Notícia A BOLA: IPDJ 'destitui' presidente da federação de natação
Inquérito a António José Silva está concluído e considera-o culpado. Assembleia Geral da FPN tem 15 dias para tomar a decisão de destituição ou a federação pode perder estatuto de utilidade pública. A BOLA falou com Alexandra Jorge, a mulher que moveu a queixa que levou a este momento
Quando menos se esperava, até porque as queixas apresentadas pela ex-secretária da mesa da assembleia da FPN Alexandra Jorge já haviam sido apresentadas há muitos meses e o processo parecia não ter tido fundamento, primeiro para andar e depois para levar a sanção, caiu ontem como uma bomba. E com estrondo.
O IPDJ concluiu o inquérito que estava a ser efetuado ao presidente da Federação Portuguesa de Natação, António José Silva, e vai notificar a assembleia geral da FPN, presidida por Alberto Borges, que realize uma AG extraordinária para a destituição do presidente no prazo de 15 dias, de acordo com o regime jurídico das federações desportivas.
Apenas a AG tem o poder da iniciativa da destituição e a não acontecer — pode negar-se a fazê-lo — a federação correr o risco de perder o estatuto de utilidade pública com um pedido ao secretário de Estado da Juventude e Desporto.
Um pouco como aconteceu recentemente com a federação de judo, o que também pode significar que a existirem novas eleições será apenas para o cargo de presidente. E isto tendo em conta que no final do ano, depois do Jogos de Paris-2024, a FPN deverá voltar a ter eleições dos órgãos sociais, entre outubro e novembro, para a olimpíada de Los Angeles-2028.
«Só pedi um esclarecimento»
A BOLA tentou falar com António José Silva mas, até à hora de fecho desta edição, tal não foi possível, nem confirmar que tenha já sido notificado, com a dificuldade acrescida do próprio se encontrar em Zagreb, onde ontem teve lugar a final do Europeu de polo-aquático masculino entre a Espanha-Croácia (11-10).
Conversámos, no entanto, com Alexandra Jorge, quem, afinal, acabou por desencadear todo este processo que leva à destituição, para que ficassem esclarecidas quais as queixas apresentadas.
Coincidentemente, Alexandra acabou por notificada via email pelo IPDJ sobre a decisão enquanto falava com A BOLA. «Inicialmente apenas fiz um pedido de esclarecimento à Secretaria de Estado da Juventude e Desporto e depois esta é que o encaminhou para o IPDJ, que ao abrir o processo me tornou numa figura jurídica de denunciante», quis, desde logo, esclarecer.
Candidatura à LEN
«Foram dois temas. O primeiro relativamente à candidatura de António Silva à presidência da LEN [atual European Aquatics]. Com que dinheiro, de que forma e quanto gastou na candidatura? Ninguém sabe! Porque essa era uma candidatura pessoal e não da federação. O Professor António Silva diz, e há vários documentos e com datas das assembleias, que o dinheiro iria ser ressarcido pelo IPDJ e que inclusivamente reuniu com o presidente do IPDJ [Vítor Pataco] e com Paulo Gonçalves, que superintende o desporto federado, e que eles lhe disseram que podia avançar com esse dinheiro. Isto está registado em ata».
«A questão é que António Silva afirma uma coisa e o IPDJ outra», vai contando Alexandra Jorge, que fez parte dos órgãos da federação entre 2016 e 24 de abril de 2023, quando pediu demissão da mesa da AG por não lhe serem esclarecidas dúvidas que tinha e, segundo a própria, não concordar com certas coisas que estavam a acontecer.
Programa ‘À Prova de Água’
«O segundo tema está relacionado e o inquérito é somente face a este registo do programa ‘À Prova de Água Sobrevivência e Prontidão Aquática’, que António Silva resolveu fazer em termos pessoais com Raquel Marinho e Jorge Campaniço. Diz que foi realizado no âmbito de investigação como professor catedrático, mas, depois registou-o no nome dele», garante.
«E há outra questão: o Professor teve a lata de ir à Assembleia da República falar com as pessoas que decidem por nós, os deputados dos três maiores partidos, expor este programa dizendo que era da federação quando o mesmo estava registado em nome dele. Isto não é grave, é criminoso. Não se pode fazer isto em momento algum. E ele fez. Por isso também enviei emails a cada deputado a avisar que à data em que ele havia ido à Assembleia da República apresentar o programa e referindo que era um consórcio de cinco federações [natação, vela, canoagem, surf e salvamentos], o programa estava registado em nome dele», acrescenta.
Só mais tarde terá sido alterado para a federação, já quando decorria o processo no IPDJ em que foram recolhidos vários testemunhos, incluindo o de Alexandra Jorge e António José Silva.
«Atual Direção é conivente»
«Às vezes as pessoas perguntam-me: ‘O que tenho contra o António José Silva’? Nada! Zero! O que está aqui em causa é a ética e isso é inegociável. Não tem a ver com a pessoa, mas se o procedimento está correto ou não. Tem de existir transparência».
«E toda esta atual direção é conivente e não tem qualquer moral para dizer que não sabia porque está a par de tudo e nunca se insurgiu», concluiu Alexandra Jorge que revelou que não só ter enviado o mesmos documentos, assim como o facto que que decorria um processo de investigação no IPDJ para a European Aquatics, federação europeia que de António José Silva é presidente e único candidato às eleições de 27 de janeiro, como agora lhe foi pedido por parte da World Aquatics para também detalhar as queixas já efetuadas.