2024: revolução em curso na seleção de andebol
Paulo Jorge Pereira, selecionador de andebol (MIGUEL NUNES/ASF)

2024: revolução em curso na seleção de andebol

ANDEBOL02.11.202308:30

Portugal vive o melhor período da história e tem vindo a renovar-se; torneio de preparação na Tunísia terá muitas novidades

Janeiro de 2020.

Não foi assim há tanto tempo, mas já se passou tanta coisa desde o regresso da Seleção de andebol a uma grande competição, depois de 14 anos de ausência. 

E não está tudo diferente desde então. Mas já mudou muito. Desde logo, Portugal não voltou a falhar qualquer grande competição. Seguiu-se a participação em dois Mundiais, um Europeu e ainda a inédita presença nos Jogos Olímpicos.

A pouco mais de três meses do arranque do Europeu que se disputa na Alemanha em janeiro, a equipa orientada por Paulo Jorge Pereira inicia hoje a participação no Kempa Trophy, disputado na Tunísia e no qual vai defrontar a Suíça e a Áustria, além do conjunto local.

Na véspera da partida para o norte de África, A BOLA acompanhou o dia de trabalho de um grupo do qual, além do selecionador, sobram apenas sete jogadores que conduziram Portugal ao sexto lugar no tal Europeu de 2020. E que se traduziu no melhor resultado de sempre. 

Mesmo sendo este um torneio de preparação, a renovação dos nomes dos jogadores é indesmentível. Até se tivermos em conta a convocatória para o Mundial que se realizou em janeiro deste ano e da qual saíram oito jogadores.

Em conversa com o nosso jornal, Paulo Jorge Pereira admite que a seleção está a mudar e realça que esse é um processo natural. Em Rio Maior, o técnico trabalhou durante dois dias com um conjunto de atletas com pouco mais de 24 anos de idade média e que conta com a presença de quatro jogadores sub-21 – eram cinco, mas Martim Costa lesionou-se e saiu da lista – que fizeram parte da equipa que no ano passado se sagrou vice-campeã da Europa. E essas não são as únicas novidades.

«Estes são atletas que eu tenho no organigrama no qual vou metendo os jogadores por posto específico, para ter um mapa mental das opções de que dispomos. É uma renovação algo natural», defende, elogiando o trabalho desenvolvido e a integração dos atletas que ainda não são presença tão habitual na Seleção principal.

Paulo Jorge Pereira, selecionador de andebol (MIGUEL NUNES/ASF)

«Fiquei muito satisfeito nestes treinos. Correram muito bem. Têm sido treinos em que trabalhamos bastante porque temos pouco tempo para o fazer e correu lindamente a integração destas caras novas», assegura.

«Normalmente os residentes, aqueles que estão há mais tempo, recebem bem as caras novas. E os novos jogadores vêm muito motivados. Tem corrido mesmo lindamente, tudo como planificámos. Estou muito contente por tê-los aqui», reforça.

Ora, mas porquê tantas mudanças? O técnico detalhou as razões para os nomes que se destacam entre as novidades.

«Tivemos questões mais fortuitas, como foi a lesão do Victor Iturriza e que abriu a possibilidade de termos aqui o [Ricardo] Brandão. Mas ele também já tinha estado connosco na qualificação», lembra, sobre o pivô de 19 anos que está emprestado pelo FC Porto aos espanhóis do Cangas.

«Ele já esteve por aqui, por isso foi-se integrando naturalmente. Não pensamos propriamente nisso [na renovação dos nomes da seleção]. Há muitos fatores que influenciam e às vezes nos obrigam a alterar. Temos esse organigrama, que é um plano com pessoas que podem vir a integrar a seleção principal, e vamos adaptando ao que vai surgindo, tendo em conta momentos de forma, lesões e outros fatores», esclarece.

«Também gostei muito da adaptação do Gonçalo Vieira», enaltece Paulo Jorge Pereira, explicando o processo de chamada do primeira linha do Fenix Toulouse, que se estreou nos trabalhos da Seleção principal, tendo sido chamado à última hora devido à lesão de Martim Costa. 

«Eu vejo cerca de 15 jogos por semana, às vezes mais, para poder seguir todos os jogadores. E eles sabem que eu os sigo porque mando-lhes uma mensagem a dizer qualquer coisa: um ‘jogaste bem’, ‘jogaste mal’. E esse acompanhamento permite-nos estar em dia quando surge algum problema, como aconteceu com o Martim. Rapidamente estabeleci contacto com o Gonçalo e com o treinador dele, que ficou muito contente por ele poder vir, e conseguimos que ele estivesse aqui».

«É um jogador que eu já sigo há algum tempo, de vez em quando falo com ele, e ele sabe que eu o acompanho. Tem estado espetacularmente bem no Toulouse e estou a gostar muito de trabalhar com ele», revelou.

Numa lista de 17 nomes que não integra qualquer jogador do Benfica, é grande o equilíbrio entre jogadores que atuam em Portugal e os que jogam no estrangeiro. São seis os atletas do FC Porto, três do Sporting e os restantes atuam além-fronteiras. Uma opção que o selecionador justifica.

«Há uma série de jogadores que decidiram fazer do andebol uma atividade profissional séria, estão a trabalhar fora do país – claro que em Portugal já se trabalha muito bem -, e temos de dar oportunidade a estes jogadores que assumem o profissionalismo», defende, dando um outro exemplo.

«Temos o caso do Jenilson, que tem estado muito bem no campeonato espanhol. Também é um jogador que temos seguido e com quem eu já tinha falado há uns meses», revela sobre o ponta direita que vai na quarta época a jogar em Espanha, depois de se transferir do Avanca.

Paulo Jorge Pereira, selecionador de andebol (MIGUEL NUNES/ASF)

Bem definido para o técnico de 54 anos está o principal critério para integrar a Seleção: qualidade. Essa é inquestionável.

«Há uma série de jogadores que estão por aí e que podem passar por cá, por diferentes motivos. Mas o motivo principal é que têm qualidade. E qualquer dia podem ficar de forma permanente», finaliza. 

Com pouco tempo para trabalhar… e um «obrigado» a FC Porto e Sporting

Portugal vai ter três jogos em três dias na Tunísia, iniciando hoje a participação no Kempa Trophy frente à Áustria (15.30h). Pela frente, a Seleção terá três adversários que, segundo Paulo Jorge Pereira, vão obrigar… a correr.

«Vão ser três jogos sempre a correr. A Áustria e a Suíça são duas equipas que apostam muito nas transições e contra-golo. E a Tunísia, apesar de correr mais para a frente do que para trás, também vai ser duro. Vamos trabalhar a transição defensiva, que é algo que temos de melhorar se queremos competir a nível internacional», alerta.

Paulo Jorge Pereira, selecionador de andebol, com Kiko Costa (MIGUEL NUNES/ASF)

Nesse sentido, estando previstos três jogos desgastantes, o selecionador revela que vai ter de gerir atletas que chegam a esta fase da época com muitos quilómetros nas pernas. 

«Precisaremos de diferentes formatos para não sobrecarregar muito determinados atletas. Vamos tentar distribuir o tempo de jogo por todos, porque não nos podemos esquecer que eles têm uma sobrecarga de viagens e jogos sistemática. Claro que chegar aqui, mudar o chip e jogar pela Seleção é sempre uma honra, mas ao mesmo tempo é cansativo». 

Sem tempo para treinar além dos dois dias de estágio que o grupo fez em Rio Maior antes de viajar para a Tunísia, o selecionador voltou a reforçar a importância do trabalho que é feito… pelos clubes.

«Temos três treinos para preparar os jogos. Ou seja, não temos muito tempo para trabalhar relações e cooperação nos momentos de transição ofensiva e defensiva. Por isso, dependemos muito daquilo que fazem os clubes e dos formatos em que eles jogam», admite, elogiando por isso o trabalho dos dois únicos clubes lusos representados na convocatória.

«Felizmente que em Portugal, cada vez mais, temos equipas que fazem boas transições. Temos o FC Porto e o Sporting que apostam muito nisso e já marcam vários golos de contra-ataque. Isso para nós é excelente porque recebemos os atletas já preparados para estar a um nível competitivo nessas fases do jogo. Esse trabalho não só nos ajuda muito, como dependemos bastante dele», reconhece o técnico.

Paulo Jorge Pereira, selecionador de andebol (MIGUEL NUNES/ASF)