Leão só ‘jogou’ a segunda parte na Áustria e a primeira ontem à noite; Rio Ave inofensivo, mas com um ‘se’ de seis centímetros...
O Sporting entrou a todo o gás na noite de ontem em Alvalade e atropelou, pura e simplesmente, o Rio Ave nos primeiros 45 minutos, desenvolvendo um futebol a espaços brilhante, com o envolvimento de toda a equipa. Ao intervalo, os 2-0 que estavam plasmados no marcador não traduziam tanta superioridade e tantas ocasiões desperdiçadas.
Sem Gyokeres, tocado e por isso poupado, que tem sido a estrela da companhia, a equipa de Rúben Amorim equilibrou-se no duplo pivot formado por Hjulmand e Morita — com o nórdico ao lado, o japonês é capaz de se soltar para terrenos onde se integra na manobra atacante, e o primeiro golo traduziu essa realidade —, foi incisiva com Paulinho, suavemente assertiva com Pedro Gonçalves e acabou a explodir na genialidade de Edwards, que tirou um coelho da cartola no lance do 2-0, momento que valeu o bilhete pago para estar em Alvalade.
Perante um Rio Ave que, apoquentado por lesões, fez o que pôde ao longo da metade inicial, e diga-se que foi muito curto o que apresentou, com o primeiro remate à baliza de Adán, da autoria de Fábio Ronaldo, a surgir, muito de longe e muito por cima, apenas ao minuto 39, os leões ficaram a dever-se uma vantagem mais gorda. Quando uma equipa, como foi o caso do Rio Ave, deixa que jogadores como Pedro Gonçalves ou Edwards recebam a bola entre linhas e encarem os defesas, está mesmo a pedir sarilhos. A mobilidade do ataque do Sporting, onde, quando a bola era perdida, Paulinho recuava para tapar Amine, bloqueando as saídas dos forasteiros, levou demasiadas vezes o pânico ao último reduto vilacondense. Estivesse Pote em modo de golo, e as contas seriam outras...
Uma parte e mais nada...
Se na Áustria, na última quinta-feira, o Sporting se esqueceu de jogar a primeira parte, ontem pouco jogou na segunda. De facto, mesmo que a fadiga da jornada europeia e um resultado que parecia confortável pudessem levar a que os leões tirassem o pé do acelerador, a diferença entre as metades inicial e complementar foram demasiado evidentes. Tivesse o Rio Ave, na sequência de um lance de bola parada, aos 49 minutos, quando o recém entrado Ventura cruzou para Costinha, de cabeça, meter a bola no fundo das redes de Adán, reduzido distâncias, a história do jogo podia ter sido escrita com mais sofrimento para os leões. Porém, seis centímetros de ilegalidade frustraram os vilacondenses e o Sporting pode continuar a baixar o ritmo, a baixar as linhas, e a convidar o adversário a subir no terreno, para depois desferir contra-ataques que com mais inspiração podiam ter dado golo. Luís Freire, que tinha mexido bem no recomeço, colocando Fábio Ronaldo onde mais rende, foi tentando refrescar a equipa com substituições diretas, mas a manta era curta e, embora as operações ficassem mais equilibradas, nunca foi capaz de colocar em xeque a vitória leonina. No futebol tecnológico, pensará Freire, por seis centímetros se incomoda, por seis centímetros se perde o pé.
Mas não se pense que perante a crescente apatia dos leões na segunda parte, Amorim se manteve impávido e sereno. Aos 67 minutos lançou Bragança e Trincão (que na ânsia de se afirmar está cada vez mais egoísta, e mereceu os assobios que Alvalade lhe dedicou num dos lances em que quis fazer tudo sozinho), e dez minutos mais tarde trocou os alas, para não deixar que o ritmo caísse ainda mais, mantendo, ao mesmo tempo, o Rio Ave sob controlo.
Garantidos os três pontos, num jogo que será lembrado sobretudo pela genialidade de Edwards no 2-0, percebe-se que o Sporting tem argumentos para atacar o título nacional, mas continuam presentes alguns dos piores tiques da época passada, que levam a que a equipa, de vez em quando, se desligue da partida. Ao Sporting, que tem um sistema enraizado e bem oleado, não faltam jogadores, muito menos treinador ou entusiasmo dos adeptos. Mas, como ontem foi evidente, há falta de continuidade na concentração competitiva.
Não foi para inglês ver, foi para português, espanhol, francês... O camisola 10 marcou sem ângulo, ajudou a atacar, a defender... Paulinho mostra os dentes em (quase) todos os jogos
O melhor dos vila-condenses em Alvalade