Com o Sena como cenário, cerimónia de abertura meteu água
Nem a Torre Eiffel como fundo tornou mais subtil o peso da chuva na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos (IMAGO)
Foto: IMAGO

JOGOS OLÍMPICOS Com o Sena como cenário, cerimónia de abertura meteu água

JOGOS OLÍMPICOS27.07.202400:35

A ideia era fazer um evento que ficasse na memória e foi alcançada, mas talvez não seja pela melhor razão; Grande parte do público e dos convidados não resistiu ao dilúvio

Se era uma cerimónia de abertura inesquecível que os franceses queriam, conseguiram o objetivo! Mas poucos a irão guardar com boas memórias.

É que o tão badalado desfile dos atletas pelo Sena, histórico por ser a primeira vez que um momento inaugural dos Jogos Olímpicos saía do recato de um estádio, foi uma experiência tão imersiva, que aqueles que resistiram, terminaram como se tivessem dado o mergulho no rio que banha a cidade de Paris.

É que choveu durante a quase totalidade das quatro horas que durou a cerimónia!

Thierry Reboul idealizou 12 quadros para pintar ao longo do desfile. O diretor artístico Thomas Jolly colocou-os em prática. Mas depois saíram todos borratados. Os quadros eram aguarelas com demasiada água e isso desviou as atenções da história que estava a ser contada.

Os 12 quadros

Prólogo. Todas as previsões apontavam para a ocorrência de chuva na tarde e noite de sexta-feira, em Paris. Mas afinal, o que valem os estudos meteorológicos, comparados com a confiança francesa? Muito pouco, aparentemente!

O que é certo, é que ainda antes de a chama olímpica e o barco da Grécia - historicamente a primeira comitiva a entrar em cena - passarem sob a Ponte de Austerlitz, onde o desfile começou, já a chuva tomara conta do cenário.

Encharcados. Perdão: Encantados. A casa Dior ainda não faz vestidos impermeáveis? Os bilhetes para as bancadas montadas no Trocadero, onde o desfile terminava, custavam entre 1900 e 3700 euros. Mas não davam direito a cobertura anti-chuva.

Gabardines de plástico ajudaram muitos a aguentar os primeiros pingos, mas ao fim de pouco mais de 10 minutos, foi ver senhoras e senhores vestidos com alta-costura a abandonar a bancada… e nada satisfeitos com o glamour com que foram recebidos.

Sincronismo. Podiam ser as luzes da Torre Eiffel ao ritmo da música com que a cerimónia teve um final apoteótico e belo. Mas muito antes disso, já centenas de espectadores tinham abandonado os seus lugares, numa saída concertada. Mas nada perfeita, do ponto de vista do evento.

Liberdade. Os jornalistas colocados no mesmo local da cerimónia estavam ali para relatar um momento ansiado. Mas liberdade é também poder abandonar um espaço do maior evento desportivo do mundo que não oferece as mínimas condições de trabalho.

Os jornalistas tentaram abrigar-se por baixo dos plásticos colocados nas mesas, mas muitos desistiram

Igualdade. O que é para uns, é para (quase) todos! Não foi apenas o público e os jornalistas que não resistiram à chuva. Na bancada dos chefes de Estado, que ainda assim era a única com cobertura, muitos desistiram de ver a cerimónia perante o dilúvio que também chegava a eles.

Fraternidade. Chapéus de chuva? Plásticos ou impermeáveis? Muitos do que os tinham, não tiveram problema em partilhar com quem estava ao lado.

Irmandade. Das cerca de 320 mil pessoas esperadas, os resistentes certamente não irão esquecer aqueles que, ao seu lado, resistiram de forma estoica àquelas quatro horas. As relações perdurarão.

Desportivismo. Pardon. Sorry. Desculpe. Valeu tudo para tentar manter-se seco. Mas essa luta, muitas vezes molhou (ainda mais!) quem estava ao lado, ou frente. Porque os plásticos não aguentam água tantas horas seguidas e mesmo os chapéus de chuva escorrem para algum lado. Mas de todos os lados, houve compreensão.

Festividade. O final da cerimónia foi uma festa incrível. E aqui não falamos de quem pôde, finalmente, ir procurar um abrigo seco. O impressionante jogo de luzes de 15 minutos no encerramento é o que de melhor fica da festa, bem como a pira olímpica em forma de balão de ar quente que vai ficar a pairar nos céus de Paris até ao encerramento dos Jogos Olímpicos.

Escuridão. Nem a tecnologia aguentou. Aqueles que assistiram no Trocadero ao desfile de seis quilómetros no Sena ficaram sem um dos ecrãs gigantes que emitia a transmissão da cerimónia. Apagou.

Solidariedade. Além da anfitriã França e dos EUA, os países aplaudidos de forma mais veemente foram a Ucrânia e a Palestina. E não se escutou um apupo ou assobio ao anúncio de qualquer das 206 comitivas.  

Solenidade. A viver um momento político conturbado, o presidente francês Emmanuel Macron percebeu que a cerimónia tão diferente e grandiosa que tinha sonhado saiu furada. E nem no momento de declarar aberta a 33.ª edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, Macron conseguiu disfarçar essa perceção. A expressão dizia tudo.

Eternidade. Para a história, devia ficar a encenação. A homenagem aos trabalhadores da reconstrução da Catedral de Notre Dame. A evocação das gentes e tradições de Paris e de França. O cavalo de ferro que cavalgou no Sena. A exuberância de Lady Gaga entre plumas, ou o tão ansiado regresso de Celine Dion às atuações, depois da doença que a afastou dos palcos durante quatro anos.

Mas a cerimónia de abertura de Paris 2024 meteu água. Será impossível de esquecer.

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