Roménia: o guia
Roménia (IMAGO / Alexandra Fechete)

Euro 2024 Roménia: o guia

INTERNACIONAL25.05.202412:00

Expectativas

A Roménia regressa à ribalta do futebol depois de falhar os últimos três grandes torneios, Mundiais de 2018 e 2022, e o EURO 2020. A última vez que se qualificou para o EURO, em 2016, a experiência foi tão má que os romenos tentaram apagá-la da memória.

A Roménia foi corajosa frente à França (derrota por 2-1) e Suíça (empate, 1-1), mas depois perderam o jogo decisivo do grupo frente à Albânia (1-0) e sucumbiram à mediocridade durante os próximos oito anos. O resultado contra a Albânia resumiu bem a realidade que o futebol romeno tem vivido na última década: não estão próximos o suficiente das grandes equipas, não são maduros o suficiente e não são bons o suficiente. Nada é suficiente.

Bem, isso era o caso até começar a qualificação para o EURO 2024, pelo menos. Esta era uma equipa «normal» sem indivíduos excecionais, guiados pela resiliência e grande espírito coletivo, e que foram capazes de apagar a etiqueta «não é bom o suficiente». Venceram o grupo e acabaram a campanha invictos, batendo Suíça, Israel e Kosovo rumo ao EURO. 

Um dos jogadores mais icónicos do país, Gheorghe Hagi, o super-herói do Mundial 1994, gosta de dizer que os “Tricolorii” só foram eliminados nos quartos de final há 30 anos para «elevar a fasquia e inspirar gerações futuras a bater essa campanha». Hagi é a favor de que a Roménia vai impressionar na Alemanha, o que não é surpresa, já que o seu filho, Ianis – que passou a última época emprestado ao Aláves – faz parte do plantel. »Tenho um filho legítimo nesta equipa, mas outros também», gosta de dizer, em referência aos jogadores (mais de um terço da seleção) formados na sua academia, perto da sua cidade natal de Constanta.

Deve esperar-se algo especial desta equipa no verão? Se definirmos «especial» como trabalhadora, uma mentalidade sólida e um fantástico know-how em termos de saber sofrer, então sim, a Roménia vai ser encantadora. Mas se não gostar de masoquismo no futebol, então olhe para outro lado. Esta Roménia está a maximizar os seus recursos e a fazer dos adeptos orgulhosos por apoiá-la. Os romenos vão lutar contra qualquer um, disso pode-se ter a certeza.

O selecionador

Edward Iordanescu, selecionador da Roménica, falou em exclusivo a A BOLA (IMAGO)

Edward Iordanescu era o homem no cargo quando a Roménia que foi despromovida à Liga C, na Liga das Nações, terminando em último de um grupo consistindo de Finlândia, Montenegro e Bósnia. Dificilmente inspirador. Mas também foi Iordanescu que encontrou uma forma de ter sucesso apesar da qualidade limitada no plantel para construir uma base forte para a qualificação do EURO. Merece muito crédito por reconstruir caráter, espírito de grupo e crença no plantel. Fiel aos seus jogadores, Iordanescu não mudou muito nos dois anos ao comando – e essa confiança foi recompensada. É um treinador pragmático e bem organizado, mas também adaptável, significando que pode muito bem ter de reverter a uma linha defensiva de três se as ofensivas adversárias forem demasiado fortes para lidar.

O ícone

Quando há um Hagi na equipa, imaginar-se-ia um jogador com a camisola 10 nas costas. Mas o número 10 da Roménia no EURO será Nicolae Stanciu. O dotado médio é capaz de ditar o jogo, fazer passes longos, rematar de longa-distância ou driblar adversários. Outrora um alvo da academia do Chelsea, Stanciu nunca chegou a esse nível na sua carreira pela falta de consistência. Assinou pelo Anderlecht numa tenra idade, depois jogou pelos arqui-inimigos Sparta e Slavia de Praga antes de se juntar ao Wuhan da China e ao Damac da Arábia Saudita. Se estiver em boa forma é capaz de parecer um jogador de topo mesmo contra adversários desse tipo.

Para ter debaixo de olho

Denis Dragus não se afirmou no Standard Liège, na Bélgica, nem impressionou por empréstimo no Génova. Mas esta época, pelo Gaziantepspor, na Turquia, mostrou que pode ser viável para o seu clube e treinador. Dragus é um jogador extremamente hábil que é igualmente bom a jogar na esquerda ou como ponta-de-lança. Em termos de habilidade não é muito diferente a um tal de Jack Grealish. Marcou 14 golos pelo Gaziantepspor esta época e assistiu para outros dois, ajudando a sua equipa a escapar à despromoção. O Trabzonspor já concordou em adquiri-lo por mais de 2 milhões de euros ao Standard, clube ao qual ainda está vinculado. Um de muitos produtos da academia de Hagi na seleção.

Espírito rebelde

IMAGO / NurPhotoQatar SC v Muaither SC- Qatar Stars League Ibrahim Majed Abdullmajed (L) of Qatar SC and Denis Alibec (R) of Muaither SC are battling for the ball during the EXPO Stars League 23/24

Iordanescu joga de jogadores disciplinados que oferecem estabilidade e respeitam as suas regras, mas Denic Alibec pode preencher essa posição de rebelde na equipa. Formou-se no Inter, treinou com José Mourinho e Rafa Benítez, e jogou ao lado de Mario Balotelli. As expectativas eram nomes, mas Alibec nunca chegou ao mais alto nível. Construiu uma carreira respeitável na Roménia, mas foi criticado por nunca ter amadurecido. Alibec ainda adora videojogos e chocolate, e já se meteu em problemas por mostrar claramente o seu descontentamento para com o banco ou com os colegas durante os jogos.

A espinha dorsal

Moldovan, Dragusin, Stanciu, Man. Horatiu Moldovan foi brilhante durante a qualificação e as suas prestações na seleção garantiram-lhe uma mudança para o Atlético de Madrid. Lá, claro, não jogou devido a um certo Jan Oblak, mas Iordanescu ainda o vê como o titular. Radu Dragusin, do Tottenham, viu a sua importância na seleção cresceu exponencialmente no último ano, proporcionalmente ao passo em frente que deu na carreira. Foi da segunda divisão italiana à Premier League em apenas 6 meses. No meio-campo, Nicolae Stanciu é o jogador-chave e muito vai depender da sua forma e níveis físicos. Na frente, é a estrela do Parma, Dennis Man, de quem se esperam golos. Teve uma grande época na Serie B, contribuindo para a subida de divisão, e os adeptos romenos esperam que corresponda pela seleção também.

Onze provável

4-3-3: Moldovan - Rațiu, Drăgușin, Burcă, Bancu - Stanciu, Marius Marin, Răzvan Marin - Man, Alibec, Drăguș.

Adepto famoso

Rei Carlos III. Visitou a Roménia pela primeira vez em 1998 e apaixonou-se pelo país e pelas pessoas. Voltou quase todos os anos desde aí, incluindo em 2023, antes do seu diagnóstico de cancro. A sua contribuição para caridades e o seu constante apoio são muito respeitados por todo o país. Tem várias propriedades na Roménia rural, onde prefere ir durante as suas visitas. A sua contribuição para a restauração da vila Viscri, na Transilvânia, transformou o lugar num popular destino turístico. Era suposto o Rei Carlos ter conhecido o «Rei Romeno» Gheorghe Hagi durante a sua visita a Bucareste o ano passado, mas o «Maradona dos Cárpatos» não pôde estar presente por já ter um compromisso com um encontro de exibição ao qual já tinha concordado jogar.

Petisco

Nada combina melhor com futebol do que o mici, o rolo de carne picada grelhada que é tão popular em Bucareste e além. Claro, não é muito bom para os jogadores, já que não é a mais saudável das refeições, e deixam com sede, o que pode fazer com que se vá buscar uma cerveja. Pode encontrar-se mici em quase qualquer restaurante romeno e se a seleção surpreender toda a gente e ganhar o EURO, certamente que os jogadores vão ser autorizados a celebrar com um barbecue cheio de mici.