Sporting: Moreira de Cónegos é palco de prova de fogo
Seis golos sofridos em dois jogos. Edwards intranquilo no lado esquerdo. Maxi Araújo sem rotinas de defesa: eis o que pensam Beto e Nélson, dois antigos jogadores leoninos
A herança é pesada. É afirmação unânime quando se fala da promoção de João Pereira ao comando técnico do Sporting. Cumpridos três jogos ao leme, venceu um e perdeu dois, há quem já olhe com desconfiança, outros há que defendem que precisa de ganhar a confiança dos jogadores, mas o futebol é roda-viva e os resultados é que contam.
Segue-se visita ao Moreirense, já esta quinta-feira, e a A BOLA foi ouvir a opinião de antigos jogadores leoninos sobre a importância deste jogo. Beto Pimparel, antigo guarda-redes, foi claro na resposta: «É igual àquela se o Sporting tivesse seis, sete, nove pontos de diferença para os rivais, porque a responsabilidade é sempre a mesma: vencer.»
«Agora, há que ter a sensibilidade de perceber o momento em que o Sporting está, não deixa de ser líder nem de estar em todas as frentes, mas, falando por experiência própria, mais do que nunca, terá de ser o grupo de trabalho, e quando digo grupo de trabalho são jogadores, treinador, toda a estrutura do Sporting, terá de se fazer forte e dar uma resposta já em Moreira de Cónegos, fazendo jus à tal solidez que fará com que o Sporting passe este momento menos positivo», acrescentou.
Sobre o facto de os leões terem sofrido seis golos em apenas dois jogos, Beto defende os guardiões. «Isso associa-se sempre muito ao guarda-redes, mas, eu como ex-guarda-redes, acho que há que atribuir uma responsabilidade mais coletiva, porque o erro nem sempre é do guarda-redes, até pode ser do avançado que não fez bem a pressão e que vai dar golo na nossa baliza», disse.
O futebol dá pouca margem quando estamos ao mais alto nível, não te dá tempo e numa equipa como o Sporting, que quer títulos, menos tempo ainda tens e menos margem de erro tens
«Não quero individualizar a questão do Kovacevic ou do Franco Israel, são dois guarda-redes com que o Sporting tem de contar para o resto da temporada, se não for buscar ninguém em janeiro, que não acho que seja necessário. Trata-se de um trabalho diário, que o João e a sua equipa técnica terão de fazer a nível psicológico, a nível mental, de moralizar, de motivar, de voltar a dar aos jogadores os níveis de confiança que traziam até há umas semanas. É um momento menos bom da equipa, que coincide com a saída do Amorim e a entrada do João, se calhar algum abaixamento de forma de alguns jogadores e é uma herança pesada para o João», sublinhou.
'SACAR' O MELHOR DOS JOGADORES
Questionado sobre o que entende que está a faltar para que não existam grãos de areia na engrenagem, Beto não tem dúvidas: «Podem ser vários fatores, temos de ter em conta que os jogadores criam hábitos, ligações, relações com os treinadores, os treinadores começam a conhecê-los, começam a saber como lidar, tratar jogadores, como sacar a melhor versão de cada um e depois quando entra um treinador novo precisa desse tempo de conhecimento, de sensibilidade.»
«O futebol dá pouca margem quando estamos ao mais alto nível, o futebol não te dá tempo e numa equipa como o Sporting, que quer títulos, menos tempo ainda tens e menos margem de erro tens mas agora isto será um processo, se esta foi a decisão da Direção, é um processo pelo qual o João terá que passar e, seguramente, terá paixão suficiente para aprender, crescer e tentar dar uma continuidade de resultados o mais positiva possível para o clube», concluiu.
GRUPO TEM DE FAZER JUS À SUA SOLIDEZ
«Mais do que nunca, terá de ser o grupo de trabalho, e quando digo grupo de trabalho são jogadores, treinador e toda a estrutura do Sporting, a fazer-se forte e dar uma resposta já em Moreira de Cónegos, fazendo jus à tal solidez que fará com que o Sporting passe este momento de resultados menos positivos. É um momento menos bom que a equipa está a atravessar, que coincide com a saída do Ruben Amorim e com a entrada do João Pereira, se calhar também pode coincidir com algum abaixamento de forma de alguns jogadores e, portanto, é uma herança também pesada para o João, é a sua primeira experiência», realçou Beto.
AJUSTES NECESSÁRIOS
Nélson, antigo lateral dos leões, ressalvou que «substituir Amorim, nas circunstâncias em que foi, com relação aos resultados desportivos era difícil para qualquer treinador, tirando o resultado da Supertaça era quase impossível fazer melhor». E questionado sobre o que têm sido as escolhas do novo treinador, aponta algumas debilidades.
«Falando, por exemplo, do Edwards, é um jogador que desequilibra, mas que rende muito mais no lado direito, que foi onde se afirmou no V. Guimarães e também no Sporting, foi ali que conseguiu grandes exibições, jogando no lado contrário tira-lhe alguma essência, parece que fica mais bloqueado. O seu pé esquerdo, estando encostado mais à linha, não pode muito mais e o pé direito praticamente não usa, tirando uma outra situação, inclusive contra o Amarante, em que fez um excelente golo com o pé direito, acho-o intranquilo naquela posição», indicou, para depois passar a outro caso.
O Sporting tem de rapidamente ganhar um jogo para repor novamente os índices de confiança. Porque senão, vai começar a apoderar-se uma certa desconfiança no seio do grupo
«O Maxi a jogar lá atrás, nunca foi defesa direito, nem esquerdo. Nunca teve rotinas de defesa e está-se a notar isso, particularmente no jogo contra o Arsenal. Nesta fase, seria mais conservador poder pôr lá o Matheus Reis, porque quando uma equipa está mal e os índices estão em quebra é mais importante não sofrer golos.»
GANHAR PARA REPOR ÍNDICES DE CONFIANÇA
«É evidente que este jogo contra o Moreirense é um jogo que pode ser decisivo em todos os aspetos. Porque o Sporting tem de rapidamente ganhar um jogo para repor novamente os índices de confiança. Porque senão, vai começar a apoderar-se uma certa desconfiança no seio do grupo. E isso é a pior coisa que pode acontecer numa equipa, até para a própria equipa técnica. E não sofrer golos, quando uma equipa está mal e os índices estão em quebra é mais importante não sofrer, isto depois do Sporting ter sofrido seis golos em dois jogos, o que é uma barbaridade, sofreu mais golos do que no campeonato todo», alertou Nélson.
MANTER SISTEMA, MAS TALVEZ MUDAR O MODELO
Nélson considera importantíssimo o jogo em Moreira de Cónegos. «O João Pereira disse que não iria mexer no modelo de jogo, na forma e em tudo o que o Sporting estava a produzir, enquanto estava com o Ruben Amorim no comando técnico, o certo é que as coisas não estão a funcionar de maneira nenhuma. E no subconsciente o João poderá estar a pensar, talvez, de mudar em termos de modelo. Penso que não vai mudar em termos do sistema, mas talvez do modelo de jogo em si», sublinhou.
«O mais importante neste momento, mesmo que a equipa não jogue bem, isso é secundário, é retomar o caminho vitorioso», reforçou o antigo lateral: «Para retomar novamente um ciclo vitorioso, acho que são essas as principais nuances e objetivos que o Sporting tem de ter em mente.»