Taça de Portugal: se puderem realizar 90 jogos, também podem organizar o 91.º...

CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO Taça de Portugal: se puderem realizar 90 jogos, também podem organizar o 91.º...

NACIONAL27.04.202013:43

Confesso que não percebi muito bem a natureza das dúvidas levantadas quanto à realização da final da Taça de Portugal. As incertezas que nos assaltam, infelizmente, no que respeita a este microcosmos do futebol, vão muito para lá da realização de um jogo em particular, prendem-se, isso sim, com a verificação de existência de condições, dentro dos parâmetros definidos pelas autoridades sanitárias, para que sejam retomados, primeiro os treinos em grupo, e a seguir a competição. Resolvida essa questão, encontrado o rumo e estabelecidos os critérios – que não deverão ser diferentes do que está a ser programado na Alemanha, ou seja, estágios, testes, máscaras, porta fechada – não fará sentido, na minha modesta opinião, entender que podem realizar-se os 90 jogos que faltam para acabar a I Liga e não há condições para realizar o 91.º, a final da Taça de Portugal.

O CASO BIZARRO DE 1982/83

Ao longo da história da prova rainha do nosso futebol, para lá das duas épocas em que não houve vencedor, 1946/47 alegadamente por dificuldades de calendário e em 1949/50, em virtude da realização da final da Taça Latina, que acabou por só ser resolvida na finalíssima, a decisão mais bizarra ocorreu em 1982/83, quando, por falta de acordo entre FC Porto, Benfica e FPF quanto ao local da decisão, a temporada terminou sem que se jogasse a final. Os jogadores foram para férias, os clubes dispensaram uns e contrataram outros e a final da Taça de Portugal de 1982/83 acabou por só ser jogada em Agosto de 1983, com os plantéis de 1983/84. A FPF acabou por levar avante a decisão de eleger o estádio das Antas como palco dessa decisão, e a Taça foi conquistada pelo Benfica, graças a um golo de Carlos Manuel ao malogrado Zé Beto.

À PORTA FECHADA

Olhando para o precedente acima apresentado, em tese podíamos vir a ter uma nova situação anómala de adiamento da final, com a decisão remetida para as calendas e disputada com os jogadores que nesse momento representarem Benfica e FC Porto. Mas não faz sentido – se há condições para fazer 90 jogos, também haverá para realizar 91 – e o facto de ter de vir a jogar-se a final à porta fechada não deve ser impeditivo da sua realização, nestes tempos de absoluta anormalidade que vivemos.

Aliás, apesar de ser um defensor absoluto das finais no Jamor, onde é criado um clima único, que enobrece o nosso futebol, perante as circunstâncias atuais acharia absolutamente normal que esta final de 2019/20 viesse a ser disputada, lá para finais de julho, princípios de agosto (sem impedimentos, porque há muito que os clubes portugueses disseram adeus às competições europeias, cuja finalização está prevista para esse ‘slot’ temporal) a meio caminho entre Lisboa e o Porto, num estádio que desse garantias de um bom relvado e condições para uma transmissão televisiva de nível profissional.