Zalazar encarnou o pontapé do King, homenageado nesta noite na Luz, mas a coroa do jogo levou-a o 9 do Benfica
Era para ser uma noite de emoções, mal nos ecrãs do estádio surgiu homenagem a Eusébio. E se o pontapé do King foi, ironicamente, encarnado por um homem vestido de um azul quase celestial, a coroa do jogo levou-a Arthur. Um homem com nome de rei, mas com exibições aquém da exigência da corte benfiquista. A chegada de um novo pretendente, Marcos Leonardo, trouxe o melhor Arthur Cabral a um Benfica que precisou de classe individual para bater um SC Braga que viveu muito de Zalazar e que teve em João Moutinho a alma velha de João Neves.
Dizia-se que a noite seria de emoções e foi. Esta espécie de novo clássico – e se a este termo chegámos, o valor é do SC Braga – começou com um Benfica com onze igual a Arouca, a querer entrar rápido, mas a sofrer um desvio nas intenções.
Ponta de lança brasileiro com passos estonteantes no segundo e terceiro golos, que deram mais brilho à vitória as águias; Guarda-redes ucraniano não treme e foi novamente parede; João Neves e Aursnes sempre a acelerar
A primeira parte até se resumia de modo fácil. Os minhotos chegaram ao 1-0 por Zalazar e pelo toque de João Mário e quiseram guardar coisa tão preciosa, resguardados num 4x5x1 forçado pelas circunstâncias em que, beneficamente, se colocaram.
As duas premissas do jogo
Foi, no fundo, a inversão do que se tinha visto em Braga, na Liga. Mas este jogo seria diferente. Para bem do espetáculo e da homenagem a Eusébio.
Grande jogo na Luz, com o Benfica a vencer o SC Braga, por 3-2, com golos muito bonitos dos dois lados. Águias em frente, minhotos despedem-se com sabor a injustiça
O Benfica passou muito tempo a tentar furar pelo meio uma estrutura que não abanava. Tentou, então, a largura, mas com Di María desinspirado e sem Aursnes também a subir pelo flanco, não seria pelo lado oposto que também iria chegar à baliza de Hornicek: os da Luz são muitas vezes assimétricos, fruto das características diferentes entre Aursnes e Morato e também Di María e João Mário.
Ora, entre um remate de João Neves e um cabeceamento de António Silva passou-se meia hora em que o jogo não produziu nada de emotivo e jogou-se nestas premissas: o SC Braga estancava jogo com superioridade no meio-campo, o Benfica tentava imaginar linhas de passe que, simplesmente, não viriam a existir pela qualidade do desafio que os minhotos propuseram à equipa de Schmidt.
Sem o melhor Di María para desequilibrar, o talento individual ao serviço do coletivo teria de aparecer de outro alguém, como sucedeu mais à frente, pois a equipa não estava a conseguir encontrar as soluções necessárias - diga-se, porém, que o fez com segurança e também deixou os minhotos ao largo.
Houve, porém, motivos de interesse nesses 30 minutos entre vantagem minhota e empate. João Moutinho e João Neves, tão parecidos que eles são nos centímetros, mas, sobretudo, na qualidade trouxeram ao relvado valor futebolístico, mais visível no benfiquista pelo lance do 1-1. Recuperação, passe e Kokçu com via aberta para lançar um inesgotável Rafa que foi eficaz à primeira ocasião. A persistência do Benfica teve prémio quando o SC Braga se apanhou em contrapé na retaguarda, porque de resto, os minhotos tinham estado impenetráveis. Já o 2-1 é uma história para contar à frente.
A outra dedicatória a Eusébio
O pontapé de Zalazar para o 2-2 foi outra dedicatória ao homenageado Eusébio, com o SC Braga a partir daí a ser mais confiante, seguro, a retirar a bola ao Benfica e a rematá-la para as mãos de um Trubin que também saiu como um dos melhores do jogo.
Mas a história da noite é de Arthur Cabral, que criou dois golos. O primeiro só dele, com uma rotação imprevisível e um remate forte, o segundo com uma assistência de classe para Aursnes colocar os encarnados nos quartos de final. À homenagem a Eusébio, seguiram-se os aplausos a Arthur Cabral, um avançado que se não tem mais nenhum atributo – terá certamente - tem um calcanhar de ouro que resolveu problemas em Salzburgo e o difícil jogo que o SC Braga impôs na Luz.