A pressão sobre Schmidt
Impossível não reparar como Roger Schmidt parece estar a sentir o peso da exigência
Roger Schmidt deve saber que a cama que fizer é aquela onde se deitará. Pode até pensar que não será fácil ao Benfica repetir o magnífico percurso da última época, mas não deve dizê-lo. No Benfica, ou noutro qualquer grande clube, o que lhe exigem, no mínimo, é que faça igual. Fazer igual é voltar a ser campeão. Mas o que se espera de um treinador é que manifeste sempre o desejo de fazer mais. E fazer melhor.
Não é Schmidt obrigado a consegui-lo, nenhum treinador o é. Mas tem obrigação de tentar, porque é para isso que o clube lhe paga. E tem a obrigação de levar os jogadores e os adeptos a acreditar que é possível fazer mais.
Fazer mais do que na última época, note-se, é ganhar mais alguma coisa, além do campeonato: a Taça de Portugal ou a Taça da Liga, por exemplo. Não será fácil? Claro que não será fácil. Mas alguma vez é fácil?
Ao afirmar, porém, que será muito difícil repetir o que foi feito, à partida Roger Schmidt parece limitar a ambição da equipa e a esperança dos adeptos, o que não lhe fica bem, nem a ele nem a nenhum treinador.
Ganhar (sabem-no todos os que vivem na alta competição) é sempre difícil. Muito difícil, e todos o compreendem. Mas não é esse o objetivo da alta competição? E não é ganhar e conquistar títulos o objetivo principal dos que têm melhores condições e, no caso do futebol, melhores jogadores?
Admito que Roger Schmidt tenha, involuntariamente, metido um bocadinho os pés pelas mãos na ânsia de explicar que vai talvez demorar um pouco mais a estabilizar um onze que, ao contrário do passado recente, tem mudado muito mais vezes do que se previa.
Recordo, aliás, e aqui o deixei escrito, que o onze do Benfica que se apresentou no jogo com o Inter tinha apenas três titulares (apenas três!!! Otamendi, Aursnes e Rafa) do onze do Benfica que defrontou o Inter em abril, também em Milão. E só passaram cinco meses.
Por outro lado, talvez Roger Schmidt esteja, de algum modo, a acusar a pressão de ter mais e melhores soluções no plantel e ainda não conseguir ter melhor equipa, nem melhor futebol, nem melhores resultados, e sob essa pressão é possível que Roger Schmidt faça declarações menos refletidas e bastante mais desajustadas.
Claro que Roger Schmidt quer vencer, quer fazer bem o trabalho e quer que a equipa jogue melhor. Como diz Pep Guardiola, também eu nunca conheci um treinador ou jogador que não quisesse ganhar.
Talvez, repito, por se sentir mais pressionado, Roger Schmidt teve realmente a arrogância de considerar, no fim do jogo com o Estoril , que não importa como se ganha, o que importa é ganhar.
É difícil acreditar que Schmidt defenda intrinsecamente isso, porque ele sabe - e mostrou-o na última época - como é importante jogar bem e agradar aos adeptos e sabe que jogando bem as equipas estão sempre mais perto de ganhar, o que não quer dizer, evidentemente, que seja preciso jogar sempre bem para se vencer.
O que Roger Schmidt também sabe (como o sabem todos os treinadores), apesar de não o ter sabido transmitir, é a importância de se ganhar sobretudo quando não se consegue jogar bem. O que é bem diferente.
A questão não é, pois, a de o Benfica ter jogado menos bem e sentido tanta dificuldade para bater o Estoril. O problema é Schmidt quase ter achado o contrário. Até esta paragem, aliás, o que se tem visto na Liga é, na grande maioria das vezes, as principais equipas conseguirem vencer com muita dificuldade. Tal como o Benfica, também o FC Porto, Sporting e SC Braga. Nenhuma é exceção.
O que me parece, por outro lado, e não é de agora, por muitas competências que tenha (e tem, seguramente), é que Schmidt mostra demasiadas vezes dificuldade em mexer com o jogo sempre que o jogo lhe coloca mais problemas do que o esperado. Foi, mais uma vez, o caso do jogo com o Estoril.
Pode o treinador do Benfica ver a coisa de outro modo, pois pode.
Mas, no mínimo, é aconselhável que saiba reconhecer quando está mal. Só lhe fica bem!