Gidsel, o mágico que soube pedir ajuda quando bateu no fundo

ANDEBOL02.01.202516:18

Quando sentiu que o mundo estava a desabar falou dos problemas de saúde mental e foi tratar-se. Agora, a Federação Internacional rendeu-se ao lateral dinamarquês que promete estar no topo da modalidade nos próximos anos.

O andebol mundial perdeu em Paris as duas maiores referências da modalidade dos últimos anos: o francês Nikola Karabatic, 40 anos, e o dinamarquês Mikkel Hansen, 37. Ambos MVP por três vezes, ambos decidiram colocar um ponto final nas suas carreiras nos Jogos Olímpicos. Mas, desengane-se quem pensa que a modalidade não ficará orfã de referências, pois Gidsel, MVP na capital francesa, é um dos novos heróis mundiais. No final de 2024, a Federação Internacional mostrou, em vídeo, as espetaculares jogadas do dinamarquês, de 25 anos.

Mas nem tudo foi fácil na carreira do lateral do Fuchse Berlin, adversário do Sporting na Champions. Estreou-se pela seleção dinamarquesa oito meses antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio, de onde regressou como MVP, segundo melhor marcador (atrás de Hansen) e com a medalha de prata no bolso. Mas mentalmente desfeito.

«Cheguei a um ponto em que não conseguia continuar mais. Ninguém deve sentir pena de mim porque eu tive o melhor mês da minha vida e isso abriu um mundo totalmente novo de possibilidades. Só quero dar dizer que nunca devem ter medo de procurar ajuda», explicou o atleta que começou jogar no Skjern Handbold, antes do GOG ir buscá-lo com 15 anos e passar a viver longe da família, jogando e estudando num centro de treinos.

Sempre a brilhar nas camadas jovens, nas primeiras chamadas à seleção A olhava para os ídolos Hansen e Landin, mas a sua principal tarefa era aquecer os guarda-redes. Até ao dia 7 de novembro de 2020 contra a Finlândia quando se estreou depois de muito trabalho dentro e fora de campo já que teve de ganhar quase quarenta quilos em cinco anos para aguentar o embate internacional. Agarrou a oportunidade e no Mundial do Egito, estreou-se com 10 golos contra o Bahrein. Somaria 39, numa eficácia de 80 %(!) e acabou no All Star, tal como Hansen.

Dois milhões de pessoas passaram a saber quem era a nova estrela dinamarquesa. A imprensa, o stress, as expectativas, dezenas de milhares de novos seguidores nas redes sociais, o novo nível de escrutínio sobre absolutamente tudo o que ele fazia fizeram-no tremer. O que antes era natural, passou a não sair em campo. As palavras: 'Mete no Gidsel que ele resolve' desapareceram e deram lugar ao silêncio desconfiado. Procurou ajuda, empurrado por Hansen e só se arrepende de uma coisa: «Estou muito desiludido por ter demorado dois meses para admitir que tinha um problema. Talvez fosse muito egoísta, talvez porque sentisse que era uma derrota procurar ajuda», revelou. «Só posso recomendar a todos os outros jovens atletas de elite que conversem com profissionais sobre os seus problemas. Isso desenvolveu-me muito num tempo muito curto».

Quando chegou à final dos Jogos em Tóquio, falhou o golo que podia ter dado o ouro aos dinamarqueses, frente à França. Quando lhe perguntaram se sentia responsável respondeu: «Sinto-me orgulhoso por ter assumido a responsabilidade. Era muito mais fácil ter passado ao Hansen». Em Paris 2024, manteve a mentalidade e conquistou o ouro frente à Alemanha na maior goleada de sempre de uma final (???), foi o melhor marcador (62) - recorde - e líder em assistências (39). Na final, marcou 11 golos e fez sete assistências (85% de eficiência). Naturalmente, recebeu o prémio de MVP de Paris 2024.