PARTE 2 - Treinador português, de 37 anos, emigrado há quatro temporadas no basquetebol do norte da Europa conversou com A BOLA sobre o apuramento do Kriol Star para a BAL e de como numa época que, em princípio, iria ser sabática e para estar com os ainda muito jovens filhos, o levou até África e deverá voltar a fazê-lo regressar em 2025 para viver a competição para a qual ajudou a equipa de Cabo Verde a fazer história.
— Pelo basquetebol africano já passaram grandes treinadores portugueses com sucesso continental, como Mário Palma, Luís Magalhães ou Norberto Alves. Do que é que se apercebeu sobre o basquete africano face à realidade europeia que conhecia?
— Que é um basquetebol diferente. Muito mais atlético e físico, de run and gun, do que a vertente tática. Na segunda fase tentamos ir pelo outro caminho. Tínhamos algum atleticismo, mas não ao nível das outras equipas. A maioria dos nossos jogadores, mesmo sendo africanos, têm carreira europeia, por isso procurámos juntar essa experiência para nos diferenciar. Foi esse o caminho que nos deu o bilhete para a BAL.
Neste momento, em conversações porque existe interesse de ambas as partes que eu esteja na BAL. Será um marco no basquetebol africano, trata-se de uma competição enorme.
— O apuramento para a BAL decorreu entre outubro e os primeiros dias de dezembro, mas a competição só começa em abril e o campeonato cabo-verdiano em fevereiro. Foi convidado a manter-se à frente do Kriol Star?
— Sim, e estamos, neste momento, em conversações porque existe interesse de ambas as partes que eu esteja na BAL. Será um marco no basquetebol africano, trata-se de uma competição enorme. Existe, no entanto, um gap entre dezembro e abril, mas permitirá que a equipa se prepare. Teremos de estar juntos, pelo menos um mês, com objetivo absoluto na BAL.
— Que condições é que necessita para aceitar esse convite? Tem a ver com o seu contrato, com uma equipa capaz de competir na BAL?
— Um bocadinho com tudo. Sobretudo queremos ir lá e ser competitivos, olhar para todos com ambição de ganhar. Hoje em dia, é isso que procuro nas minhas equipas. Independentemente dos orçamentos que se tenha, que possamos lutar com os favoritos e pelas vitórias. A BAL é uma competição relativamente curta, mas na qual podemos entrar com ambição se tivermos as pessoas certas no plantel. Dar uma boa imagem e apurarmo-nos para os play-offs. Tentar chegar o mais longe possível.
Não foi por isso que não deixamos de apurar-nos. Acredito que se deveu a termos o grupo certo e que podemos voltar a fazer uma boa campanha.
— E em Cabo Verde há condições para lhe dar o que deseja de forma a conseguir lutar contra os grandes e ricos clubes da África?
— Se calhar não iremos ter um orçamento tão grande como outras potências, mas também temos que nos lembrar que Cabo Verde acabou de disputar o Mundial e, apesar de pequeno, é um país com muito talento no basquetebol. Teremos que agarrar alguns desses jogadores locais com talento e depois, com estrangeiros, completar o que nos falta. Foi assim na qualificação, onde as únicas derrotas que sofremos foi contra clubes que se qualificaram para a BAL, mas que estavam a pagar muito acima daquilo que nós pagavamos. E não foi por isso que não deixamos de apurar-nos. Acredito que se deveu a termos o grupo certo e que podemos voltar a fazer uma boa campanha.
— O seu agente diz que recebeu uma série de pedidos de informações sobre si de clubes da África. Surpreendido?
— Um bocadinho, pela positiva. Foi a minha primeira vez em África agora, quero crer que o que fizemos tenha deixado boa impressão. No entanto, neste momento, o futuro passa por ir à BAL. A não ser que alguma coisa se altere pelo caminho, a ideia geral é essa. De qualquer forma, fico bastante grato por também ter convites de equipas africanas. É um mercado que, se calhar, há um ano não me considerava. É sempre bom ter opções.
PARTE 1 - Treinador português, de 37 anos, emigrado há quatro temporadas no basquetebol do norte da Europa conversou com A BOLA sobre o apuramento do Kriol Star para a BAL e de como numa época que, em princípio, iria ser sabática e para estar com os ainda muito jovens filhos, o levou até África e deverá voltar a fazê-lo regressar em 2025 para viver a competição para a qual ajudou a equipa de Cabo Verde a fazer história.
Nesta altura, olho sobretudo para a carreira e não monetariamente - ainda que considere que uma coisa leva à outra. Tenho 37 anos e, felizmente, já treinei em cinco países, mas ainda estou a pensar muito nas etapas seguintes da carreira. Tenho objetivos pessoais por cumprir.
— Até porque tem dois miúdos pequenos [22 meses e 9 meses], é mais difícil decidir ir treinar uma equipa em África do que no Norte da Europa?
— Seja onde for, se tiver condições para levar a família essa é a primeira opção. Na Europa considero sempre levar a família, para África… neste momento, não. Quando os miúdos são tão pequenos é mais complicado devido às viagens longas, o serviço de saúde… São coisas que, agora, coloco sempre em perspetiva ao receber propostas. Daí no verão não ter aceite algumas. Não queria ir sozinho ou não havia condições para que a família fosse, pelo menos durante algum tempo.
— Quando decidiu apostar numa carreira fora de Portugal, estava longe de pensar que ela passaria por África?
— É verdade. Ainda hoje penso um bocadinho nisso. Foi uma experiência diferente. Ainda estou a vive-la, mas o foco é dar os passos certos na carreira. Tudo que faça sentido estarei disponível, seja em Portugal, no resto da Europa, em África… Se achar que é a etapa seguinte, muito provavelmente aceito e sigo em frente. Nesta altura, olho sobretudo para a carreira e não monetariamente - ainda que considere que uma coisa leva à outra. Tenho 37 anos e, felizmente, já treinei em cinco países, mas ainda estou a pensar muito nas etapas seguintes da carreira. Tenho objetivos pessoais por cumprir.
Treinador português conseguiu colocar uma equipa cabo-verdiana na Basketball Africa League pela primeira vez que um clube deste país entrou na fase de qualificação. Disputou a meia-final da Divisão Este, que em caso de vitória apurava automaticamente, com apenas nove jogadores. Hoje perdeu a final face aos anfitrões do Quénia, mas a felicidade pelo feito não ficou diminuída.
— Um desses passos certos seria voltar a Portugal?
— Claramente. Penso, um dia, em regressar. Até porque vejo aí a minha família a crescer e gosto do país. Sou muito patriota e mantenho-me a acompanhar a Liga, só que, para voltar, desejava que fosse num projeto com ambição, no qual se possa lutar por alguma coisa. Essa será a principal razão para retornar.