Memórias de um jogo que quase não aconteceu

Benfica Memórias de um jogo que quase não aconteceu

NACIONAL19.08.202309:30

Há quase 15 anos, a 16 de novembro de 2008, o Benfica recebeu o Estrela da Amadora pela última vez para o campeonato. Ganhou por 1-0, golo do defesa-central Sidnei, num disparo de pé esquerdo à entrada da área, contra um adversário diminuído emocionalmente pelos «graves problemas do clube» da Amadora, como recorda a A BOLA, Lázaro Oliveira, que orientou os tricolores depois de ter pegado na equipa na semana anterior.

Não havia dinheiro e o Sindicato dos Jogadores chegou mesmo a anunciar um pré-aviso de greve a dois dias do pontapé de saída na Luz.

«A ida à Luz foi o meu primeiro jogo como treinador do Estrela. Lito Vidigal saiu na semana antes, por causa dos problemas financeiros», conta o atual treinador da seleção de Macau.

«Foi uma situação difícil de gerir, os jogadores estavam em divergência com o então presidente António Oliveira e fartos de promessas», puxa o filme atrás Lázaro Oliveira. E o dinheiro acabou mesmo por não chegar antes da visita à Luz - houve justificação de que os bancos não poderiam descontar um cheque de valor elevado numa sexta-feira.


A verdade é que o Estrela entrou em campo e fez uma exibição positiva. «Parabéns óbvios aos estrelistas pela forma galharda como, de bolsos vazios, se bateram», escreveu Rogério Azevedo, na crónica de jogo de A BOLA. «Sim, perdemos 0-1, mas fizemos um bom jogo. Dignificámos a camisola, em circunstâncias difíceis e atípicas», acrescenta Lázaro Oliveira.


A situação do E. Amadora não passou ao lado do Benfica. O treinador espanhol Quique Flores, antes do jogo, foi cumprimentar Lázaro Oliveira, num «gesto de amabilidade e de solidariedade» que sensibilizou os amadorenses.

O técnico sublinha que a equipa era «muito boa», que acabou o campeonato no 11.º lugar e chegou às meias-finais da Taça de Portugal, que «cumpriu os objetivos desportivos» antes de «descer administrativamente» no fim da época.

«Os jogadores valorizaram-se. Silvestre Varela, por exemplo, foi para o FC Porto, a maioria ficou na Liga», sublinha.

Lázaro Oliveira saúda o regresso do Estrela aos grandes palcos e dá os «parabéns à Direção» pelo trabalho que levou a equipa «do Campeonato de Portugal à Liga em poucos anos».

Sente que o Estrela na Liga «é muito importante para a cidade» da Amadora e sublinha o «apoio no [Estádio] José Gomes». Não esquece, claro, o «bom trabalho» do treinador Sérgio Vieira. E lança um olhar ao que pode ser o Benfica-E. Amadora de hoje:

«O Estrela tem equipa muito bem organizada, mostrou isso no primeiro jogo. Apesar de ter ficado reduzida a dez muito cedo (21’) com o V. Guimarães, por pouco não conseguiu pontuar, porque dominou e criou as melhores situações para marcar. Será um jogo extremamente difícil. O Benfica vem de um resultado negativo. É, claramente, o principal candidato ao título, por ter sido campeão e pelas contratações que fez. Depois da Supertaça, começou o campeonato com o pé esquerdo e tudo fará para conquistar os três pontos. Mas se o jogo não começar a correr bem ao Benfica, o Estrela poderá tirar partido de alguma ansiedade.»