Como ‘Fenix’, mudou «da noite para o dia» e acendeu a luz da seleção
Gonçalo Vieira num dos primeiros treinos com a seleção A de andebol (Miguel Nunes)

Como ‘Fenix’, mudou «da noite para o dia» e acendeu a luz da seleção

ANDEBOL01.11.202307:30

Gonçalo Vieira foi convocado à última hora devido à lesão de Martim Costa. Estreia-se na seleção principal de andebol, mas é como se estivesse em casa

Aqueles são os primeiros passos entre os ‘crescidos’, mas pouco parece novidade. É ao lado de Luís Frade que Gonçalo Vieira entra no pavilhão de Rio Maior para o treino de conjunto da seleção, já depois de terem passado cerca de uma hora no ginásio.

Apesar de ser apenas o segundo treino do jogador do Toulouse na seleção principal, o ambiente é-lhe muito familiar. E Frade ajuda muito nesse aspeto. Afinal, as carreiras de ambos têm andado de braço dados desde os 16 anos.

Primeiro no Águas Santas, onde cresceram e cimentaram nome no andebol; e depois no Sporting, onde Frade recebeu o amigo um ano depois de ele próprio ter trocado a Maia pelos leões. Um pouco como A BOLA o vê fazer agora na chegada ao segundo treino da seleção comandada por Paulo Jorge Pereira.

Pelo meio de tudo isso, ainda há o Europeu sub-20 em 2018 e mundial sub-21 em 2019, no qual ambos contribuíram para levar Portugal até às meias-finais, em torneios que terminaram com dois quartos lugares.

E é o recuo a esses momentos felizes com a camisola da seleção nacional que ajuda a explicar o à-vontade de Gonçalo Vieira por ali. É que além de Frade, Vieira tem ao lado Leonel Fernandes, Manuel Gaspar e Jenilson Monteiro, todos eles participantes nas duas competições que deixaram Portugal às portas do pódio.

De resto no currículo, Gonçalo Vieira ostenta números de respeito: são 120 golos em 51 internacionalizações de um atleta que passou pelas seleções em todos os escalões. 

Agora segue-se o conjunto principal que amanhã inicia a participação no Kempa Trophy que vai decorrer na Tunísia até domingo. E o agora jogador do Fenix Toulouse nem teve muito tempo para pensar na possibilidade que lhe surgiu de forma algo inesperada.

«Foi tudo muito rápido! Mas as oportunidades quando surgem são para ser agarradas e eu disse logo que sim. E cá estou», explica Gonçalo Vieira que foi convocado à última hora, na véspera da concentração, devido à lesão de Martim Costa.

«É claro que fiquei muito contente pela convocatória. Mas o melhor foi a satisfação que me deu perceber que o trabalho é recompensado e que é preciso ter paciência. Porque as coisas não caem do céu. E esta convocatória é um reconhecimento pelo que tenho feito», orgulha-se.

Agora, resta-lhe aprender o mais rápido possível. A seleção viaja hoje para a Tunísia e amanhã inicia um ciclo de três jogos em três dias. Vale-lhe, claro, estar quase em família.

«O estágio está a correr bem. Este é um grupo muito bom, que tem muita gente que eu já conhecia. Além disso, acompanho sempre os jogos da seleção, por isso não há aqui caras novas. Mas claro que ter pessoas com quem já joguei muitas vezes e com quem o meu jogo encaixa está a ser um ponto muito positivo», descreve.

«Encaixar o jogo». Não é de estranhar a importância que Gonçalo Vieira dá a esse detalhe. É que ele chega à seleção como lateral, mas também central, o jogador que organiza o jogo. E apesar de ter aprendido na escola sobre Vasco da Gama, Gil Eanes ou Fernão Magalhães, não consta que os professores de história tenham referido que esses são também nomes de algumas das movimentações ofensivas da seleção dos Heróis do Mar. 

«Não conhecia as jogadas e não tenho muito tempo para as entender, é verdade», reconhece, sorridente. «Mas pouco a pouco, vou começando a compreender tudo e certamente que vai correr bem», assegura.

A renascer no Fenix Toulouse

A primeira convocatória de Gonçalo Vieira para a seleção surge aos 24 anos. Ele, que como já referido, cresceu no Águas Santas e que aos 21 anos se mudou para o Sporting. Nos leões, então orientados pelo francês Thierry Anti, ficou apenas um ano, seguindo em 2020 para o Fenix Toulouse.

Por lá renasceu mesmo. Mas demorou. Naquele que é um dos melhores campeonatos do mundo, o jovem primeira linha também não se afirmou de imediato e os dois primeiros anos em França foram marcados por alguma intermitência. Mas cumpre já a quarta época no clube e a importância no atual terceiro classificado tem vindo a crescer de forma gradual.

«Está a ser uma experiência muito boa, apesar de os dois primeiros anos não terem sido muito fáceis, porque tive um choque de realidade muito grande. Precisei do meu tempo para me adaptar, mas hoje estou perfeitamente à vontade, tanto no clube como no campeonato», descreve.

Resumindo, ultrapassadas as dores da adaptação, o crescimento do jovem internacional português está à vista. E para isso, Gonçalo Vieira passou por uma grande mudança. 

«Sinto que estes quatro anos me ajudaram imenso. Aquilo que sou hoje, comparado com o que era antes de ir para lá, é uma mudança do dia para a noite. Mesmo do dia para a noite. Por isso, estou a gostar muito de estar lá», remata.

Gonçalo Vieira mudou, isso acendeu-lhe a luz da seleção. E ainda vai muito a tempo de brilhar.