Breaking! Tiro ao pombo e ao veado já não são desportos olímpicos
O Breaking vai estrear-se em Paris como modalidade olímica (IMAGO)
Foto: IMAGO

JOGOS OLÍMPICOS Breaking! Tiro ao pombo e ao veado já não são desportos olímpicos

JOGOS OLÍMPICOS24.07.202416:35

Em Paris vai estrear-se apenas uma nova modalidade, mas há algumas que ganham novas categorias; Mas é longa a lista de desportos… chamemos-lhes ‘estranhos’

Breaking! Breaking!

Não, não é notícia de última hora. Breaking é apenas a mais recente modalidade olímpica e a única que se vai estrear em Paris 2024, com a representação portuguesa a ficar a cargo da B-girl Vanessa Marina.

Mas afinal, o que é o breaking?  

Talvez seja mais fácil se lhe dermos o nome popular: breakdance. Isso mesmo, a dança urbana cheia de movimentos acrobáticos, com origem nos EUA e que é feita em forma de duelos ao som de hip hop.

Nos Jogos Olímpicos, haverá 16 atletas femininas (B-girls) e outros tantos masculinos (B-boys) a lutar pelas medalhas, ao som da música de DJ’s e com um Mestre de Cerimónias (MC) a mediar as batalhas de coreografias improvisadas que depois serão votadas pelos juízes.

E se o breaking é a única nova modalidade a entrar na edição de 2024, há alguns desportos que ganham novas categorias. Na canoagem haverá em Paris a competição de slalom extremo, uma descida de rio em caiaque na qual os atletas têm de percorrer um trajeto de obstáculos no mínimo de tempo possível.

A vela, uma das modalidades olímpicas mais tradicionais surge na capital francesa com toques de modernidade… ou será futurismo? O windsurf e o kitesurf ganham espaço, através das classes Foil e Kite, respetivamente, nas quais os atletas se deslocam ao sabor do vento, com uma espécie de prancha voadora (foil) nos pés.

De saída em comparação à edição de Tóquio, estão o karaté, o basebol e o softbol, ainda que estes dois últimos tenham o regresso já agendado para 2028, em Los Angeles.

Então e o tiro ao veado?

Em 128 anos de Jogos Olímpicos da Era Moderna, há apenas quatro modalidades que figuraram no programa olímpico em todas as 32 edições: atletismo, natação, esgrima e ginástica artística.

Mas entre as que vieram para ficar e as que foram breves passageiras há algumas que merecem destaque… pela bizarria aos olhos de hoje.

E nem precisamos de ir muito longe. Podemos manter-nos em Paris e recuar 100 anos até à edição de 1924 para perceber o quanto evoluiu o conceito desportivo.

Nas 19 modalidades dessa edição há particularidades que hoje fariam muitos colocar as mãos à cabeça.

O que lhe parece a existência de várias competições de… tiro ao veado? Pois, eram quatro categorias: tiro simples ao veado; tiro simples ao veado por equipas; tiro duplo ao veado; tiro duplo ao veado por equipas.

Mas não se aflija. Nenhum animal foi ferido durante as competições. E não foi por falta de pontaria, mas porque as provas que tiveram palco nas edições de Londres 1908, Estocolmo 1912, Antuérpia 1920, Helsínquia 1952 e Melbourne 1956, além de Paris 2024, não eram utilizados veados verdadeiros.

A pontaria dos participantes era testada com tábuas em forma de veado que percorriam 22 metros em quatro segundos, com os atiradores colocados a 100 metros e com quatro oportunidades para acertar no alvo.

Então e os pombos? Pois... Apesar de em 1924 as provas de tiro ao pombo terem sido realizadas com pombos de barro, em 1900, também na capital francesa… foram mesmo pombos vivos. Já então os protestos levaram a que a maioria dos inscritos abdicassem de participar, ainda foram mortos cerca de 300 animais na competição.

Ainda no tiro houve até uma aparição de… duelo de pistola. Sim, bem ao jeito dos westerns norte-americanos, mas numa versão com manequins vestidos de fraque que eram colocados a 25 metros. Aconteceu na edição intercalar que se realizou em 1906 em Atenas.

Cordas para todos os gostos e natação de obstáculos

Mas também houve modalidades mais pacíficas. Como o bom e velho jogo da corda, ou tração à corda. Esse mesmo, com duas equipas, cada uma a puxar para o seu lado até uma delas ultrapassar a linha colocada no meio.

Sim, entendemos a dor. Afinal, também nós com os amigos da escola podíamos ser atletas olímpicos. Pena que a modalidade tenha deixado de ser olímpica em 1920.

Ainda com cordas, nas edições de Atenas 1896, St. Louis 1904, Paris 2024 e Los Angeles 1932, inserida na ginástica, disputou-se a prova de escalada de corda, nas quais vencia o mais rápido a subir os 14 metros de uma corda pendurada na vertical. Sim, deviam ser os primórdios do crossfit.

Ainda no capítulo dos valentes, em 1896, realizou-se uma prova de ciclismo de… 12 horas! O austríaco Adolf Schmal venceu a prova que só foi finalizada por mais um competidor, percorrendo 314 quilómetros.

E se este ano uma das novidades em Paris será o slalom extremo, em 1900, as provas de natação incluíam uma corrida de natação… com obstáculos. Uma prova bem ao jeito dos Jogos… sem Fronteiras.

Além das correntes do rio Sena, no percurso de 200 metros, os atletas tinham de passar por cima de um cano, voltar ao rio, passar por cima de uma fiada de barcos e, no regresso ao rio, nadar por baixo de outra fiada de barcos, para depois concluírem a prova.

Quando a arte também era olímpica

Desporto e arte parecem hoje disciplinas muito distantes entre si. Mas durante quase 40 anos escreveram uma história juntas nos Jogos Olímpicos.

As disciplinas artísticas estrearam-se na edição de 1912 em Estocolmo, na concretização de uma ambição de sempre de Pierre de Coubertin. Assim, nesse ano estrearam-se cinco categorias: arquitetura, literatura, música, pintura e escultura.

O pressuposto era que as obras fossem originais e inspiradas ou relacionadas com desporto e na primeira edição foram submetidas a concurso 33 obras.

Ainda assim, a novidade não teve grande sucesso, como se percebe pelo facto de quatro das cinco categorias não terem atribuído medalhas de prata nem bronze.

Porém, com o tempo a arte foi ganhando o seu espaço e 12 anos depois da estreia olímpica, em Paris, participaram mais de 200 artistas. Em 1928 o número de obras a concurso superou o milhar e em 1932 a exposição das obras apresentadas a concurso em Los Angeles recebeu cerca de 400 mil visitantes.

Apesar do crescimento contínuo, as competições artísticas despediram-se do programa olímpico em Londres, em1948.

A subjetividade das avaliações foi uma das razões apresentadas por Avery Brundage, eleito presidente do Comité Olímpico Internacional em 1952.

O facto de o norte-americano ser um defensor acérrimo do amadorismo nos Jogos Olímpicos é, contudo, apresentado por muitos como a principal razão para a queda das artes, cujos participantes eram sobretudo artistas… que viviam da sua arte.