«Por erro se ganha, por erro se perde», a crónica do FC Porto-Barcelona
Barcelona festeja o triunfo no Dragão (Foto: Sports Press Photo/IMAGO)
Foto: IMAGO

Liga dos Campeões «Por erro se ganha, por erro se perde», a crónica do FC Porto-Barcelona

NACIONAL04.10.202323:52

Mais do que sorte, faltou, ao FC Porto, eficácia e qualidade nos lances decisivos; uma exibição em crescendo, que alarmou o Barcelona

Felizmente, já ultrapassámos aquele tempo deprimente e fatalista das vitórias morais. As equipas portuguesas não precisam de uma solidariedade bacoca e provinciana. Muito menos o FC Porto, que continua a ser a equipa portuguesa com mais personalidade internacional. Por isso, a derrota com o Barcelona tem uma justificação objetiva: um erro deu origem a uma perda de bola em zona proibida e esse é o tipo de erro que não se pode cometer na Champions e, sobretudo, quando o adversário tem a dimensão do Barcelona. 

Pode um simples erro justificar por inteiro uma derrota? Não. Temos de juntar falta de instinto de golo ao FC Porto que, por isso, não conseguiu tirar o partido que devia e merecia de um domínio que, na segunda parte, se tornou avassalador, obrigando o Barcelona a defender-se como podia e a somar faltas e cartões amarelos que ilustravam uma equipa alarmada. 

Menos risco e mais segurança

Sérgio Conceição tinha dito na conferência de imprensa, antes do jogo, que era contra a ideia de um treinador apenas pensar na sua equipa, sem pensar nas características do adversário. Terá sido, pois, a pensar no Barcelona que decidiu apresentar um onze que fazia antever menos risco, mas maior segurança. Um único ponta de lança, Taremi, e um meio campo mais forte, que tornava a equipa mais equilibrada e mais preparada para as transições dos catalães. Alan Varela foi um médio defensivo de largo espetro e, na sua frente, linhas alargadas com Pepê na direita e Galeno na esquerda, com apoios centrais de Baró e de Eustáquio, dois jogadores que criam pressão com bola, mas que têm reconhecidas qualidades defensivas.

O Barcelona deu-se bem com essa ideia portista. Não sofreu calafrios e conseguiu ter densidade e diversidade nos lances de ataque.O suficiente para chegar ao intervalo em vantagem? Não, necessariamente. Apenas o suficiente para ter o jogo controlado.

E como o FC Porto cresceu...

Apesar de ter sofrido o golo, nos últimos momentos da primeira parte, algo que pode derrubar psicologicamente uma equipa, a verdade é que o FC Porto não só recuperou dessa situação traumática, como surgiu na segunda parte mais convicto de que não iria perder o jogo. E apesar de nem sempre as coisas lhe correrem bem, particularmente na qualidade e na intensidade como conseguia atacar a baliza de Ter Stegen, a verdade é que a equipa foi sempre em crescendo até ao final, altura em que encostou o Barcelona às cordas e quase tornou  banal uma das mais fortes e tituladas equipas do mundo. Poder-se-á até dizer que a partir de um lance de golo feito de Pepê, que Koundé salvou por milagre, o FC Porto rapidamente optou por jogar com dois pontas de lança (entrada de Evanilson) e perdeu, por completo, o respeito ao Barcelona no assalto final em que, aí, sim, correu alguns riscos, mas esteve mais perto do golo.

No último quarto de hora, a aposta mais radical, com as entradas de Francisco Conceição para desequilibrar no flanco direito e de Ivan Jaime para desequilibrar no flanco esquerdo. Pepê recuou para lateral direito e, em tempos de aflição, o Barcelona ainda se viu privado de Gavi,  expulso com segundo cartão amarelo. 

Pode dizer-se que, para uma derrota, nem precisava de ter havido tanto Porto. Mas o futebol ao mais alto nível não é decidido apenas por maior pressão territorial ou por domínio do jogo. Às vezes, como aconteceu ontem, pode ser decidido por um erro, sobretudo quando o adversário tem uma qualidade individual elevada e uma consistência na organização coletiva que se torna difícil de desmontar. E também quando à equipa que heroicamente procura o golo falta algum engenho e arte para resolver melhor nos espaços de baliza. Ou seja, é também de eficácia no golo que se precisa  nos momentos decisivos.

Mesmo assim, apesar da derrota, o FC_Porto tem o melhor e o mais limpo horizonte das equipas portuguesas na Champions e dificilmente não será apurado.