«Shakhtar vai superar-se pelo orgulho ucraniano»: os pontos fortes e fracos do adversário do FC Porto
José Boto conhece bem a equipa ucraniana e o que é isto de jogar sempre fora de casa. O ex-coordenador de scouting do Shakhtar Donetsk destaca alguns jovens com qualidade, mas antevê «dificuldades» pela falta de jogadores estrangeiros nesta altura
José Boto considera que o Shakhtar Donetsk é a equipa «com menos qualidade» do grupo H da Liga dos Campeões, mas deixa um aviso ao FC Porto para o encontro desta terça-feira: «Pela situação do país, eles vão superar-se para mostrarem o orgulho ucraniano».
O português que foi coordenador de scouting do Shakhtar Donetsk de 2018 a 2021 acredita que os ucranianos são a equipa «mais jovem» do grupo e «sem muita experiência» e que, «por isso, vão ter algumas dificuldades» em lutar pela qualificação com os portistas, Barcelona e Antuérpia.
Sem ter perdido o contacto com os amigos e funcionários do clube, além de ainda fazer questão de ver jogos do Shakhtar, José Boto destaca que «a capacidade para contratar jogadores não é a mesma» do que na sua altura, uma vez que, desde a invasão russa, no ano passado, «os jogadores estrangeiros não querem ir para a Ucrânia».
Atenção aos 'miúdos'
Mas há motivos para o FC Porto estar atento. «A base da equipa são os jogadores ucranianos que já lá estavam e muitos jogadores que vêm da formação» e o Shakhtar mantém «um estilo de jogo que tenta ser dominante, com muita posse de bola, embora agora seja mais difícil do que era há uns tempos, quando havia aqueles jogadores estrangeiros todos», refere José Boto, em entrevista a A BOLA.
E quais os pontos fortes da equipa? José Boto destaca de imediato os médios Georgiy Sudakov, de 21 anos, e Artem Bondarenko, de 23: «São miúdos com um potencial enorme e já com uma qualidade muito grande.» Mas também há lugar para os mais experientes no Shakhtar: «Depois há aqueles mais antigos, como o Stepanenko, que é ali o médio defensivo, o Matvienko, que é um dos defesas centrais…»
Para estas «andanças» da Liga dos Campeões, o ex-coordenador de scouting do Shakhtar acredita que «talvez faltem ali 4 ou 5 jogadores estrangeiros para suportarem os miúdos», como acontecia em 2020, quando os ucranianos eliminaram o Benfica na Liga Europa, com Luís Castro aos comandos. «Agora é uma equipa que não tem a qualidade, por exemplo, de quando jogámos contra o Benfica. Aí sim, era uma equipa fortíssima. Mas continua a ser uma equipa com qualidade», remata.
Segredo: não desvalorizar
Apesar das dificuldades do Shakhtar, tendo de jogar à distância do seu país em guerra e com um plantel menos arrojado do que noutras épocas, José Boto sublinha que «seria um erro muito grande» se o FC Porto desvalorizasse esta equipa.
«Eu penso que o Porto não vai desvalorizar o Shakhtar, até porque seria um erro muito grande e até porque o Porto não está a atravessar um momento muito bom também. Por exemplo, o Shakhtar é mais forte do que o Estrela da Amadora e o Porto teve grandes dificuldades com o Estrela, embora sejam jogos diferentes. Mas eu acho que o Porto não vai desvalorizar de maneira nenhuma o Shakhtar», afirmou.
O ex-coordenador de scouting dos ucranianos espera que os azuis e brancos se apresentem na máxima força: «Quando a bola começar a rodar, vão ter de dar ao pedal para conseguir ganhar.»
Jogar sempre fora
A guerra chegou a Kiev em 2022, mas desde 2014 que Donetsk vive em conflito. Daí que o Shakhtar, mesmo com uma estrutura «super profissional», não jogue em casa há muitos anos, como acontecia quando José Boto era lá coordenador de scouting.
«Nas primeiras duas épocas [entre 2018 e 2020], nós jogávamos em Kharkiv, mas a equipa estava sediada em Kiev. Todas as semanas viajávamos de avião para jogar. Na terceira época é que já começámos a jogar em Kiev. Houve ali uma melhoria muito grande, porque era muito cansativo todas as semanas termos de viajar», recorda. «É óbvio que isso era uma dificuldade enorme que o clube tinha, porque praticamente não tínhamos adeptos», continua, admitindo que, em Hamburgo, muitos ucranianos podem ir ao estádio torcer pelo Shakhtar como forma de apoio ao país em guerra.
José Boto sublinha que todas estas condicionantes acabaram por exigir que o Shakhtar se tornasse já há vários anos um clube «super profissional», que consegue que os seus funcionários «não sintam» o que se está a passar. «Desde a equipa técnica até uma quantidade enorme de jogadores, nós não tínhamos de nos preocupar com absolutamente nada», assegura, antevendo o que acontecerá com esta fase de grupos jogada numa cidade alemã: «Agora vão jogar em Hamburgo e com certeza que está tudo super organizado.»