«Adoro estes jogadores, nunca os esquecerei»
Lagisquet deixa Seleção e abre nova era do râguebi português (Foto: ABACAPRESS/IMAGO)
Foto: IMAGO

«Adoro estes jogadores, nunca os esquecerei»

RÂGUEBI09.10.202323:48

Lobos sobem a um histórico 13.º lugar do ‘ranking’ após primeira vitória (24-23 às Fiji) num Mundial; Patrice Lagisquet, o selecionador, despede-se e abre uma nova era no râguebi nacional

Portugal despediu-se do Campeonato de Mundo de râguebi debaixo do aplauso e reconhecimento internacional. De forma épica, histórica, num jogo empolgante, o oitavo na soma das duas participações em Mundiais, os 'Lobos' conseguiram a primeira vitória de sempre na competição.

O feito transportou a seleção nacional para 13.ª do ranking mundial, mais alto patamar atingido na hierarquia da World Rugby.

Para a história desta segunda passagem por França ficam igualmente outros registos que serão guardados para memória futura.

O primeiro empate (18-18) frente à Geórgia, desde logo, o primeiro lobo a marcar dois ensaios numa partida (Rafaelle Sorti, o melhor marcador luso de toques de meta, autor de 3) e dois Homens do Jogo escolhidos no XV Nacional, Jerónimo Portela (contra a seleção georgiana) e Nicolas Martins (Fiji).

Terminada a fase de grupos, Martins foi o segundo melhor placador nos 40 jogos realizados e Portela, o 11.º jogador mais utilizado (316 minutos).

Dia 8 de outubro marca também um fim de ciclo e o princípio de outro. O selecionador nacional, Patrice Lagisquet, finda a relação contratual, abandona o cargo que ocupava desde novembro de 2019 e deixa aberto uma nova era no râguebi.

Com Lagisquet saem igualmente os veteranos jogadores que apresentou e recuperou para o XV nacional. O carismático Mike Tadjer, o homem dos pontapés decisivos, Samuel Marques (marcou a penalidade no torneio de apuramento que colocou Portugal em França e foi ele o autor do pontapé de conversão que deu a vitória frente às Fiji), Francisco Fernandes (despediu-se com um ensaio), Anthony Alves, Lionel Campergue e Thibault de Freitas, todos eles lusodescendentes que ajudaram a compor o mosaico da Seleção Nacional composta por uma mistura de jogadores profissionais nascidos em França, mas de nacionalidade portuguesa, jovens emigrantes dos campeonatos nacionais e jogadores amadores que pululam na Divisão de Honra portuguesa.

Após a qualificação no torneio final de apuramento para o Mundial, em novembro do ano passado, no Dubai, Patrice Lagisquet, selecionador nacional, prometeu aprender a falar português para preparar o França 2023. O tempo passou depressa demais e foi em inglês que Lagisquet, de nacionalidade francesa, se despediu dos jogadores que treinou, orientou e privou nos últimos três meses, desde finais de junho, quando reuniu os 38 pré-convocados para atacar o Campeonato do Mundo.

«Adoro estes jogadores e nunca os esquecerei», disse, ao telefone, a A BOLA, diretamente de França, horas depois de um almoço que reuniu a comitiva portuguesa. «Dei as ferramentas a estes jogadores e eles chegaram a um nível, sou honesto, que nunca pensei ou esperei que chegassem durante esta competição», revelou.

O que se assistiu em Nice, Toulouse e Saint-Étienne, não foi, no entanto, fruto do acaso. «Não foi um acidente», salientou. «Foram evoluindo, mostraram capacidade para melhorar e jogar a este nível», registou.

No balanço dos quatros anos em conjunto, Lagisquet não esquece o que aprendeu com os jogadores portugueses. «Aprendi com a sua capacidade de reagir e de arrancar ensaios a partir do nada», confessou a sorrir. «Isto começou no Brasil [digressão ao Brasil e Chile, em novembro de 2019, quando pegou na Seleção] jogo em que Tomás Appleton [capitão dos lobos] e Samuel Bento [juntamente com António Machado Santos e Manuel Picão foram os únicos três lobos que não se estrearam no Mundial] mostraram, logo ali, o ADN do râguebi português, que podem reagir quando menos se espera», relembrou.

Doravante Portugal e os lobos ficarão para sempre no coração de Patrice Lagisquet. «Sem dúvida, ficarei a torcer por esta equipa», assumiu.

O aplauso final do selecionador nacional que se despediu ontem foi para os adeptos portugueses que encheram os estádios gauleses. «Não posso esquecer o público. Foram fantásticos, criaram sempre um apoio e um ambiente incrível à volta da seleção», disse na despedida, sem confirmar que encerra o capítulo do râguebi. «Nos próximos meses, garanto, não haverá râguebi. Há a família, o trabalho e outras coisas, isso é certo. Quando ao depois ... não sei», finalizou.