«Mourinho dizia que não havia maneira de vencer o Corunha»

FC Porto «Mourinho dizia que não havia maneira de vencer o Corunha»

NACIONAL29.04.202322:00

Fernando Santos foi o treinador mais importante da carreira de Deco. Foi o próprio quem o admitiu em entrevista ao programa Resenha, da ESPN Brasil, onde lembrou a chegada a Portugal, a relação com Mourinho e os primeiros tempos no FC Porto, onde encontrou o agora selecionador da Polónia como primeiro treinador.


«Treinador da minha vida? É o Fernando Santos, primeiro treinador no FC Porto. Vinha do Brasil, entrei em Portugal pelo Alverca, e tinha uma mentalidade de me divertir mais com o drible. O meu ídolo era o Djalminha, então eu pensava no jogo como diversão. E funcionava, tanto assim que me destaquei no Alverca, fui dos melhores jogadores da II Divisão e subimos. Mas o Fernando Santos era bruto, logo de manhã já vinha mal-humorado. Expulsou-me de treinos várias vezes e agora é dos meus melhores amigos no futebol. Ensinou-me muito do jogo.

- Chegar ao FC Porto com 19 ou 20 anos, aprendi muito com ele, ele é que fez a base para o resto», enalteceu o antigo internacional português, recordando a viagem do Brasil para Portugal, pensando que ia jogar no Benfica. «O meu empresário disse-me que ia para o Benfica, mas na viagem o Ronaldo Guiaro, que era meu amigo, disse-me que os caras costumam mandar a ‘molecada’ para um clube chamado Alverca. Aí o Cajú, que vinha comigo, começou logo a chorar. Quando chegámos no aeroporto o diretor do Benfica colocou-nos num Renault 19 e na viagem a gente só via as placas a dizer Alverca, Alverca. E o Cajú chorando. Disse para ele: ‘Está de brincadeira, já estamos ferrados, vamos ficar’.»


Deco recordou ainda a forma como José Mourinho preparou a eliminatória contra o Deportivo da Corunha, das meias-finais da Liga dos Campeões em 2003/2004. O antigo médio lembrou que Mourinho passou «três dias a dizer que não havia maneira de ganhar essa eliminatória», recordando uma conversa com o treinador na véspera da segunda mão.

«Veio ter comigo e disse-me: ‘só tens uma função no jogo, só podemos ganhar se tirares um dos pilares da equipa deles’. Eles tinham Naybet [nd.r. foi expulso na primeira mão], Jorge Andrade, o negão voava, e o Mauro na frente, que estava amarelado. ‘Toda a bola que você pegar tem de ir para cima dele’. Aí tentava ir para cima do Mauro, botava a bunda, girava, mas não dava para jogar. Mas o Zé dizia ‘continua’. Aí numa hora ganhei a bola vi o Mauro a vir para mim e pensei, ‘ele vai chegar atrasado’... deixei a perna direita e pum. Amarelo para o Mauro. Aí falei, ‘agora já posso jogar?’ Para piorar a situação deles, o Jorge Andrade, que era meu amigo, faz-me uma falta e dá-me um pontapé a brincar a dizer para me levantar, como fazíamos nos treinos no Porto. Mas o árbitro vem a correr com o vermelho na mão e expulsa-o. O Jorge só dizia [ao árbitro] ‘my friend, my friend’.»