Jovens desistem de carreira no ciclismo: «Não somos todos Pogacar ou Evenepoel!»
Dois corredores da equipa de desenvolvimento da Soudal Quick-Step cedem às exigências da profissionalização. «Temos cicatrizes para toda a vida»
Dois jovens corredores promissores da Soudal Quick-Step Devo, a equipa de desenvolvimento da WorlTeam belga, decidiram rescindir o contrato e abandonar o sonho de se tornarem corredores profissionais. O motivo: «a vida de corredor ser muito complicada quando não se é como Tadej Pogacar ou Remco Evenepoel», justifica o francês Gabriel Berg, de 18 anos, há um ano a competir na formação-satélite da Soudal Quick-Step.
«O ciclismo é uma montanha-russa em que as subidas são menores do que as descidas», explica, por seu lado, Cormac Nisbet, ciclista britânico, de 19 anos.
«Aceitei o facto de que o estilo de vida que sonhei quando era criança já não era um futuro que queria seguir. Não me trouxe felicidade», disse Nisbet, que chegou à equipa Continental em meados de agosto deste ano, dois meses após ter sido sexto classificado nos Nacionais da Grã-Bretanha de contrarrelógio de sub-23.
«Como resultado, primeiro decidi afastar-me da competição a este nível e, posteriormente, concordei mutuamente em retirar-me da equipa Soudal Quick-Step Devo com efeito imediato», acrescentou Nisbet, através de uma publicação na sua conta oficial de Instagram.
«Devo também uma gratidão incomensurável a algumas pessoas incríveis. Mentores que tive. Pessoas que me guiaram em momentos difíceis, deram-me oportunidades e confiança quando a maioria não o fez», concluiu o jovem corredor.
Gabriel Berg teve idêntica opção. «Tomei a decisão de deixar de correr ao nível em que estava na equipa e voltei ao ciclismo que adorava, com menos dores de cabeça, menos restrições e talvez ainda mais divertido», explicou.
«Adoro andar de bicicleta e profissionalizar-me era um dos meus sonhos, mas este ano fez-me perceber que não era necessariamente para mim por causa de muitos sacrifícios, tempo passado longe dos meus entes queridos, quedas repetidas, tensão constante, pouco tempo para fazer qualquer outra coisa. O meu corpo está marcado, tenho cicatrizes para toda a vida. As equipas de desenvolvimento não querem perder o próximo grande talento, o futuro Pogacar, o futuro Evenepoel. Assim que um júnior obtém resultados, contratam-no, só que não somos todos Pogacar ou Remco», afirmou o ‘teenager’ francês.