Râguebi «Sentimos o Mundial aproximar»
Jogadores e selecionador afastam a palavra pressão. Portugal está preparado para o ambiente de Campeonato do Mundo. Maior evento da vida dos 33 lobos.
«Estamos a descobrir o Mundial, um novo hotel, a atmosfera é diferente, há muita coisa que não estamos habituados e é diverso o râguebi internacional do que vivemos ao nosso nível. É novo para todos», exclamou o selecionador Patrice Lagisquet durante a conferência de imprensa que decorreu no Parc du Sport, em Perpignan, centro de treinos da Seleção Nacional de râguebi, cidade dos Pirenéus Orientais franceses que serve de quartel-general aos lobos durante o campeonato do mundo de França que arranca no próximo dia 8.
«Na próxima semana estaremos completamente diferentes, mas o meu objetivo é colocá-los [jogadores] ao máximo nesta semana para ter a certeza de que estão preparados para o Mundial e não vão ser surpreendidos por este ambiente».
«Quando entrarmos no estádio em Nice [dia 16, diante o País de Gales] perante uma atmosfera 40 mil pessoas, quando descobrimos isso como jogadores, que é diferente e não sabemos como reagir, não quero que fiquem surpreendidos. Quero que toda a equipa saiba o que vamos enfrentar», explicou ainda durante a tarde desta terça-feira que ficará marcada na memória coletiva desta Seleção [primeira conferência de imprensa], um dia depois de fazerem o check in no hotel Villa Dufflot.
Passado o período de preparação mais exigente do ponto físico (estágios no CAR Jamor, Algarve e Pirenéus), nas vésperas do arranque do França 2023 o plano é agora outro.
«A anteceder esta fase tivemos uma tareia física, agora temos três treinos por semana e há tempo para recuperar. Devem sentir-se melhor no final desta semana. E quando mentalmente conseguimos comandar a força física, somos mais competitivos. Sinto confiança e que estão concentrados nos objetivos», reforçou.
No Mundial em França, país de nascimento de Patrice Lagisquet e onde mora uma vasta diáspora portuguesa, o timoneiro dos lobos quer conquistar outros apoiantes. «Se jogarmos ao melhor nível as pessoas apreciarão e apoiarão esta equipa. Acho que todos vão apoiar esta equipa porque gostam como joga e como se compromete com o jogo. Os meus jogadores têm essa capacidade», atestou.
«Ponho pressão nas sessões para terem esse hábito»
No segundo mundial da história do râguebi português e na primeira participação dos 33 convocados, a palavra «pressão» foi abordada pelo selecionador e jogadores.
«Temos de ter uma alta exigência até ao jogo. Para alguns jogadores, sei que vários gostam de sentir pressão, mas há outros que não sentem o mesmo e não quero que sintam a pressão. Ponho pressão nas sessões para terem esse hábito. Mas é diferente um treinador gritar nos treinos da atmosfera de 40 mil pessoas a gritar no estádio», comparou Lagisquet.
Tomás Appleton pegou na bola e continuou. «Sentimos o Mundial aproximar. A pressão vai influenciar, mas terá a ver a forma como lidar com ela. Haverá frustração de ficar de fora [os não convocados para cada uma das quatro partidas], mas a equipa está confiante, chegou a altura de aproveitar, agora é que vale a pena», sublinhou o capitão dos lobos.
«40 mil pessoas pode ser um choque, mas não vai influenciar. Tudo à volta se apaga quando entrar em campo. Se queremos jogar a este nível não podemos deixar que estas coisas nos afetem”, frisou o jogador mais internacional da comitiva [62 internacionalizações].
Rodrigo Marta, melhor marcador de ensaios (28) de Portugal, emigrante em França (Colomier, Pro 2), afasta eventuais constrangimentos emocionais. «Lido bem com a pressão, gosto de ter pressão, leva-me a fazer boas coisas no campo», sustentou.
«A preparação é importantíssima, mas o que me deixa mais excitado são os jogos», sorriu o jogador que promete tentar marcar «um ensaio em cada jogo».
Portugal é um outsider na competição da bola oval, mas o capitão dos lobos não se amedronta. «Queremos mais do que estar aqui. Sabemos qual a nossa posição e se olharmos para o ranking [Portugal é 16.º] podemos não ser favoritos em nenhum jogo, mas não é nisso que estamos focados, mais sim em mostrar um râguebi que apaixone as pessoas, que andem atrás de nós e no final do dia queremos resultados positivos e competir com qualquer equipa independentemente dos lugares do ranking».
«Comecei a jogar râguebi por causa do Mundial 2007»
José Madeira, 22 anos, um dos lobos mais novos, nasceu, tal como Marta, no boom do Mundial França 2007 e não esqueceu esta data histórica para o râguebi nacional. «Estar aqui diz-nos muito a todos nós e em especial a mim. Comecei a jogar râguebi por causa do Mundial 2007, espero que a nossa presença inspire a próxima geração», disse José Madeira, (joga no Grenoble, Pro 2). «Não me sinto assustado, mas entusiasmo», frisou.
Mike Tadjer e Vicent Pinto, respetivamente, veterano (10 anos de seleção) e um dos jovens nascidos em França que recentemente optou pela nacionalidade portuguesa completaram o leque de entrevistados pelos jornalistas. Pinto não escondeu as emoções vividas. «Para nós é uma oportunidade e vamos seguir jogo após jogo. É o melhor momento na minha vida», disse.
Tadjer, veterano jogador nascido em França, mas de nacionalidade portuguesa, não esquece as raízes lusas. «Temos uma grande comunidade portuguesa e muito apoio o que é uma vantagem. Recebo mensagens de muitos portugueses, precisamos de sentir que estão connosco», desejou.
Apoios à parte, virou as atenções para o que se irá passar em campo. «Teremos de estar focados e cuidar de nós. Haverá muito barulho, mas se sentirmos medo é melhor não jogar o jogo», aconselhou.
«É o maior evento das nossas vidas e da minha carreira. Temos de fazer tudo pelo Mundial e mostrar o râguebi português ao mundo e que mesmo que não ganhemos todos os jogos, mostrar que podemos jogar bem, por nós e pelo nosso país. Temos de estar orgulhosos de estar aqui», finalizou.