Latapy: «FC Porto fez-me acreditar em mim»

Trinidade e Tobago Latapy: «FC Porto fez-me acreditar em mim»

INTERNACIONAL07.03.202120:49

Russell Latapy deixou saudades no FC Porto, Boavista e Académica, e continua a ser um ícone em Trinidad e Tobago, lembrado por ter disputado o único mundial da seleção caribenha já com 38 anos. Era, então, uma lenda no futebol escocês, onde brilhou no Hibernian, Rangers e Falkirk. Hoje, aos 52 anos, o antigo médio, chamado de pequeno mágico na Escócia, treina os Barbados.

«Tem sido uma grande experiência, estamos a avançar com um bom grupo de jogadores, com quem estamos a partilhar as nossas experiências. Há uma melhoria significativa na forma de jogar e numa atitude mais profissional com o futebol», revela Latapy, o tobaguenho que abriu portas a outros compatriotas como Clint e Lewis.

«Portugal foi a minha primeira experiência geral de aprendizagem. Era um jovem e foi um capítulo que me ensinou o lado tático do futebol. Em segundo lugar, a cultura atraiu-se sempre, e a comida portuguesa estará sempre nas minhas favoritas. Os clubes por onde passei foram todos maravilhosos, vivi momentos incríveis. Mas os meus amigos sabem que sou um portista», regista, desenvolvendo cada etapa em Portugal.

«A Académica foi uma aprendizagem de vida e cultura. O FC Porto fez-me acreditar em mim e nas minhas qualidades para jogar ao mais alto nível com alguns dos melhores jogadores de Portugal. O Boavista foi um grande desafio que me assegurou algumas das minhas grandes amizades», orgulha-se, vivendo com os créditos de dois títulos de campeão em dois anos passados no FC Porto, e de uma Taça de Portugal, mal se mudou para o Bessa.

«Quando cheguei queria estar o melhor preparado possível, aprender o máximo. Estava confiante na minha capacidade técnica mas queria, mais do que tudo, assegurar uma carreira de sucesso», partilha as expetativas trazidas na longa viagem de Port of Spain, onde nasceu, e da Jamaica, onde jogava, até Coimbra. Chega em 1990/91.

«Todos os clubes onde joguei estão guardados num lugar especial do meu coração. Contudo, o FC Porto é a equipa que eu apoio em todo este caminho por causa das experiências e feitos que consegui lá. Fui o primeiro jogador de Trindade e Tobago a jogar a Liga dos Campeões. São grandes memórias que se somam na minha cabeça», confessa…discorrendo a mágoa minimizada pelo clube.

«Adicionalmente houve um infeliz episódio em que tive uma entrada dura sobre Jokanovic e o lesionei gravemente. Nunca quis que tal acontecesse. Fui muito atacado e até ridicularizado mas recebi um apoio do clube fenomenal. Não esqueço isso. Serei sempre portista, sempre me fizeram sentir bem vindo, como se estivesse na minha própria casa», assevera o brilhante médio, que desenhava lances de ataque com régua e esquadro. Sempre de cabeça levantada num estilo incrivelmente elegante. Mas reside na memória coletiva também como o jogador que desperdiçou o penálti no dramático desempate com a Sampdoria, referente à Taça das Taças. Mancini, Lombardo, Mihajlovic e companhia acabaram por afastar os dragões de um acesso às meias-finais.

«Guardo muito mais as melhores recordações e grandes acontecimentos do que os momentos infelizes», atira para canto qualquer perturbação Russell Latapy, o homem que aceitou acompanhar Dwight Yorke, estrela do Manchester United, ao Mundial de 2006. Jogava já há largos anos na Escócia, mudança muito estimuada por Sir Bobby Robson, um mestre que nunca esquecerá pelo que contacto no FC Porto.

«Sempre dizia joga para a frente, joga simples e passa preciso», conta, puxando pelo seu desenvolvimento nas mãos do inglês.

«Quando olho para o meu tempo no FC Porto, é inacreditável o que aprendi do lado tático do futebol. Para poder jogar lá e para estar ao mais alto nível. Vindo do Caribe, sempre me habituei a estar confortável com bola nos pés. Em criança jogava em pequenas áreas e éramos sempre imensos em relação ao espaço. Sempre que a bola vinha na minha direção, tinha que estar preparado para dar o máximo de toques. Isso fez-me saber driblar e saber proteger a bola. Mas foi no FC Porto que tive a verdadeira compreensão dos movimentos com e sem bola. E isso é determinante na carreira que faço hoje, passado 25 anos, como treinador», destaca o tobaguenho, treinador dos Barbados.

De Robson para Conceição. Latapy, indefetível portista, deposita toda a confiança no técnico dos azuis-e-brancos.

«Conheço bem o Sérgio Conceição mas futebolisticamente só nos encontramos para jogar juntos num jogo de lendas, já retirados. Ele está a fazer um grande trabalho e desejo-lhe o melhor e que possa continuar na senda de títulos que começou», opina Latapy, de olho num grande resultado diante da Juventus.

«Não tenho seguido tanto como gostaria mas com o nosso espírito de luta e a força do treinador, há uma boa chance de passar, jogue-se contra quem se jogar. Somos FC Porto. Cristiano é incrível, quebrou e continua a quebrar recordes e a liderar qualquer equipa. Cuida-se como ninguém, inspira gerações mas estarei sempre a puxar pelo FC Porto. Estou esperançado que ultrapasse a Juventus.»