Abel à porta da glória
Palmeiras e Santos jogam sábado a final da Libertadores no Maracanã e Abel Ferreira pode tornar-se o segundo treinador português a fazer história no Brasil
A BEL FERREIRA, treinador do Palmeiras, pode cobrir-se de glória no próximo sábado no estádio mais famoso do Mundo: o Maracanã. É ali que se joga a final brasileira da Taça dos Libertadores e Abel, depois de eliminar com alguma felicidade a melhor equipa sul-americana nas meias-finais (o River Plate de Marcelo Gallardo), é pelo menos tão favorito ao triunfo como o Santos de Alexi Stival ‘Cuca’, que chega ao Rio de Janeiro depois de amassar (3-0) outro grande de Buenos Aires - o Boca Juniors. Abel é o segundo treinador português a disputar uma final dos Libertadores (a Champions sul-americana), pouco mais de um ano depois de Jorge Jesus (Flamengo) levantar o caneco em Lima (23 de novembro 2019) após vencer (2-1) com alguma felicidade a melhor equipa sul-americana - sim, o River Plate de Gallardo.
Um eventual triunfo de Abel Ferreira reforçaria, de forma exponencial, a imagem dos treinadores portugueses no mercado brasileiro (e sul-americano, claro) e calaria de vez aqueles que consideram que a campanha flamenguista de Jorge Jesus não foi mais que um epifenómeno. Julgo que Abel tem grandes chances de se tornar no novo herói do Verdão e não é por ser português - por ser competente. Aquilo que ele conseguiu com o mediano plantel do Palmeiras [a anos-luz daquele que Jesus teve no Flamengo] em apenas três meses não é certamente obra do acaso. «O importante é ser capaz de explicar o que se quer aos jogadores. Isso é ser um bom treinador», disse Abel à cadeia ESPN à chegada a São Paulo. Quem viu o vídeo da emocionante palestra do técnico português no balneário antes do jogo com o River em Buenos Aires (sensacional vitória por 3-0), um discurso feito de nervo, garra e paixão, percebe que foi assim, na «raça» (como gostava de dizer Scolari), que o Palmeiras se apurou para a final da Copa do Brasil (com o Grêmio de Renato Gaúcho, a 12 e 18 fevereiro) e da Taça dos Libertadores.
A resistência estoica do Palmeiras ao impressionante massacre do River Plate (2-0) na 2.ª mão da meia-final, em São Paulo, levou a que vários jogadores do Verdão, sobretudo defesas, caíssem no chão exaustos logo após o apito final; e que Abel, numa demonstração pública de desportivismo, elogiasse o treinador rival de maneira pouco usual: «Ele é melhor do que eu». Parece-me que esse jogo, épico pelo que significou de resiliência, combatividade e espírito de corpo, pode servir de cartão de visita do Palmeiras na versão Abel Ferreira. O Santos, onde joga o central benfiquista Lucas Veríssimo, sabe o que o espera no Maracanã. Um onze composto por jovens guerreiros ainda sem grande cartel [e um veterano de muitas batalhas europeias, o avançado Luiz Adriano, 33 anos] disposto a dar um litro e três quartilhos para ganhar a segunda Libertadores para o clube, depois do sucesso de Luiz Felipe Scolari em 1999.
Para Abel, 42 anos, o jogo de sábado é certamente o mais importante da sua curta carreira de treinador. Os últimos cinco meses foram no mínimo trepidantes para ele. Anotem. A 15 de setembro, num jogo único em Salónica, eliminou o Benfica de Jorge Jesus (2-1) na 3.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões. A 30 setembro, caiu no play-off de acesso ao sofrer uma segunda derrota com o Krasnodar (1-2, 1-2). A 29 de outubro deixou o PAOK depois de empatar (0-0) em Granada num jogo da Liga Europa. A 3 de novembro foi apresentado como treinador do Palmeiras e disse isto: «Não vim passar férias. Vim para trabalhar e ganhar».
Está perto.
Termine-se com o nome dos cinco treinadores portugueses que [além de Abel] que disputaram finais de Champions - por ordem: Artur Jorge, Toni, Manuel José (cinco), José Mourinho (duas) e Jorge Jesus - sem esquecer que Jesus ainda jogou uma final no Mundial de Clubes da Fifa (2019). Nas seleções, lembrem-se as finais vitoriosas de Fernando Santos no Europeu (2016) e na Liga das Nações (2019) e a de Nelo Vingada com a Arábia Saudita na Taça da Ásia (1996).
Boa sorte, Abel Ferreira.
F OI o que o líder mostrou no escalavrado relvado do Bessa depois de dois jogos muito duros (e duas vitórias) perante adversários de grande exigência (FC Porto e Braga). Domínio absoluto na 1.ª parte, confirmação de superioridade na segunda com um fantástico golo de Pedro Porro e uma demonstração de futebol solidário e consistente do ponto de vista defensivo - os leões são, de longe, a equipa que melhor defende no campeonato. Mesmo sem Palhinha, é um Sporting moralizado aquele que vai receber o Benfica com seis pontos de vantagem. O Braga, menos convincente, venceu o dérbi com o Gil Vicente (o golo nasceu de uma notável movimentação coletiva) e não desperdiçou a oportunidade de se aproximar do 3.º lugar e pressionar o Benfica.
O FC Porto mostrou caráter em Faro. Tanto que até Pepe se pegou de forma grosseira com o colega Loum (!!!) - sim, nem tudo o que cabe na definição de «jogar à Porto» é aceitável. Facto é que dificilmente Sérgio Conceição está mais de dois jogos sem ganhar. Já o Benfica vai em três (!!!), depois da esplêndida atuação no Dragão (1-1), onde mostrou tudo o que lhe tem faltado nesta época (não se percebe porquê): atitude, foco, energia, intensidade, compromisso. A pandemia atingiu fortemente o plantel do Benfica, mas a resposta à contrariedade não tem sido animadora num clube que reclama ter forte estrutura: a equipa fez muito pouco com o Nacional e Jesus apareceu de braços caídos na conferência de Imprensa pós-jogo, contrastando com o modo mais confiante e positivo de outros treinadores (Rúben, Sérgio, Carvalhal…) em circunstâncias semelhantes - sim, que os males da pandemia não afetam somente o Benfica…