30 julho 2024, 19:28
Estados Unidos de Biles leva medalha de ouro de equipas na ginástica artística
Itália ficou com a prata e Brasil assegurou o histórico bronze
A brasileira Rebeca Andrade aborda rivalidade com a norte-americana e deixa rasgados elogios a Filipa Martins
PARIS – Passa das 22 horas de um dia histórico para a ginástica portuguesa. A meio da tarde, ali mesmo na Arena de Bercy, Filipa Martins arrancou uma exibição incrível que lhe valera o apuramento para a final do all-around da ginástica artística.
Mas só pouco tempo antes daquele momento, após a conclusão do quinto subgrupo, ficou confirmada, não só a qualificação, como um inesperado 16.º lugar, entre as 24 ginastas que nesta quinta-feira vão voltar a Bercy.
Nessa última série, competiu o Brasil e como era de esperar, Rebeca Andrade, que já é estrela planetária numa modalidade que é um mundo, qualificou-se com facilidade.
É à espera dela que a reportagem de A Bola está desde que acabou a competição. Por isso, quando ela surge ao lado de Flávia Saraiva, a outra ginasta brasileira apurada para a final que junta os quatro aparelhos da ginástica artística, tudo indica que a espera valeu a pena.
Até que nos dirigimos a ela e pedimos umas palavras para Portugal.
«Ah, desculpea! Não estamos autorizadas a falar hoje. Volte depois de amanhã para a final de equipas, que eu falo com você», atira-nos simpaticamente, ainda que sem atenuar a desilusão que nos invade.
Olhamos para o calendário, conferimos o programa dos portugueses para aquela terça-feira. E pode ser que dê com alguma… ginástica.
No dia marcado, voltamos à Arena de Bercy e antes saber se é desta que conseguimos o objetivo, assistimos à final e ficamos sem perceber se foi mais importante Simone Biles para a medalha de ouro dos EUA, ou Rebeca Andrade para a de bronze do Brasil.
Mas nem há muito tempo para pensar nisso. Temos uma missão.
Ao chegar novamente à zona mista, o cenário mete mais respeito. Não há sítio onde nos encaixarmos, entre cerca de 30 jornalistas brasileiros, outros tantos norte-americanos, mais uma catrefada de italianos eufóricos com a conquista da medalha de prata. E japoneses. E britânicos. E canadianos! Vai ser duro.
Mas consoante as ginastas de cada país vão passando – exceto as norte-americanas, representadas pelos treinadores – os jornalistas vão seguindo o seu caminho. À exceção dos brasileiros, que esperam pela equipa que é a última a passar no local.
Percebemos que ali não nos vamos safar, por isso afastamo-nos daquele batalhão eufórico, mas damos um toque à assessora sobre a nossa intenção.
30 julho 2024, 19:28
Itália ficou com a prata e Brasil assegurou o histórico bronze
«A Rebeca não vai falar com você à parte, sugiro que se junte aos jornalistas brasileiros e tente fazer a pergunta. Acho que não vai conseguir, mas tente», sugere.
E agora?
Percebemos, mas decidimos arriscar e ficamos um pouco antes dos jornalistas brasileiros e quando as ginastas chegam, já de medalha ao peito, chamamos por Rebeca, que parece reconhecer.
«Não sei se vão liberar, mas se liberarem, eu falo», atira-nos.
Durante 15 minutos, assistimos ligeiramente afastados à conversa. Sem grande esperança, admitimos.
Mas é então que vemos Rebeca dar um toque no braço de um dos assessores e dizer-lhe alguma coisa, recebendo um aceno positivo. E dirigem-se ambos na nossa direção.
Sabemos que não teremos mais do que alguns segundos e perguntamos-lhe primeiro sobre aquilo que foi conseguido por Filipa Martins.
«Ah, eu gosto muito da Filipa. É incrível aquilo que ela conseguiu e é muito bom tê-la também na final. Ela sempre me tratou super-bem e é muito querida», diz a ginasta de 25 anos.
E vai ainda mais longe nos elogios à portuguesa que será a mais ginasta mais velha da final.
«A Filipa é um exemplo. A ciência evoluiu e os treinos também, mas ela nunca desistiu e continua a praticar o nosso desporto ao mais alto nível, como uma das mais velhas. É inquestionável, olha só: ela está numa final olímpica! Tem muito mérito», sublinha.
E quando nos dizem que «a Rebeca tem mesmo de ir para a conferência de imprensa», ainda conseguimos fazer uma pergunta obrigatória.
Simone Biles tem mesmo de ter cuidado com ela, que acabou de arrancar as notas mais altas em três aparelhos, contra um da norte-americana.
«Não diria que é ter cuidado. Somos duas ginastas a tentar mostrar cada uma a sua potencialidade. Da mesma forma que ela torce por mim, eu torço por ela. Não é uma rivalidade, é cada uma tentar fazer o seu melhor», explica, numa simplicidade desarmante.
E depois lá seguiu para o compromisso oficial, depois de cumprir um outro, muito menos oficial, mas que fez questão de não falhar.
Antes, na conversa com os jornalistas brasileiros, Rebeca também tinha sido questionada, obviamente, sobre a competição com Simone Biles.
Porque no documentário que a Netflix fez sobre a ginasta considerada a melhor de sempre, Biles assume que «a Rebeca é quem mais assusta», no caminho para as medalhas. E se já antes, a brasileira era considerada «a maior ameaça de Biles», como lhe chamam nos EUA, essa confissão deu-lhe ainda mais força.
«É um ‘assustar’ de respeito que ela quer dizer. É uma honra competir com a Simone, que é uma referência em todo o mundo, inclusivamente para mim. Ela é muito importante para o nosso desporto», apontou.
Durante a final da por equipas, uma reação de Biles ao salto de Rebeca Andrade tornou-se rapidamente viral. E também sobre isso a ginasta natural de Guarulhos, no Estado de São Paulo foi questionada.
«Ah! Ter a melhor do mundo a achar sensacional o meu salto, o que posso achar? É incrível, né?», questionou.
Ora, o novo duelo entre as duas acontece nesta quinta-feira. E apesar do respeito e amizade, Rebeca Andrade promete luta.
«Se quero mais medalhas? O resultado é apenas consequência, mas a gente quer!», assumiu, numa gargalhada.
E todo o mundo sorri. Porque todos gostam de uma boa competição. E porque é contagiante o sorriso da estrela da simplicidade.