ENTREVISTA EXCLUSIVA - João Félix e Bernardo Silva são amigos de longa data, e a carreira do primeiro já foi motivo de várias conversas entre ambos. O médio do Manchester City faz várias vezes questão de explicar que não se trata de uma crítica aos espanhóis quando reconhece que o compatriota tomou uma decisão errada.
- Uma pergunta um pouco mais séria. Podemos dizer mais ou menos, embora isto seja sempre algo subjetivo, que o Bernardo e o João Félix, tinham inicialmente as mesmas características. Alguma vez falaram sobre a forma como o Bernardo evoluiu e como o João Félix poderia evoluir?
- Eu percebo a questão porque o Félix na formação jogava a número 10 tal como eu, mas ele sempre foi um jogador… Ele era um número 10, mas muito mais um número 10 segundo avançado, que até podia jogar a avançado, e eu sempre fui muito mais um 10 a puxar para o 8. O Félix sempre foi mais golo, mais último terço, muito mais de desequilíbrios e de arriscar bastante e eu sempre fui um jogador mais de controlo, de manter a posse, apesar de também ser um driblador. Portanto, acho que nunca fomos assim tão parecidos e o caminho nas respetivas carreiras é bastante diferente. Aquilo que se pede ao Félix em campo é essa irreverência que eu tinha um bocadinho mais no meu início de carreira, sem nunca ter sido um jogador irreverente como o Félix. Portanto, é sempre difícil fazer essa comparação.
ENTREVISTA EXCLUSIVA - O romance entre Bernardo Silva e Pep Guardiola está longe de chegar ao fim. O português reconhece a importância que o técnico espanhol tem na sua carreira e acredita que ainda não aprendeu tudo o que pode aprender.
- A pergunta era mais no sentido se alguma vez falaram sobre a evolução dos jogadores com características ofensivas… Ao João é muitas vezes apontado, sobretudo nos tempos do Atlético Madrid, ser aquele jogador que não defende ou defende mal, pressiona mal, e o Bernardo transformou-se nesse sentido…
- Precisamos de perceber que os jogadores levam caminhos diferentes e o meu início de carreira foi o Mónaco enquanto que o do Félix foi o Benfica. Aí até é muito parecido. Mas o primeiro salto do Félix, para além de ter sido dado mais novo … Eu vi para o City com 22, 23 anos, já não me lembro, e o Félix foi para o Atlético de Madrid com 20, 21, muito mais novo… Temos de perceber que o Atlético de Madrid e o Manchester City são dois clubes culturalmente muito diferentes, porque… e não estou a dizer que um é melhor do que o outro, não vou por aí, estou só a dizer que para um jogador como o Félix e, mais uma vez isto não é uma crítica ao Atlético, eu vim para um ambiente que se enquadrava exatamente com as minhas qualidades, com um treinador que pensa da mesma forma do que eu, que gosta de ter bola, que gosta de pressionar alto que… e portanto tudo perfeito para mim… e o Félix, por força das circunstâncias, na minha opinião, acabou por ir para o sítio errado. Perguntam-me a mim: se tivéssemos feito o caminho inverso teria eu tido sucesso no Atlético de Madrid? Se calhar não. Provavelmente teria tentado adaptar-me, teria dado o meu melhor para jogar da forma que o treinador quer. No final de contas, temos de seguir a ideia do treinador. Mas não teria sido o ideal para mim. Eu acho que, e eu já disse isto ao Félix, e acho que ele não se importa que eu diga isto aqui porque somos bastante amigos, o caminho que ele tomou na altura também por força das circunstâncias, porque no final de contas se calhar convinha ao Benfica que fosse para o Atlético porque era o Atlético que pagava aquele valor ou pagava o dinheiro todo na altura em vez de ser em tranches… Não sei, não sei o que aconteceu, mas foi qualquer coisa deste género: compensava mais ir para ali do que para outro lado… Agora estou feliz com o que lhe tem vindo a acontecer nos últimos tempos porque o vejo bastante mais feliz e num ambiente mais dentro daquilo que é o estilo de jogo dele e vamos dar-lhe um bocado mais de tempo para ele fazer bem as coisas, porque passou por uma fase difícil, ele próprio o admitiu que estava num ambiente que não era o mais indicado para a carreira dele, e é a vida… Às vezes tomamos decisões e vamos por caminhos que se calhar não devíamos ter ido, mas faz parte… Serve para aprender, para nos tornarmos mais fortes. O Félix é um jogador muito mais forte do que era há uns anos.
ENTREVISTA EXCLUSIVA - Bernardo Silva não esconde a felicidade que o ano que agora acaba teve na sua vida; assume desejo e responsabilidade para os próximos meses com a camisola das quinas; e projeta o que serão os próximos tempos da carreira