O fim do mundo com as derrotas, pedido ao 'Pai Natal' Varandas e o dérbi: tudo o que disse João Pereira

NACIONAL21.12.202414:44

Treinador do Sporting fez a antevisão ao jogo com o Gil Vicente. Ainda abordou tema das lesões, o discurso do presidente Frederico Varandas nos Prémios Stromp e a dérbi com o Benfica

- Foram mais 120 minutos nas pernas dos jogadores, frente ao Santa Clara, mas esse cansaço parece ser atenuado com vitórias.

- É tudo mais fácil quando se ganha. Mesmo quando as vitórias são difíceis, quando se trabalha sobre vitórias é mais fácil. Não há muito tempo para treinar, é mais para recuperar os jogadores, falar-lhes da alimentação, do descanso, dos banhos, das massagens, do treino invisível como costumamos dizer no futebol. É a parte mais importante agora para estarem fresquinhos para amanhã.

- O que espera do jogo com o Gil Vicente, adversário que nos últimos quatro jogos tem três vitórias?

- É uma equipa com uma ideia bem clara e trabalhada, com um treinador que não começou a pré-época, mas que já teve tempo para trabalhar a sua equipa. É muito forte na construção, usa muito o guarda-redes e o número 6, e tem jogadores que jogam entrelinhas, o Fujimoto com muita qualidade, tal como jogadores muito rápidos nas alas, com muitas roturas e muita profundidade. Vem do melhor momento no campeonato, vai jogar em casa e está motivada. Vai ser um jogo difícil, mas vamos entrar para ganhar os três pontos.

- Após o jogo com o Santa Clara o seu adjunto Tiago Teixeira disse que assinava por baixo que as vitórias podiam ser todas assim sofridas. Também partilha dessa opinião?

- Não, que não gosto de sofrer assim tanto [risos]. Foi a opinião do Tiago no momento, é normal. Primeiro, não gosto de sofrer tanto. Depois, prefiro ganhar a praticar bom futebol e a dar mais espetáculo, mas, neste momento, o importante era ganhar, após quatro derrotas seguidas. Vamos com duas vitórias seguidas, o que é importante de salientar, mas há um longo trabalho pela frente. Temos de melhorar em muitos aspetos, toda a gente consegue ver que a equipa ainda não joga da maneira como jogava, não tem tanta avalanche ofensiva, não ganha por tanta diferença. É um processo. Não nos podemos esquecer de que há uma ou duas semanas estávamos a falar das quatro derrotas seguidas e estava a ser o final do mundo. Temos de pegar nas coisas positivas. Conseguimos duas vitórias, sofridas, mas são vitórias e há coisas boas a retirar. Nota-se que os jogadores querem muito. Às vezes, o querer tanto traz alguma ansiedade. O que o Tiago também disse é que houve jogos em que perdemos, mas fomos superiores. Não praticando um futebol excelente, não sendo aquilo que era, acho que em nenhum jogo fomos inferiores. Fomos sempre superiores e podíamos ter ganho os jogos que perdemos.

- O presidente Frederico Varandas disse que lhe deu um presente envenenado. Considera o mesmo?

- Não... Temos de ver o contexto em que as coisas são ditas tentar entender o significado. O presente envenenado é muito... Toda a gente sabe. Se entrasse e o Sporting continuasse a ganhar e a jogar bem, o que é que o João Pereira tinha feito? Nada, era jogar e pronto. O mérito não era do João, era dos jogadores e do treinador que cá estava. O João entrou, começaram a perder e a culpa é de quem? Do João Pereira. É muito por aí que o presidente referiu isso do presente envenenado. Agora, jamais era impossível dizer 'não' a treinar o Sporting.

- Como é que se trabalha com esta pressão constante de que tem sido alvo? Como tem vivido estes dias e consegue tirar tudo da cabeça e focar-se no futebol?

- Não é fácil abstrair-me, mas, felizmente, tenho um apoio familiar muito forte em casa e dá para me distrair um bocado, principalmente, com os meus dois filhos, que é um fim do mundo quando chego a casa, apesar de eles só quererem jogar futebol, mas dá para distrair. A partir do momento em que vão para a cama, quem sofre mais é a minha mulher, porque na minha cabeça está sempre o futebol, o futebol e o futebol. Às vezes, a vida privada fica para trás, o que não é bom, mas tem de ser assim. Ela percebe perfeitamente que, neste momento, o foco é outro, e o pouco tempo que tenho é para dar atenção aos dois filhos que tenho em casa.  

- Os adeptos estavam habituados a ver a equipa a jogar bem e a ganhar. Na sua cabeça quando acha ser possível voltar a atingir esse patamar?

- O importante é ganhar. Contra o Boavista tivemos ocasiões claras para o resultado ser dilatado e sofremos dois golos o que complicou muito o jogo. Foi uma vitória complicada, mas se analisarmos bem foi o nosso jogo mais conseguido em termos de oportunidades e avalanche ofensiva. Cometemos dois erros que foram golos do Boavista e parece que foi um jogo muito dividido, mas não foi. Com o Santa Clara não tivemos tantas oportunidades, mas foi o jogo em que defensivamente estivemos mais fortes em muitas coisas que tínhamos de melhorar e melhorámos. Sofremos um golo para lá da hora, só tinham tido uma oportunidade no jogo todo, que foi do Gabriel e depois foi canto e golo.

- Está aqui mais desinibido, é resultado também das últimas vitórias? Sente que, de alguma forma, afastou a pressão que existia sobre si?

- Não, a pressão é todos os dias, nos treinos e nos jogos. Estou mais liberto porque isto é uma evolução, já não é a primeira vez, nem a segunda, nem a terceira que estou aqui a falar convosco, uma pessoa vai aprendendo, e o departamento de comunicação do Sporting ajuda-me a melhorar dia após dia. É como os jogadores, para melhorar tenho de treinar certas coisas. E não vamos esconder que é muito mais fácil estar aqui a falar depois de ganhar do que depois de perder, principalmente depois de perder quatro vezes seguidas o estado de espírito nunca pode ser igual. Sempre tentei passar as minhas ideias, às vezes, logo no início, lembro-me do erro de casting, é essas coisas que temos de treinar e eu não tinha muita prática, mas tem muito a ver com a evolução e com o treino que tenho tido neste processo da comunicação, muito longe de estar perfeito, há um trabalho árduo pela frente, mas estamos aqui para trabalhar.

- Tem tido uma onda de lesões e o Sporting vai entrar numa fase de calendário complicado. Como é que está a fazer a gestão do plantel?

- É verdade, temos muitos jogadores lesionados, mais dois castigados, o que não ajuda. Mas é o jogo de domingo que temos de ganhar, para podermos continuar em primeiro lugar e passarmos um Natal mais descansados. Depois temos três dias para nos abstairmos do futebol e estarmos com as famílias e recuperar para os próximos jogos. Os jogadores de futebol são assim, há os que querem jogar sempre, mas o cansaço depois afeta o rendimento e aumenta o risco de lesão, mas, no pouco tempo que temos para treinar, aproveitamos para recuperar.

- É possível apostar em Harder e Gyokeres juntos em Barcelos. É uma solução que está na sua cabeça?

- A solução é jogar o Harder, o Quenda, o Edwards, o Geny... Há tanta gente que pode jogar lá. Vamos ter de esperar pelo onze uma hora antes do jogo.

- Na cabeça dos jogadores já está o dérbi com o Benfica?

- O jogo com o Benfica ainda está longe. Ganhámos dois jogos, temos de ganhar o terceiro e é nisso que estamos focados. No futebol não adianta estar a pensar mais à frente sem concretizar o que vai acontecer, agora.

- O presidente Frederico Varandas disse que Trincão está morto e sem ninguém para o render. Terá sido esquecido Edwards. Tem sido uma opção tática ou algo a ver com a atitude do jogador?

- É uma questão tática. O Trincão tem sido um elemento muito importante no Sporting. Passou por uma fase difícil, agora está a viver uma fase boa e o treinador tem de ser inteligente e aproveitar essa fase. O Trincão é dos jogadores mais resistentes da equipa, o que tem umas métricas maiores, dos que aguenta mais volume de jogo, mas, quando não aguentar, e quando eu vir que não está a render ou ele me diga que não dá mais, estou cansado. A questão do estar morto é entender o significado das coisas. São muitos jogos seguidos, muitos minutos e com a pressão psicológica aumenta o cansaço. As coisas não estavam a correr bem e temos de ganhar, e, depois estamos a ganhar até aos 90 minutos, temos de jogar mais cinco, depois foram mais dois, sim, fizemos uma substituição, não me estou a queixar disso, mas, no psicológico do jogador, pesa 'Agora sofremos aos 90+7', há mais 30 minutos...', tudo afeta o psicológico do jogador. Foi bom ganhar, porque ajuda a recuperar.

- Sobre a posição de Pedro Gonçalves, tem sido a mais difícil de colmatar a ausência, têm passado por lá vários jogadores? Não tem sido contraproducente ter lá o Quenda?

- Estive um ano inteiro com o Quenda nos sub-23 e quem for ver o histórico ele nunca foi um ala ou um lateral, foi sempre um extremo com muita qualidade no último passe, por isso é que faz aqueles cruzamentos. Ele sempre gostou mais de jogar na frente e sente-se confortável porque as responsabilidades defensivas não são tantas, ainda que tenha subido porque, defensivamente, é muito comprometido, mas tem mais liberdade quando joga na frente. É um jogador muito forte no último passe. Comigo jogava no lugar do Trincão, mas pusemo-lo na esquerda e como tem tido rendimento, na minha opinião, e tem ajudado a equipa, por isso é uma opção válida para jogar ali.

- Frederico Varandas utilizou algumas justificações para os maus resultados, como o cansaço, lesões, arbitragem, impacto emocional depois da saída do antigo treinador. Considera que reforçou a confiança em si ou fragilizou-o?

- Quando é o treinador a dizer toda a gente vai analisar isso como sendo uma desculpa. O presidente constatou factos. Há jogadores lesionados, o tema da arbitragem. Não falo de árbitros, mas foi o Conselho de Arbitragem que meteu o árbitro na jarra. Se meteu o árbitro na jarra é porque cometeu um erro, certo? Não sou eu que estou a dizer, foi o Conselho de Arbitragem. Depois, sabemos que alguns dos jogadores vinham de quatro anos e meio com o mesmo treinador, que saiu para um clube que lhe ofereceu outras condições e está no seu direito de aceitar, mas é normal. Havia jogadores que tinham uma relação com esse treinador, como por exemplo o Trincão, o Pote e muitos mais, que foram contratações do mister Ruben. Vamos ver, não é normal um treinador sair a meio da época por sucesso desportivo e aconteceu aqui. Ainda bem, é sinal de que o Sporting está bem. Não acho que sejam desculpas, estou aqui para encontrar soluções, é para isso que sou pago e é para isso que trabalho todos os dias, não sao desculpas, são factos. A confiança mantém-se em mim e isso é bastante nítido.

- Já justificou a aposta em Quenda no ataque, mas parece que Gyokeres não está muito contente. Na gala dos Prémios Stromp disse que poderia estar a marcar mais se o Quenda lhe passe mais a bola. Foi algum recado?

- Felizmente, mesmo naquela fase mais difícil, mesmo agora que ganhámos dois jogos não está tudo bem, há muita coisa a melhorar, é um grupo sempre muito unido, que se entreajuda e hoje, frisei a maneira como recebem os jogadores mais jovens. Muita gente não conhecia o João Simões, mas ele consegue ter o rendimento que tem porque é ajudado por todos os que estão à sua volta. O Mauro Couto também entrou bem porque tem o apoio do grupo e os recebem muito bem, tanto nos jogos como aqui nos treinos na Acadmeia, e isso demonstra a ligação especial que têm uns aos outros, de querer ajudar e conquistar títulos pelo Sporting, e isso é muito importante.

- A onda de lesões levou-o a pedir ao 'Pai Natal' Frederico Varandas alguma prenda no sapatinho?

- [Risos] A prenda que peço é a vitória em Barcelos. Só há um Pai Natal, acho eu, mas, se houvesse mais, pedia era a recuperação dos jogadores que estão lesionados, que é importante. Mas, o que mais quero é ganhar em Barcelos,

- Tem alguma expectativa de ter alguns dos lesionados recuperados para o dérbi e qual é a importância de chegar ao jogo com o Benfica na liderança?

- É importante porque queremos passar o Natal o mais tranquilos possível e queremos passá-lo em primeiro lugar. Nunca vi nenhum campeonato resolvido em dezembro. O mais importante é o jogo de Barcelos. Não interessa estarmos a pensar no dérbi se não ganharmos primeiro em Barcelos. É aí que temos de nos focar, e os jogadores estão focados nisso. À partida, não vai haver nenhuma recuperação para o jogo de Barcelos, para o jogo com o Benfica logo veremos.