Soares de Oliveira esteve em Londres a partilhar experiência

Benfica Soares de Oliveira esteve em Londres a partilhar experiência

NACIONAL02.03.202322:41

Domingos Soares de Oliveira, CEO do Grupo Benfica, esteve em Londres nos últimos dois dias, na conferência O Negócio do Futebol, organizada pelo jornal Financial Times.

Sob a temática global 'New Money & the Battle for Growth', Soares de Oliveira, que esta semana foi formalmente acusado de fraude fiscal juntamente com a SAD encarnada, abordou diferentes assuntos, desde como o Benfica lida com os clubes mais poderosos financeiramente, passando pela aposta na formação e até a eventual criação de uma Liga Ibérica.

Eis algumas posições:

CRIAR VALOR E FAZER CRESCER O CLUBE

«A nossa estratégia há mais de 10 anos era que se queríamos competir ao mais alto nível não podíamos construir apenas sobre as mesmas fontes de receitas que todos. Agora, os direitos televisivos são elevados para Portugal, mas muito baixos em comparação com as cinco maiores Ligas... mesmo a Premier League. Se considerarmos em termos comerciais, patrocínios, etc., fizemos um trabalho fantástico, mas ainda é demasiado pequeno para conseguir reter os nossos jogadores. Assim, desde 2006/07, quando construímos a nossa academia, colocámos a negociação de jogadores como parte da nossa estratégia. Não é que gostemos de o fazer, não gostamos de o fazer, mas se quisermos manter as nossas receitas a aumentar e pagar salários elevados, temos de passar dos 100/150 milhões de euros que poderíamos gerar em Portugal, para 300 milhões de euros que é onde estamos neste momento. Seria uma pena concentrar o nosso crescimento apenas na negociação de jogadores. Atualmente temos alguns produtos que poderíamos exportar porque o mercado português é demasiado pequeno. Somos muito conhecidos pelo trabalho que temos feito na formação, por isso estamos a estabelecer parcerias fora de Portugal, já temos 10/12, de modo a gerar mais receitas em torno das academias com os nossos parceiros locais e as coisas estão a avançar na direção certa. Mesmo aqui, no Reino Unido, há uma grande oportunidade para nós.»

JUNTOS NA MESMA DIREÇÃO

«Claro que os adeptos têm opiniões fortes sobre as decisões que tomamos. Todos pensam em como o treinador deve comportar-se, que jogadores o treinador deve escolher e o que a Direção deve fazer, etc. O Clube pertence a 300.000 sócios e depois o Clube é proprietário de uma empresa cotada na bolsa que gere o futebol e temos diferentes acionistas, pelo que temos de cumprir muitas obrigações e muita informação, dependendo dos diferentes intervenientes. A forma como nos dirigimos a cada um dos intervenientes difere uma da outra. Claro que os adeptos esperam resultados imediatos e queixam-se se não ganharmos todos os fins de semana. Venho de uma área de negócios diferente e lá mostram-se os resultados uma vez por mês. Neste negócio é preciso mostrar resultados todos os fins de semana e por vezes até duas vezes por semana, portanto, é difícil. Mas com uma boa comunicação, e comunicamos como uma empresa cotada em bolsa a cada três meses, temos assembleias gerais com acionistas, e como Clube temos Assembleias Gerais com adeptos, e com uma boa comunicação é possível encontrar a estratégia certa e tentar que esta estratégia seja acolhida pela maioria das pessoas.»

UM OLHAR POR OUTRAS ESTRATÉGIAS

«É algo com que temos de lidar. Não o podemos contrariar. Lembro-me que enfrentámos o Manchester United na Champions League em 2005, e o David Gill estava no Man. United numa altura em que havia muito investimento de Roman Abramovich no Chelsea e eu perguntei-lhe se ele o considerava como concorrência desleal e ele respondeu que tinha de lidar com isso e encontrar uma solução. No nosso caso não é possível porque o Clube pertence aos sócios e os sócios nunca iriam aceitar mudar, no entanto, isso não significa que não possamos tentar perceber o que os proprietários de vários clubes estão a fazer e tentar enquadrar-nos com a nossa estratégia. No nosso caso temos tentado acompanhar os clubes por esse mundo fora, por diferentes razões. No nosso caso tem a ver com a procura de talento ou com a procura de negócios adicionais no que diz respeito à academia e temos tido sucesso, pelo que o podemos fazer sozinhos ou através de uma estratégia integrada… mas isso não significa que vamos vender a maioria do Clube a alguém.»

O BENFICA CAMPUS E O TALENTO EXTERNO

«A respeito da negociação de jogadores, existem duas opções. Ou desenvolvemos os nossos próprios jogadores na nossa academia, algo que temos feito com grande sucesso, ou temos acesso a jogadores de diferentes mercados. Nunca o fizemos num modelo de propriedade de vários clubes, pelo que não precisamos. Mas é evidente que se temos um clube com o qual temos uma parceria, como temos no Brasil, por exemplo, e se através dela nós podemos ter acesso a um talento diferente, então em vez de comprarmos um jogador como o Enzo Fernandez por um valor significativo, passamos a ter acesso a esse tipo de jogadores previamente. A questão é que agora não podemos trazer um jogador da América do Sul com menos de 18 anos e, por isso, temos de encontrar as ferramentas e o ambiente certo para desenvolver esses jogadores sob a nossa filosofia, com o nosso treino e metodologia e ter acesso ao talento local, para que não tenhamos necessidade de os trazer para a Europa.»
 

A CRIAÇÃO DE UMA OUTRA LIGA

«Creio que pela parte comercial seria fantástico ter uma Liga Ibérica, porque iríamos tirar proveito não de uma população de 10 milhões, mas de um total de 50 milhões. Atualmente pertencemos a um ecossistema, não só em Portugal, mas também na Europa, e se criássemos uma Liga Ibérica muitos dos clubes mais pequenos iriam desaparecer porque não poderiam enfrentar o Benfica, o FC Porto e o Sporting, pelo que acredito que estamos longe dessa situação.»