Sinais de protagonismo

OPINIÃO07.03.202305:30

Domingos Soares Oliveira tem sido o alvo predileto de grupos e movimentos de duvidosas intenções, com a tácita conivência de diretores eleitos

SE o lance  em que interveio o jogador Ivo Rodrigues no Benfica-Famalicão «não é penálti, então só quando o jogador agarrar na bola e a levar para casa é que é», escreveu um leitor, incrédulo com a inação do VAR Vasco Santos, da AF Porto, e que o antigo árbitro Duarte Gomes classificou como inaceitável.
 
É evidente que foi inaceitável e, no período de meia dúzia jornadas, Artur Soares Dias esteve no olho de furação em  dois casos que prejudicaram o emblema da águia, embora, do meu ponto de vista, em ambos nenhuma responsabilidade lhe deva ser endereçada, apesar de ser conhecida a sua relação difícil com a família benfiquista. Desta vez, na opinião de Duarte Gomes, não pôde seguir a jogada com nitidez, mas «o seu videoárbitro  estava obrigado a indicar que o lance era passível de penálti». Por que razão não o fez  só o visado poderá explicar, talvez por inépcia, quero acreditar, e não motivado por mais um daqueles impulsos pecaminosos que ao longo dos anos têm ajudado a amparar quem agora tanto se lamenta, o senhor PC.  

«Acabem com o VAR», proclamou, logo a seguir ao FC Porto ser derrotado pelo Gil Vicente, num jogo em que o VAR (Tiago Martins) realizou bom trabalho e só não recebeu a classificação de excelente por se ter revelado benevolente com Pepe, perdoando-lhe um cartão vermelho em «entrada de perna esticada, com sola, sobre a perna do adversário». 

Foi este VAR, coordenado por Tiago Martins, que, no recente dérbi da Luz, obrigou Artur Soares Dias a um diálogo enigmático e demorado e  do qual terá resultado a marcação daquele penálti à Paulinho que, na presumível ideia do árbitro portuense, à luz do que se pratica nos principais palcos europeus, seria para seguir jogo. Um mistério que o Conselho da Arbitragem da FPF guardou a sete chaves.
 

FOI por causa  desse mesmo VAR que Pinto da Costa se exaltou. O senhor PC não apreciou o seu bom desempenho no FC Porto-Gil Vicente e, ao reagir como reagiu, revelou ver os jogos unicamente com o olho que lhe interessa, a ele e à sua equipa. O que o outro alcança é para esconder debaixo do tapete. 

Rui Costa, por seu lado, sentiu-se enganado em duas situações, na Luz e em Braga, pelo mesmo ator, na dupla função de VAR e de árbitro, não conteve a sua indignação e foi punido. É o preço a pagar por quem quer andar direito.
 

ARTUR SOARES DIAS é o melhor árbitro português em atividade e não se desgasta com insignificâncias. Tem muita experiência e já atingiu um estatuto suficientemente elevado para saber como se faz uma malandrice, sem gerar celeuma. Nos primeiros anos de profissão recordo as palavras de um prestigiado dirigente que me explicou que a diferença entre os maus e os bons árbitros nota-se pelos pormenores: os primeiros cometem erros grosseiros, os segundos não se comprometem. 

Quando se vê um árbitro marcar faltas insignificantes a meio-campo é para desconfiar, por ser  aí, numa zona a que se liga pouco, que começa a partir-se uma equipa e a não deixá-la atacar. «Se vocês [jornalistas] escrevem que o árbitro realizou  um bom trabalho, apesar de pequenos erros a meio-campo sem influência no jogo, desconfio»,  dizia essa personalidade. 

Nunca me esqueci dessas recomendações e, devido a elas, continuo a ficar desconfiado com os  ingénuos reparos que o senhor PC, de vez em quando, resolve fazer à confraria do apito, como este «Acabem com o VAR!».

Se ele sabe que o VAR não vai acabar então por que terá produzido afirmação tão descabida?  Descabida foi, sem dúvida, mas teve o objetivo de provocar um quadro de barafunda de modo a desviar as atenções do que não lhe interessava  e, ao mesmo tempo, emitir um aviso à navegação que já não produzirá o efeito de antigamente, mas os hábitos do passado não se perdem, procuram adaptar-se aos novos tempos.
 

RESPALDADA na grandeza da instituição e nos seus valores democráticos, há gente no Benfica que gosta de se insinuar, dizer mal e assumir-se como uma espécie de alternativa que cheira a esturro à distância.

Rui Costa sabe que a sua  base de sustentação está representada no sócio anónimo, a força e a alma do clube, que sofre e apenas quer paz e união na família para conquistar títulos e, mais logo, por exemplo, festejar a passagem aos quartos de final da Liga dos Campeões. Há quem não pense assim, porém, e se aproveite do ciclo favorável que a águia  atravessa para, à boleia do sucesso, espalhar o mexerico e a discórdia.  

Domingos Soares Oliveira tem sido o alvo predileto de grupos e movimentos de duvidosas intenções, com a tácita conivência de diretores eleitos, e disso têm feito notícia, o que vai obrigar o presidente a tomar medidas e, porventura, fazer substituições antes que tentem substituí-lo a ele. O verdadeiro benfiquista não permitiria, mas estes sinais de protagonismo irritante provocam mal-estar e devem incomodar quem vê a sua autoridade minada em surdina e colocada em causa no espaço público.