Vieira no planeta dos manos
A entrevista do antigo presidente do Benfica só reforçou a necessidade de o futebol português se libertar de certos vícios do passado. 'Estádio do Bolhão' é o espaço de opinião semanal do jornalista Pascoal Sousa
Como estava ocupado a fechar o FC Porto para o jornal quando Luís Filipe Vieira estava a ser entrevistado pela CMTV só retive uma palavra: 'mano'. Perdi-me nas divagações de uma personagem que não tem amigos. Pelos menos amigos honestos que o aconselhassem a não se expor daquela forma numa fase em que o Benfica estava tão fragilizado. Verdade seja dita, Vieira não escondeu o seu posicionamento: acima do Benfica, está ele.
No planeta dos manos, 'bué' de manos, tipo manos até dizer chega, o ‘flow’ de Vieira criou a sensação de que sem ele o ‘bote’ não anda ‘prá’ frente – e só para escrever estas parcas linhas estive três horas em Ramalde Norte a assistir a um duelo de MCs. Um curso intensivo muito útil, porque descobri que a rima improvisada é muito mais genuína que a intervenção de certos ex-dirigentes de que o futebol português não pode ter saudades.
Com o advento da eleição de Villas-Boas no FC Porto e a consolidação da liderança de Frederico Varandas no Sporting, sem esquecer que há uma mulher, Alexandrina Cruz, corajosamente na presidência do Rio Ave, o futebol português tem de se libertar dos vícios do século XX e ter uma visão, não de futuro, mas de presente.
E o presente são as famílias nos estádios, as claques registadas e controladas (veja-se o que fez AVB em poucos meses com os Super Dragões), os sócios que pagam as quotas recompensados pela sua fidelidade, os treinadores falarem mais de futebol e menos de arbitragens, a comunicação dos clubes ser mais livre e fluida. Entre isso e o planeta dos manos, não me parece difícil a escolha.