se devem manter: verdade, saber ganhar e saber perder.

As grandes marcas que patrocinavam o Chelsea estão a decidir o final do acordo, em função da proximidade com o presidente da Rússia e a sponsorização deve perder cerca de 130,4 milhões de euros por época. Entretanto, a Europa voltou a mergulhar num caos que não se julgava possível repetir.

A guerra tem efeitos catastróficos e um sofrimento inacreditável nas populações e nos refugiados. Pensávamos nunca mais ver isto acontecer. A destruição das cidades, a morte das pessoas e o colapso da justiça criam um tempo inaceitável e ainda um sofrimento generalizado. Se a guerra parar, se houver condições para a recuperação das cidades e aldeias, o desporto, em particular o futebol, como linguagem única universal, pode contribuir para momentos de reconstrução.

Nada mais semelhante à solidariedade como um jogo de futebol. Numa análise integrada da situação que vivemos, com blocos políticos a defender posições antagónicas, esquecendo o essencial (as pessoas), faltam árbitros/diplomatas decididos e competentes, com dimensão humana. Vencer a corrupção, o ódio, a ignorância e a prepotência são sempre as melhores orientações táticas para fortalecer a justiça com inteligência. As loucuras contratuais não deveriam ter sido concretizadas sem investigação rigorosa. Investimentos muito elevados sem controlo algum, facilitando a corrupção. Dirigentes não devem poder sair de um clube sem apresentar contas certas, sob pena de sanções judiciais e desportivas. O futebol, como a Festa Mágica dos Tempos Modernos, tem de preservar o exemplo de união, de tolerância e convívio, valorizando quem compete, sabendo aplaudir quem venceu e apoiar quem perdeu. Uma palavra para os árbitros de futebol: assumam livremente a responsabilidade de dirigir os jogos, com total liberdade e sem pressões seja de quem for. As Federações e as Ligas Profissionais têm a última palavra. UEFA, FIFA e outras entidades continentais que não se esqueçam de que estão a servir o futebol e nunca a servirem-se dele.

Harmonizar sem fanatismos e com fair-play. Aprofundar e qualificar o futebol jovem sempre com valores humanos.

Se as guerras são o que se sabe, os comentadores de futebol poderiam aprender a abordar as questões de forma pedagógica. Se puderem, expliquem o jogo pelo jogo e sugiram como se poderia ter resolvido determinada situação estratégica. Não semeiem ventos que criam tempestades tendenciosas. Tentem fazê-lo antes de serem substituídos pela Inteligência Artificial, com sentido e sem fanatismo. A decisão tem de ser tomada, com razão e saber.

O mundo é composto de mudanças. Como oposição à ideia da FIFA, de um Mundial bienal, a UEFA mantém contactos para integrar na Liga das Nações outras seleções (Uruguai, Brasil, Argentina …), porque poderão permitir jogos de grande qualidade e de globalização. A UEFA e a FIFA mantêm diálogo sobre essa possibilidade. Recorde-se que a UEFA anulou contrato com a empresa russa Gazprom que tinha o valor comercial de 150 milhões de euros, por coerência com os efeitos da crise humanitária. Por outro lado, FC Porto, Sporting e Santa Clara regularizaram a situação perante a UEFA, evitando exclusão das provas europeias. E assim, até 31 de janeiro passado, provaram não ter dívidas no prazo estipulado. Até os critérios e modelo de atribuição da Bola de Ouro mudaram, englobando a época desportiva e não o ano civil, assim como a criação de um júri restrito, com critérios mais claros, com adequada pré-seleção, que a France Football definiu, na senda das inevitáveis mudanças, rumo a um aperfeiçoamento com os sinais do tempo. 
 

Sanções a Abramovich afetam também o quotidiano do Chelsea


DESTAQUES DA JORNADA 

Oempate do Vizela na Luz. O Belenenses SAD conseguiu travar o Boavista. Gil Vicente foi vencer em Braga. O Sporting ganhou em casa do Moreirense. Vitória do FC Porto sobre o Tondela, por margem dilatada. O Benfica no Estádio Johan Cruyff Arena, em Amesterdão, fechou espaços, jogou coeso e no final marcou golo da vitória ao Ajax (que se revelou sem chama, nem objetividade), apurando-se para os quartos de final da Champions (na Luz, tinham empatado a 2 golos).  
 

REMATE FINAL 

– Foram inúmeras as manifestações de apoio aos refugiados causados pela invasão da Ucrânia pela Rússia, entre os quais também os clubes portugueses que, além de donativos, juntaram solidariamente material diverso para as vítimas dessa guerra. Portugal orgulha-nos sempre em termos de abertura e recolhimento de quem sofre com a guerra.

– O convite do presidente do Real Madrid aos familiares de Mbappé, no jogo em que os madrilenos eliminaram o PSG da Champions, é mais um sinal de que o jovem jogador do PSG poderá estar a caminho do Real Madrid, como já tinha afirmado, antecipadamente, Florentino Pérez.

– O Clube Jovem Almeida Garrett, de Vila Nova de Gaia, foi fundado em 21/02/1987 e dedica-se exclusivamente ao andebol feminino, em todos os escalões e com duas equipas, com as atletas seniores a disputar a Primeira Divisão, num total de cerca de 155 atletas. Merecem concretizar sonho justo: um pavilhão próprio!

– A nossa Liga principal de futebol é uma das que desperdiça mais tempo com paragens, num total de 38 ligas. Portugal ocupa o lamentável primeiro lugar entre várias Ligas, com mais tempo de paragem do jogo: um total de 16’ e 06’; 30,1 como média de faltas por jogo e 32’ como tempo médio, entre o momento da falta e a respetiva marcação. Situação a alterar rapidamente e que depende muito da capacidade de decisão dos árbitros.

– A pergunta de Klopp: vocês importaram-se quando Abramovich comprou o Chelsea?