Jumbo de saída da equipa campeã de ciclismo
Equipa conseguiu o feito histórico de, no mesmo ano, vencer Volta à Itália (Primoz Roglic), Volta à França (Jonas Vingegaard) e Volta à Espanha (Sepp Kuss)
A equipa de ciclismo Jumbo-Visma, que conseguiu o feito histórico de, no mesmo ano, vencer Volta à Itália (Primoz Roglic), Volta à França (Jonas Vingegaard) e Volta à Espanha (Sepp Kuss), com os três ciclistas a completarem o pódio em Madrid, vai colocar um ponto final na aventura de um negócio familiar de supermercados com a marca Jumbo, que nasceu a partir das cinzas da extinta Rabobank.
Os seguidores e apaixonados do ciclismo conhecem bem os ciclistas da equipa, mas para o grande público são algo estranhos nomes como Karel van Eerd, filho de Frits van Eerd, artífices principais do êxito empresarial do principal patrocinador.
O primeiro, falecido em 2022 com 84 anos, era o pai do projeto, um empresário de uma família vinculada à alimentação, que em 1984 comprou um negócio de supermercados da cidade neerlandês de Tilburg com um elefante como emblema e o transformou num império.
O segundo filho foi durante décadas o braço executivo da estratégia do seu pai, até no ano passado cair em desgraça.
O negócio tem por filosofia ‘converter clientes em fãs’ e baseia-se num esquema de preços baratos sem ofertas - como a americana Walmart – e aposta na inovação.
Este ano pretende abrir 200 estabelecimentos denominados por ‘Caixas Lentas’, onde as pessoas que se sentem isoladas, principalmente os mais velhos, podem falar com as outras pessoas que também estão a fazer compras na segunda cadeia de alimentação dos Países Baixos.
A Jumbo cresceu vertiginosamente até converter-se como a segunda cota de mercado com 22 por cento dispondo de 762 supermercados, a que junta mais 27 na vizinha Bélgica, 69 restaurantes e outras linhas de negócio como campos de golf.
À medida que o negócio prosperava, a Jumbo introduziu-se nos patrocínios desportivos, associando-se a conceitos como da comida sã e do bem estar.
Destina cerca de 20 milhões de euros às equipas de ciclismo masculino, feminino e de jovens, patinagem, hóquei no gelo, desportos motorizados e à equipa de futebol do PSV, contando com 41.000 funcionários, tendo faturado 10.276 milhões de euros em 2022.
O ano de 2013 foi a chave na estratégia de patrocínios da Jumbo. A marca associou-se ao piloto de kart, então com 15 anos que atualmente é bicampeão do mundo de Fórmula 1, Max Verstappen.
Depois de inúmeros escândalos relacionados com casos de doping, a Rabobank retirou o patrocínio à equipa de ciclismo, na qual corriam Michael Rasmussen, Denis Menchov, Óscar Freire, Luís León Sanchez, Bauke Mollema, Michael Booger e Erik Dekker. A equipa neerlandesa ficava em situação periclitante iniciando 2013 sem patrocinador e adotando a marca ‘Blanco’ nas camisolas, para em meados no ano passar a ter o apoio da tecnológica dos Estados Unidos ‘Belkin’, que se manteve até final de 2015, altura em que entrou a Lotaria Nacional dos Países Baixos e a cadeia de supermercados e assim nasceu a Lotto-Jumbo com um orçamento entre 15 e 17 milhões de euros.
Os resultados não tardaram em chegar. A Lotto despareceu e a Jumbo converteu-se no principal patrocinador, surgindo uma empresa norueguesa de software que queria abrir mercado para lá dos países nórdicos. O resultado deu origem à Jumbo-Visma que nesse ano contratou Wout Van Aert e Jonas Vingegaard. Além de dinheiro, a Visma avança com uma equipa de inovação com um sistema artificial para a nutrição dos ciclistas.
A companhia estima que durante a Volta à França de 2022, o primeiro lugar de Jonas Vingegaard foi visto por 150 milhões de telespectadores e por outras 650 milhões de pessoas nas redes sociais. O ano passado, a Visma faturou 2.100 milhões de euros, 19 por cento mais que em 2021. Segundo o jornal L’Équipe, o orçamento da Jumbo-Viam cifra-se entre 25 a 30 milhões de euros, que deverá ser o terceiro do World Tour, atrás da Ineos-Grenadiers, com 43 a 50 milhões de euros, e UAE-Team Emirates, com 35 milhões de euros. Entre outras marcas, como Skoda ou Hema, a equipa Jumbo-Visma conta com outros patrocínios secundários como o fabricante de bicicletas canadiano Cervélo, com a ‘startup’ alemã de entrega de comida ao domicílio Gorillas, que tinha acordo entre 2022 e 2024 e que abdicou depois de ter sido absorvida pela competidora turca Getir em dezembro do ano passado, deixando um aval de cinco milhões de euros para 2023 e 2024, numa equipa que tem contrato com Roglic até final de 2025, Wout Van Aert até 2026 e Vingegaard até 2027.
A saída da empresa Gorillas constituiu uma ameaça que mexeu com a estrutura da equipa. Há seis meses, o grupo de supermercados Jumbo foi obrigado a sacrificar alguns elementos da administração, com a saída do CEO Frist van Eerd, filho do fundador. A sua cabeça rolou depois da polícia ter efetuado buscas na sua residência e ter sido detido durante uma semana no mês de setembro de 2022, semanas antes da morte do pai num presumível branqueamento de capital, relacionado com transações na compra e venda de automóveis, depósitos em dinheiro e patrocínios no motocross.
A empresa que se viu diretamente implicada encarregou uma investigação própria à KPMG que detetou vulnerabilidades, pelo que a Jumbo retirou os patrocínios aos desportos motorizados, que entre outros deixará de estar associada a Verstappen a partir de 2024.
Meio ano depois do escândalo, a companhia colocou Ton van Veen como conselheiro delegado da Colette Cloosterman - van Eerd, irmã do falecido Frits. O novo gestor da Jumbo tem novos planos para apresentar a curto prazo.
«O contrato de patrocínio Jumbo-Visma finaliza em finais de 2024, existindo a possibilidade de dar um passo atrás se aparecer um parceiro internacional importante que esteja disposto a pagar mais. É portanto possível, que deixemos de ser os principais patrocinadores como até agora», declarou Van Veen à imprensa belga.
«A equipa de ciclismo tem tido muitos êxitos a nível mundial com talentos internacionais, entretanto seguimos sendo um supermercado com uma sucursal na Bélgica», sustentou Van Veen, que admite patrocinar outras áreas como a saúde e sustentabilidade.
Entretanto a Jumbo-Visma tem que lidar com outras notícias desagradáveis, como a suspensão provisória do ciclista alemão Michel Hessmann, de 22 anos, depois de ter dado positivo a 14 de junho a um produto que faz parte da lista das substância proibidas pela AMA e as acusações de doping mecânica (sem provas), avançada pelo antigo ciclista francês e atual comentador Jêrome Pineau.
A suspeita levantada abrange toda a equipa e em particular Sepp Kuss, vencedor da última Volta à Espanha. Pineau desconfia de uma aceleração na 13.ª etapa da Vuelta com final no Tourmalet, «onde subiu 10 km mais rápido que o grupo». «Dão quatro pedaladas e avançam 10 metros. Com é que o fazem?», afirmou o francês.
A equipa considerou o referido comentário como um delírio, afirmando que as bicicletas passam por diversos controlos e que o êxito se baseia no «sistema de nutrição, nos estágios e treinos em altitude». O corredor contestou as palavras de Pineau: «Na televisão não se vê de onde sopra o vento nem a inclinação das rampas.»
Segundo é voz corrente no pelotão, o futuro financeiro da Jumbo-Visma poderá passar pela Arábia Saudita. Riade negoceia a possível entrada já a partir de 2024 com a marca NEOM City, uma futura urbe com 26.500 quilometro quadrados, mais de metade da superfície dos Países Baixos.
O diretor Richard Plugge, que chegou à equipa em 2013 depois da saída da Rabobank, admite a possibilidade de associar-se a investidores sauditas.
«Estamos em negociações sérias com várias partes internacionais, mas não existe nada de concreto», afirmou Plugge numa entrevista à imprensa belga, antes de se iniciar a Volta à Espanha, prova na qual dominou e cimentou a sua posição a nível mundial.