Liga Meo, um trampolim para outros voos
Teresa Bonvalot, Afonso Antunes, Guilherme Ribeiro e Francisca Veselko Fotografia Miguel Morgado

Liga Meo, um trampolim para outros voos

SURF08.02.202420:26

Circuito arranca na Figueira da Foz e termina em Peniche; sonhos olímpicos e salto para os circuitos mundiais na cabeça da nova geração, e não só, de surfistas nacionais.

A Liga Meo Surf 2024, campeonato que apura os campeões nacionais, vai arrancar, a 22 de março, e como vem sendo habitual, na Figueira da Foz. Depois passa pelo Porto e Matosinhos (abril), segue para Ribeira d’Ilhas, Ericeira (junho), muda-se para a Ribeira Grande, nos Açores (junho) para, finalmente, terminar em Peniche, em outubro, com a expectativa de quem será capaz de suceder a Joaquim Chaves e Francisca Veselko. 

A rota mantém-se inalterada desde 2022 depois de, em anos anteriores, ter ido até Sintra, Praia Grande e Carcavelos, Cascais (2016 a 2021), Algarve, Aljezur (2019) e, ainda mais recuado no tempo, à Costa de Caparica (2013 a 2016), praia do Marcelino.

Chaves e Veselko, campeões em título, são os rostos da nova geração do surf português que disputará as cinco etapas. O calendário, tal como em épocas anteriores, será intercalado com as ambições de muitos dos surfistas nas provas do circuito regional europeu (Qualifying Series) e Challenger Series (CS), competição de acesso ao Championship Tour (CT), prova de elite da Liga Mundial de Surf (WSL).

«Revalidar o título»

Kika Veselko, 20 anos, bicampeã nacional (2021 e 2023) e campeã mundial júnior da Liga Mundial de Surf (WSL), viveu em 2023 um ano de sonho. Agora quer prolongar o conto de fadas. «Em 2024 temos os Jogos Olímpicos», relembrou de imediato. A «conquista de uma das vagas no ISA World Surfing Games [Mundiais da Associação Internacional de Surf]», de 22 de fevereiro a 2 de março, em Porto Rico, é um dos objetivos. O outro é a «qualificação para o Challenger Series e tentar chegar ao CT [Circuito Mundial]», asseverou a A BOLA, à margem da conferência de apresentação da 14.ª Liga Meo, que decorreu em Lisboa. 

Já em relação à competição nacional da Associação Nacional de Surfistas (ANS), o desejo «será sempre revalidar o título», garantiu. «Lembro-me dos meus primeiros campeonatos e ser campeã nacional estava tão longe... Hoje, sou bicampeã e o objetivo é colecionar mais títulos e continuar a competir nesta Liga que é muito importante para os surfistas portugueses», afirmou.

Fez uma preparação peculiar. «Surf, pilates, ginásio, alimentação e treinar bastante a parte mental. Os surfistas profissionais não é só estar muitas horas na água, é trabalhar todas as peças do puzzle», contou na apresentação do campeonato. 

Calendário da Liga Meo Surf 2024

22 a 24 de março – Allianz Figueira Pro
12 a 14 de abril – Porto Pro
24 a 26 de maio – Allianz Ericeira Pro
21 a 23 de junho – Allianz Ribeira Grande Pro
25 a 27 de outubro – Bom Petisco Peniche Pro

«Estar em todas as etapas»

Ausente no Havai, onde está a «acompanhar Frederico Morais e os outros atletas do CT que treinam com o nosso treinador, Richard Marsh», o campeão nacional Joaquim Chaves, de 20 anos, deixou uma mensagem em vídeo. «Vou tentar estar em todas as etapas na Liga, mas darei prioridade ao Challenger Series e ao Qualifying Series», avisou o 15.º do ranking QS (apurados os sete primeiros surfistas), quando falta a última etapa do circuito regional europeu do QS, a decorrer entre 25 e 20 de março, na Costa de Caparica. Exatamente um dia após o arranque A Liga Meo. 

O eventual conflito de metas e datas não preocupam Joaquim. «No ano passado falhei a primeira etapa e conseguiu conquistar o título», atirou o vencedor na Ericeira e Açores e finalista vencido no Porto.  

2023, ano de aprendizagem

Já qualificada para os Jogos Paris-2024, por força do 17.º lugar no ranking do CT, Teresa Bonvalot, de 24, quer ajudar a garantir mais vagas olímpicas por país a atribuir nos Mundiais ISA, competição que precede o início da 1ª Divisão portuguesa. Apesar de ter falhado a entrada no circuito de elite da WSL, vê, no retrovisor, pontos positivos. «A alta competição é mesmo assim. Não deixa de ser um ano de aprendizagem, dentro e fora de água, para ganhar mais experiência e maturidade», assumiu. «Acabei por conseguir um dos objetivos principais: a qualificação para os Jogos Olímpicos, a minha segunda participação. Vou fazer tudo por tudo pelo meu grande País que é um orgulho representar», disse orgulhosa.

Para além de Paris-2024, visa ainda «estar a tempo inteiro no CT». «Acredito que esse dia vai chegar, tenho demonstrado a resiliência e trabalho que são precisos. É continuar como o mesmo foco e vontade», acrescentou revelando, no entanto, que ainda não mapeou a totalidade dos compromissos internacionais e a conjugação com a Liga Meo. 

Calendário à parte, considera a prova que apura os campeões nacionais um balão de ensaio competitivo. «A possibilidade de vestir a licra é algo que alimenta este bichinho» da competição. «É ótimo para conseguir meter as coisas que tenho andado a treinar e colocar-me em situações que eu própria consigo criar, para dar a volta», finalizou Bonvalot, tetracampeã nacional (2014, 2015, 2020 e 2022).

«Um mês que pode mudar a minha vida»

Guilherme Ribeiro, 21 anos, sabe de cor e salteado que março será um mês em cheio com três competições em paralelo: qualificação olímpica, arranque da Liga Meo e a derradeira etapa do Circuito Europeu do QS, na Costa de Caparica, a qual pode ditar a entrada no Challenger Series, 24 horas depois da etapa da Figueira da Foz. 

Campeões Nacionais dos últimos 5 anos

2023 – Joaquim Chaves e Francisca Veselko
2022 – Guilherme Ribeiro e Teresa Bonvalot
2021 – Vasco Ribeiro e Francisca Veselko
2020 – Frederico Morais e Teresa Bonvalot
2019 – Miguel Blanco e Yolanda Hopkins

«Já meti na cabeça. É um mês que pode mudar a minha vida, rapidamente. Começa em Porto Rico, em fevereiro [qualificação para os Jogos de Paris-2024], e em março, a Liga, e o QS, em casa, para terminar», relembrou o 11.º da hierarquia QS. «Pode mudar muito e ser um ponto de partida para o início de uma carreira diferente da que tenho tido», assumiu o vice-campeão nacional de 2023 e campeão em 2022.  

«Ganhar duas etapas da Liga, mas o foco é manter a consistência»

Por fim, Afonso Antunes, 20 anos, vice-campeão nacional em 2021, sente-se «renovado» depois de ter perdido «a vontade de competir no ano passado», confidenciou. O propósito para 2024 é «ganhar duas etapas da Liga, mas o foco é manter a consistência. É o que tem faltado. Ora ganho uma etapa, como perco a seguir na ronda 2 ou 3. Isso vai ter de deixar acontecer», prometeu.

«Adorava vencer na Figueira, entrar em grande na 1.ª etapa e Peniche, Supertubos. Começar bem e acabar bem. Mas espero no meio também estar bem», completou. «Adorava levar o título nacional. O Gui venceu há dois anos, o Joaquim, no ano passado e agora é tentar competir com eles», terminou. 

Nova geração faz as delícias de todos

«Desde sempre que na Liga Meo Surf este é o ponto número 1: o calendário tem de ser visto a montante, Federação Portuguesa de Surf, WSL e ISA numa lógica de procurar espaços de agenda onde estão as etapas. É um puzzle difícil de fazer. Mas encontrado o caminho discutimos com treinadores e atletas”, explicou Francisco Rodrigues, presidente da Associação Nacional de Surfistas (ANS). 

Nesta negociação, uma «das etapas foi chegada para o fim de semana antes». «Estamos a seguir à prova do CT, em Peniche antes do QS. É a solução mais equilibrada e o que calendário permite», reconheceu. 

No ano passado, a conquista dos títulos nacionais pela nova geração «fez as delícias de toda a gente, do público e das comunidades ligadas ao surf», sublinhou. Já ao perspetivar o presente e o futuro próximo, Rodrigues destaca alguns surfistas que apreciaria ver a disputar títulos e a complicar a vida a quem ganhou. «Gostava de ver o Matias Canhoto, Jaime Veselko, Francisco Ordonhas, a Maria Salgado e a Teresa Pereira», revelou. «Não são escolhas, são indicadores. Todos os anos há alguém que surpreende. Não está candidato a nada, mas mete-se no meio da conversa», rematou.