«Primeiro resolver, depois deixar andar», a crónica do Rio Ave-Sporting
Paulinho festeja mais um golo
Foto: IMAGO

«Primeiro resolver, depois deixar andar», a crónica do Rio Ave-Sporting

NACIONAL26.09.202300:38

Leão só ‘jogou’ a segunda parte na Áustria e a primeira ontem à noite; Rio Ave inofensivo, mas com um ‘se’ de seis centímetros...

O Sporting entrou a todo o gás na noite de ontem em Alvalade e atropelou, pura e simplesmente, o Rio Ave nos primeiros 45 minutos, desenvolvendo um futebol a espaços brilhante, com o envolvimento de toda a equipa. Ao intervalo, os 2-0 que estavam plasmados no marcador não traduziam tanta superioridade e tantas ocasiões desperdiçadas.

Sem Gyokeres, tocado e por isso poupado, que tem sido a estrela da companhia, a equipa de Rúben Amorim equilibrou-se no duplo pivot formado por Hjulmand e Morita — com o nórdico ao lado, o japonês é capaz de se soltar para terrenos onde se integra na manobra atacante, e o primeiro golo traduziu essa realidade —, foi incisiva com Paulinho, suavemente assertiva com Pedro Gonçalves e acabou a explodir na genialidade de Edwards, que tirou um coelho da cartola no lance do 2-0, momento que valeu o bilhete pago para estar em Alvalade.

Perante um Rio Ave que, apoquentado por lesões, fez o que pôde ao longo da metade inicial, e diga-se que foi muito curto o que apresentou, com o primeiro remate à baliza de Adán, da autoria de Fábio Ronaldo, a surgir, muito de longe e muito por cima, apenas ao minuto 39, os leões ficaram a dever-se uma vantagem mais gorda. Quando uma equipa, como foi o caso do Rio Ave, deixa que jogadores como Pedro Gonçalves ou Edwards recebam a bola entre linhas e encarem os defesas, está mesmo a pedir sarilhos. A mobilidade do ataque do Sporting, onde, quando a bola era perdida, Paulinho recuava para tapar Amine, bloqueando as saídas dos forasteiros, levou demasiadas vezes o pânico ao último reduto vilacondense. Estivesse Pote em modo de golo, e as contas seriam outras...

Uma parte e mais nada...

Se na Áustria, na última quinta-feira, o Sporting se esqueceu de jogar a primeira parte, ontem pouco jogou na segunda. De facto, mesmo que a fadiga da jornada europeia e um resultado que parecia confortável pudessem levar a que os leões tirassem o pé do acelerador, a diferença entre as metades inicial e complementar foram demasiado evidentes. Tivesse o Rio Ave, na sequência de um lance de bola parada, aos 49 minutos, quando o recém entrado Ventura cruzou para Costinha, de cabeça, meter a bola no fundo das redes de Adán, reduzido distâncias, a história do jogo podia ter sido escrita com mais sofrimento para os leões. Porém, seis centímetros de ilegalidade frustraram os vilacondenses e o Sporting pode continuar a baixar o ritmo, a baixar as linhas, e a convidar o adversário a subir no terreno, para depois desferir contra-ataques que com mais inspiração podiam ter dado golo. Luís Freire, que tinha mexido bem no recomeço, colocando Fábio Ronaldo onde mais rende, foi tentando refrescar a equipa com substituições diretas, mas a manta era curta e, embora as operações ficassem mais equilibradas, nunca foi capaz de colocar em xeque a vitória leonina. No futebol tecnológico, pensará Freire, por seis centímetros se incomoda, por seis centímetros se perde o pé.

Mas não se pense que perante a crescente apatia dos leões na segunda parte, Amorim se manteve impávido e sereno. Aos 67 minutos lançou Bragança e Trincão (que na ânsia de se afirmar está cada vez mais egoísta, e mereceu os assobios que Alvalade lhe dedicou num dos lances em que quis fazer tudo sozinho), e dez minutos mais tarde trocou os alas, para não deixar que o ritmo caísse ainda mais, mantendo, ao mesmo tempo, o Rio Ave sob controlo.

Garantidos os três pontos, num jogo que será lembrado sobretudo pela genialidade de Edwards no 2-0, percebe-se que o Sporting tem argumentos para atacar o título nacional, mas continuam presentes alguns dos piores tiques da época passada, que levam a que a equipa, de vez em quando, se desligue da partida. Ao Sporting, que tem um sistema enraizado e bem oleado, não faltam jogadores, muito menos treinador ou entusiasmo dos adeptos. Mas, como ontem foi evidente, há falta de continuidade na concentração competitiva.