Está no Mundial, mas admite: «A minha mulher acreditava mais do que eu»
Francisco Bruno (ao centro) estrou-se no Mundial frente à Austrália (IMAGO)
Foto: IMAGO

Está no Mundial, mas admite: «A minha mulher acreditava mais do que eu»

RÂGUEBI04.10.202318:41

Francisco Bruno ultrapassou um longo período de lesões e estreou-se no mundial frente à Austrália

Francisco Bruno estreou-se no campeonato do mundo de râguebi na partida com a Austrália. Ao minuto 55, substituiu David Costa, pilar direito da seleção nacional. Os 33 minutos em campo no Estádio Geoffroy-Guichard, em Saint-Étienne representaram o pináculo da recompensa após uma luta de meses contra uma lesão contraída num jogo da seleção. 

Figura de proa dos Lusitanos, franquia da Federação Portuguesa de Râguebi (FPR) que disputa a Super Cup, competição europeia da Rugby Europe na promoção da modalidade em países em desenvolvimento (Espanha, Geórgia, Roménia, Israel, Alemanha e Países Baixos), Francisco Bruno contraiu uma grave lesão em setembro do ano passado, num encontro com a congénere espanhola, os Iberians. 

«Fui operado em outubro ao ligamento cruzado do joelho, foram sete meses de recuperação. Regressei num jogo com o CDUP (Divisão de Honra), em abril, mas o joelho voltou a inchar e não joguei mais», começou por contar. 

A lesão, a terceira nos últimos quatro anos, afastou-o da convocatória para o torneio final de apuramento para o campeonato do mundo, realizado no Dubai, em novembro do ano passado. «Os últimos quatro anos foram de sobressalto de lesões e não me permitiram ter grande continuidade no râguebi», salientou.

 «No pós-covid estava a ficar na minha melhor forma de sempre e tive o azar em Espanha», lamenta. Um afastamento que o obrigou a pensar e repensar. 

«Foi a terceira lesão e ponderei: já chega é o corpo a falar por mim. Balancei entre os momentos de não querer jogar e o “vamos lá mais uma vez, mais uma recuperação”. Foram horas na fisioterapia, duas vezes por dia, e ao sentir o corpo a corresponder pensas que aos 28 anos ainda é um bocado precoce pensar em deixar jogar», revelou, admitindo sorridente: «Ia arrepender-me».

Apesar do sorriso de hoje, Francisco Bruno lembra quão dura foi a recuperação, até pela questão profissional 

«Estava numa fase da vida que a recuperação me limitava no meu emprego. Tive de meter baixa, mas no meu trabalho foram sensíveis. Moramos na margem sul, a minha mulher levava-me a Lisboa, compensava com horas extras, mas foi duro», assume o jogador amador que concilia o râguebi com a profissão de software designer numa instituição bancária.

Embora o Mundial pudesse parecer uma miragem, o jogador diz que se sentiu sempre acompanhado.

«O Luís Pissarra e o Mirra [treinadores-adjuntos] estiveram sempre a par da minha recuperação», revela o lobo pouco utilizado no XV nacional nos tempos mais recentes. 

«Joguei na janela de novembro, com o Canadá (2021) e estive nas convocatórias no arranque do Europe Championhsip, na Roménia e Geórgia, naquele jogo do empate a 25-25», torneio europeu bi-anual (2022-23) que serviu de apuramento para o França 2023.

Com o fim dos campeonatos nacionais em Portugal e França (onde jogam os lobos) surgiu a primeira chamada para os trabalhos da seleção tendo em vista a preparação para o campeonato do mundo: Centro de Alto Rendimento do Jamor (julho), Algarve (agosto) e terminou em França, três estágios e duas reduções do grupo de jogadores.

Para o atleta que tinha sido 25 vezes internacional, a primeira surpresa surgiu com a entrada nos 38 pré-convocados de Portugal. Foi a primeira batalha ganha. 

«Treinava a pensar “vamos lá ver o que isto dar, se conseguir, consegui”. E só ser pré-convocado já foi uma vitória. Foi tudo passo a passo, não esperei que joelho aguentasse tanto nos treinos bi-diários, surpreendeu-me e mostrou do que eu sou capaz», orgulha-se.

Para trás ficou a disputa com um outro pilar, António Prim (esteve na lista dos 38). O benjamim dos lobos, 19 anos, fez toda a caminhada de qualificação incluindo o torneio final de apuramento para o mundial de França, mas ficaria na reserva. 

«Conheço o Prim desde os 12 anos, treinei-o, fiz-lhes mentoria enquanto pilar direito no clube (GD Direito), sub-16 e sub-18 e seniores. É um colega de equipa e amigo», sublinhou, relembrando-o nesta saudável luta pela conquista de um lugar. «Para ser sincero, não acreditava que podia ir ao Mundial. A minha mulher, a Sofia, acreditava mais que eu», remata uma gargalhada.

Francisco Bruno com a seleção de râguebi (Foto: Mariana Lencastre)