«Voto eletrónico será o fim das assembleias gerais no Sporting!»
Rui Morgado, ex-membro da AG do Sporting, preocupado com medida. André Alves/ASF

«Voto eletrónico será o fim das assembleias gerais no Sporting!»

NACIONAL07.10.202323:00

Rui Morgado, advogado e ex-membro da Mesa da Assembleia Geral do Sporting e da SAD, em conversa com A BOLA, diz que medida é «pouco pensada e nada discutida»

A poucas horas do arranque de uma assembleia geral que, recorde-se, coincidirá com a partida do Sporting com o Arouca, muitos associados vão esgrimindo argumentos para alguns dos pontos mais quentes da ordem de trabalhos. A questão do voto universal eletrónico é aquele que, à partida, gerará maior discussão. Rui Morgado, advogado e ex-membro da Mesa da Assembleia Geral do Sporting e da SAD, em conversa com A BOLA, foi taxativo na opinião.

«Espero uma partição bastante significativa e que as pessoas votem de consciência. Depois só quero pronunciar-me sobre o ponto 2, ao voto eletrónico para eleições e assembleias gerais. Li o artigo de João Benedito também em A BOLA, em que ele foca essencialmente na parte das eleições. Partilho das preocupações dele, embora admita que um dia, no futuro, todos iremos votar remotamente, à distância. Mas hoje em dia há pouca realidade e poucas experiências nesse sentido. E o Sporting ser pioneiro nisto não sei se será a melhor solução», começou por dizer o associado leonino, muito mais preocupado com a questão do voto à distância nas assembleias gerais.

«A maior preocupação não é com a questão das eleições. Obviamente partilho com o João Benedito os sentimentos de modernização, digitalização, alargamento da base participativa. Eu tive numa Mesa de AG que teve voto eletrónico presencial. Fomos nós que introduzimos esse sistema. Não passamos para o voto à distância por essas preocupações de segurança. Porque há que garantir a segurança, a autenticidade, a identificação da pessoa, o número de votos e o anonimato. Porque isso tem de ser garantido, o que não é fácil de conciliar. E a credenciação, claro… porque não basta ser sócio, é preciso ter quotas em dia, quantos anos de sócio cada um tem, o número de votos ser diferenciado ainda torna tudo mais complexo. E sobre isto não há uma palavra, ninguém sabe de nada! Só diz que se vai permitir…», constatou.

Rui Morgado vai mais longe e diz mesmo que a aprovação desta medida ditará o fim das assembleias gerais.

«O que se passa nas assembleias gerais no Sporting há uns anos para cá é na minha opinião uma irregularidade, uma ilegalidade e de certa forma um insulto aos sócios. Porque deixamos de ter assembleias como há em todo o lado. Existem apenas referendos onde as pessoas votam. Muita pessoa já votou e nem sabe o que se passou na assembleia. Imaginemos a apresentação de um relatório e contas. Há alguém que vai lá apresentar as contas. Depois inicia-se a discussão e depois a votação. Isto é o normal funcionamento. É uma questão lógica e prática. Tem de haver apresentação e discussão dos temas. Depois é que se vota. Agora tudo isso desapareceu. Segundo o que foi publicado se a assembleia for ao sábado até posso votar na sexta! Isto é absurdo. Para que é que um sócio vai votar no sábado se já votaram 50 por cento dos sócios na sexta? Discutir o quê? Esse sócio fala para quem? Não vai lá estar ninguém. Todos vão estar em casa. O sócio fica a falar para o boneco», aponta.

A terminar, Rui Morgado faz um apelo ao bom senso: «Se não houver participação das pessoas, discussão… isto será o fim das assembleias gerais. Qualquer medida pode ser votada favoravelmente sem a participação de ninguém. É uma medida pouco pensada e nada discutida. Deixará de existir assembleias gerais com este modelo. Ninguém mais irá a Alvalade. As pessoas votam sem qualquer informação e isto é terrível. Não estão a ver bem o alcance do que está a ser feito. Esta votação sem discussão é ilegal e viola os estatutos. E isto não é contra ninguém, contra a direção, a Mesa, e só falo sobre este ponto em questão. Acho que há uma precipitação, um erro em não separar os pontos, ausência de informação, e no caso das AG há questões de falta de sentido e de lógica.»