Nem ‘cabeçudos’ nem ‘parolos’: agora são convidados de honra
Paulo Jorge Pereira, selecionador de andebol (Miguel Nunes/ASF)

Nem ‘cabeçudos’ nem ‘parolos’: agora são convidados de honra

ANDEBOL03.01.202422:00

Sete anos após a estreia de Paulo Jorge Pereira, na Alemanha, Portugal volta com outro estatuto; Seleção disputa dois particulares com a anfitriã do Europeu

«Se há seis ou sete anos alguém nos dissesse que a Alemanha nos ia convidar para fazer dois jogos de preparação para o Europeu que eles vão organizar, ninguém acreditaria. Portanto é sinal que alcançámos um certo estatuto.»

Aceitamos o desafio lançado por Paulo Jorge Pereira em conversa com A BOLA para retroceder no tempo, recuando uns meses mais do que os sete anos referidos pelo selecionador de andebol.

2 de novembro de 2016.

Parece que já foi noutra vida que Portugal iniciou a qualificação para o Euro 2018 com uma derrota por 11 golos (35-24) na Alemanha, num jogo que marcou a estreia de Paulo Jorge Pereira à frente da Seleção.

Desde então, quase tudo mudou. E aquele foi mesmo o último Europeu falhado pelos Heróis do Mar. Voltando ao jogo disputado em Wetzlar, as palavras do técnico ganham ainda mais força.

Porque o técnico também nunca esqueceu aquela partida. Em 2020, dois meses depois da participação histórica de Portugal no Europeu em que alcançou o 6.º lugar – o melhor de sempre -, numa entrevista, Paulo Jorge Pereira ‘regressou’ a Wetzlar para sublinhar tudo o que o andebol nacional andara desde então, recordando a conversa que teve com os jogadores após o encontro.

«Vocês desculpem lá, mas nós parecíamos uns parolos! A entrar no pavilhão, a olhar para a festa que os alemães faziam. Parecíamos uns autênticos parolos! Eu incluído! As pessoas todas a celebrar e nós a fazermos parte daquilo, tipo os cabeçudos!»

Paulo Jorge Pereira, selecionador de andebol (Miguel Nunes/ASF)

Ora, nem «parolos» nem «cabeçudos». Quando Portugal entrar nesta quinta-feira (15h) na arena de Flensburg para o primeiro de dois particulares com a Alemanha, vai fazê-lo com o estatuto de convidado de honra. Foi frente à Seleção lusa que a Alemanha decidiu fazer os dois últimos testes para uma competição na qual entra com expectativas elevadas.

«O mais difícil vai ser manter o estatuto que construímos, porque cada vez mais, os adversários olham para nós de outra maneira e preparam melhor os jogos para nos defrontarem», acrescentou o selecionador nacional, após a declaração com que abrimos estas linhas.

«Não vamos mostrar tudo nestes jogos»

É, então, em busca de consolidação que Portugal vai entrar no Europeu que inicia frente à Grécia, no dia 11. E as duas partidas frente à Alemanha, segundo o selecionador, não vão ser encarados como teste, mas sim como a continuidade da preparação.

«Eu até preferia ir mais gradualmente [defrontar primeiro uma seleção mais acessível], mas não vou ver estes jogos como um teste, vamos dar tempo a toda a gente nas duas partidas, porque queremos estar em pleno quando iniciarmos o Europeu», nota.

De resto, o líder da Seleção confidencia que vai guardar trunfos que pretende utilizar apenas quando tiver de enfrentar os helénicos, a Rep. Checa e a Dinamarca. «Frente à Alemanha não vamos mostrar tudo, mas vamos trabalhar para consolidar e ver se encaixamos as nossas ideias. Porque todos sabem que a Alemanha é uma seleção fortíssima, que ainda para mais vai jogar em casa», explica.

E se Portugal chega ao Europeu com a ambição de lutar por uma vaga para o torneio pré-olímpico, como o próprio selecionador admite, as aspirações dos germânicos serão mais ambiciosas, ainda que Paulo Jorge Pereira não os coloque no patamar de Dinamarca, França, Espanha ou Suécia, que entram na prova com estatuto de favoritos.

«Não sei se a Alemanha é candidata ao título, mas pode muito bem ser, dependendo de como as coisas correrem. Nestes jogos com eles, só espero que corra tudo bem para as duas as seleções, porque ambas se estão a preparar», finalizou. 

Paulo Jorge Pereira grante que vai guardar trunfos para quando o Europeu começar (Miguel Nunes/ASF)