Geny Catamo: o que Amorim viu e mais ninguém conseguiu ver

A BOLA revela tudo o que fez convencer o técnico desde o primeiro dia. A história das lágrimas de miúdo muito discreto que foi o herói do dérbi. Projeto pessoal do técnico ainda a ser moldado

Geny Catamo é um caso raro. Quando falamos de futebol é habitual centrarmos o tema, sobretudo quando nos referimos a um projeto de jogador, nos sonhos, ilusões, paixões ou motivações. Se olharmos para a explosão deste ala moçambicano, que, de forma improvável, se tornou no herói do dérbi (e provavelmente da Liga), é obrigatório falarmos de convicções. De um treinador que lhe detetou qualidade e um enorme potencial quando poucos o conseguiram.

Não resta qualquer dúvida: Geny Catamo é um projeto de Rúben Amorim. E se hoje parece ser nome inquestionável, poucos, provavelmente, recordam que o moçambicano foi uma das surpresas, por exemplo, no estágio de pré-época dos leões. Que repetiu pela terceira vez… Mas dessa vez, ao contrário das anteriores (e provavelmente a vez que se perspetivava um ponto final na ligação aos leões após dois empréstimos sem brilhantismo) acabou por contrariar a lógica acabando por ficar, afirmar-se e tornar-se numa das revelações da Liga. Mesmo partindo atrás de Edwards e Trincão na linha de extremos e de Esgaio e o reforço Fresneda no corredor mais recuado.

O percurso de Catamo foi trilhado, por isso, com obstáculos. Chegou a Portugal aos 17 anos, ao Sporting um ano depois, aos 18 e só aos 23 ganhou lugar no plantel. Seis anos de trabalho árduo, avanços e recuos, perseverança que diz muito do moçambicano. E esta paciência, resistência até, de nunca querer dar um passo maior do que a perna, ao que apurou A BOLA, foi um dos traços que começaram por cativar Amorim. Mas existem outros. Que fomos procurar saber. Afinal quem é este jovem que decide um dérbi, o jogo mais importante da época (e da carreira), e que no final tem este tipo de desabafo: «Espero receber um beijo quando chegar a casa…».

Esgaio, St. Juste e Matheus Reis

Comecemos pela personalidade. Essa... Amorim não precisou de moldar. Geny é um miúdo muito discreto, de poucas palavras. Tem uma boa relação com todos, mas mais próxima de nomes como Matheus Reis, Esgaio, St. Juste e Edwards. Que se destaca por aquilo que vai bebendo dos colegas de equipa. Tenta aprender com eles, pede conselhos para melhorar, também com os treinadores. Essa apetência em querer aprender foi determinante num primeiro contato com o técnico dos leões.

Um dia estava com o Rúben e o Geny no gabinete e ele transmitiu de forma muito simples e especial que teria um cacifo no ano seguinte na equipa principal. Ouvir isto, para um jovem de 18 anos, têm de se sentir especiais

Um miúdo de poucas palavras, mas com elevada educação. Sempre preocupado com a família, tendo relações próximas com toda a estrutura da Academia, mesmo na parte da formação nos tempos em que viveu em Alcochete. Com uma motivação tremenda, pois recebeu, sempre, um acompanhamento da estrutura a todos os níveis (diretiva e técnica), nos empréstimos, ao Marítimo e V. Guimarães, marcados por alguns problemas físicos e pouco espaço para brilhar. Ou seja, o Sporting nunca lhe perdeu o rasto. A começar pelo treinador que tinha um plano para ele. A médio prazo. Basta recordar uma entrevista recente de Filipe Celikkaya, à Sporting TV… «Um dia estava com o Rúben e o Geny no gabinete e ele transmitiu de forma muito simples e especial que teria um cacifo no ano seguinte na equipa principal. Ouvir isto, para um jovem de 18 anos, têm de se sentir especiais», disse.

7 abril 2024, 15:54

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‘Day after’ e o Gil Vicente

Emoções refeitas, lágrimas limpas, Geny Catamo regressou ontem ao trabalho, em Alcochete e, contam a ABOLA, como se nada fosse. Tranquilo e focado. Após uma noite a responder a muitas mensagens e a rever os seus golos nas redes sociais. De pezinhos bem assentes no chão. Sem euforia e com o foco na deslocação a Barcelos. Procurando energia, também, em casa, pois Geny vive momento marcante a nível pessoal, com a namorada, e prepara-se para ser pai pela primeira vez.

Leão quer totalidade do passe

Geny Catamo renovou até 2028 em dezembro do ano passado. Esse processo fechou mas o leão ainda se encontra atento a outro 'pormenor' até porque os leões contam com apenas 25 por cento do passe do jogador. Os restantes pertencem ao Amora, sendo que desses 75 por cento, os Black Bulls, emblema moçambicano conta com 85 por cento do montante dessa percentagem do Amora. O Sporting, por sua vez, pretende negociar com o emblema moçambicano para comprar essa parte por cerca de três milhões de euros.

Moçambique em festa

O dérbi teve um sabor especial em... Moçambique. Em festa com o Messi de Maxaquene, como lhe chamam. E nos núcleos leoninos, nomeadamente de Maputo, Geny Catamo foi entoado de forma vibrante por todos os moçambicanos. Rúben Amorim prespetivou no final da partida e não se enganou. Houve mesmo festa rija em vários pontos do país que tem em Geny Catamo uma das suas estrelas maiores.