ENTREVISTA A BOLA «Foi grandioso ter feito história no Benfica»
Chandra Davidson nas nuvens com trajeto nas encarnadas. Avançada canadiana de 26 anos agradecida a Filipa Patão
O Benfica conquistou as quatro provas domésticas no futebol feminino nacional - Supertaça, Taça de Portugal, Taça da Liga e Liga. Em duas delas, as águias contaram com golos decisivos de Chandra Davidson, nomeadamente na final da Taça da Liga, frente ao Sporting, e, apenas quatro dias depois, o que possibilitou um triunfo tangencial sobre o Valadares que permitiu manter a liderança até à última jornada da Liga e garantir o título nacional. Um fator Chandra que provoca sorrisos à avançada canadiana, em conversa com A BOLA.
- O Benfica venceu recentemente a Taça de Portugal, algo que não acontecia há já cinco anos. Como encarou esse feito para o clube?
- Foi um feito fantástico, que não acontecia há alguns anos. Algumas das meninas na equipa e alguns elementos da equipa técnica nunca o tinham conseguido antes, por isso foi fantástico poder ter feito parte disso. Sei que cheguei no decorrer da época, mas foi grandioso ter feito história no Benfica.
- Não era uma primeira escolha regular no decorrer da época, mas acabou a temporada como titular depois de ter marcado golos importantes. Acredita que essa semana em que marcou o golo que valeu a conquista da Taça da Liga ao Sporting e, logo depois, quatro dias mais tarde, ao Valadares, que valeu uma importante vitória, foi um ponto de viragem para si no Benfica?
- Sim, penso que sim. Sabia que estava a jogar bem e que tinha qualidade, mas a bola não estava a entrar e sei que no futebol as pessoas julgam se a bola vai à rede ou não, não interessa se estás a jogar bem ou não. Diria que, nos jogos anteriores, estava a chegar ao meu momento e só me interessava colocar a bola lá dentro e foi o que consegui fazer. Isso deu-me obviamente a confiança para continuar a fazê-lo e não recear cometer erros, porque estava a marcar. Penso que foi um ponto de viragem para ganhar confiança em prol da equipa.
- Na final da Taça da Liga marcou ao Sporting, a sua antiga equipa e o maior rival do Benfica. Sentiu algo especial por defrontá-las numa final?
- Sim, foi um jogo especial para mim. Sempre tive o máximo respeito por todos os clubes que representei, mas jogar contra o clube anterior [pelo meio ainda passou pelo Fortuna Sittard, dos Países Baixos] é um tipo de jogo diferente. Passei pelo mesmo quando joguei pelo Sporting contra o Torreense. É diferente porque já lá jogaste, há sempre uma emoção extra, foi especial para mim, mas acima de tudo fiquei feliz por definir aquela vitória para o Benfica e estou onde estou agora, o meu foco está neste clube e nesta equipa.
- Quando se juntou ao Benfica, passou a ser orientada por Filipa Patão, junto de quem conquistou estes títulos. Que impressão guarda dela?
- É obviamente uma treinadora fantástica e muito inteligente. Não sabia o que iria encontrar a nível pessoal e como ela seria, mas após cá estar nos últimos meses, penso que estou a crescer sob o seu comando, ela vê algo em mim que por vezes nem eu vejo em mim mesma e é preciso ter-se isso num treinador, para que as jogadoras se sintam motivadas e capazes de confiar. Eu estou a confiar no processo e não apenas nela como também na equipa técnica, o que permite ser a jogadora que estou destinada a ser e permite-me crescer.
- Agora com estatuto de titular e com todos os títulos conquistados, o que se segue para si na próxima época? Procura ser primeira escolha de forma consistente, toda a época?
- Penso que nos primeiros meses tinha as minhas expetativas mais baixas, tinha vindo em janeiro e fazê-lo para uma equipa como esta, diferente, nesta liga que está a crescer, é duro. Por isso, tive de adaptar-me e penso que alcancei todos os objetivos que defini primeiro para mim e na próxima época quero ser uma titular mais regular, em quem os adeptos possam contar e continuar a forçar para conquistar todos os troféus novamente e contribuir tanto quanto possa para esta equipa de todas as formas possíveis.
Regresso a Portugal... para os quartos da Champions
Pelo simples facto de ter sido uma contratação de janeiro, Chandra Davidson deu por si a estrear-se na Liga dos Campeões ao serviço do Benfica… nos quartos de final, frente ao todo-poderoso (e finalista) Lyon. Um sonho tornado realidade. «Sabia que tudo era possível, especialmente na Liga dos Campeões, e ao tê-las visto jogar nos últimos anos sinto que elas cresceram cada vez mais. Por isso, esperava um pouco e sabia que poderia ser uma oportunidade jogar nos quartos de final, pensava elas podiam conseguir e estava entusiasmada também por mim, porque era uma oportunidade que não tinha onde eu estava antes. Por isso sim, tudo pode acontecer no futebol e estou feliz por poder fazer parte do sucesso que elas construíram antes de eu ter cá chegado», reconheceu a atacante ex-Fortuna Sittard.
Forte concorrência foi «grande razão» para rumar à Luz
Chandra Davidson joga numa posição preenchida em qualidade no Benfica, como avançada, onde conta com a concorrência de Nycole Raysla e de tecnicistas como Kika Nazareth, Jéssica Silva e Mimi Alidou, entre outras, e encarou tanta concorrência como um desafio. «Sim, a 100%. Foi uma das grandes razões pelas quais quis vir para o Benfica, porque sabia que tinha de trabalhar para jogar. Nunca quis estar confortável, porque quando estou assim, não cresço. Por isso, acho que esta foi a maior oportunidade para mim, para crescer como jogadora e tornar-me na melhor versão de mim própria. Espero pela próxima época para ver mais do que fiz nesta, mas nunca se cresce quando se está confortável. Por isso, a ter essa competição, puxamos umas pelas outras e nunca sabemos quem vai jogar a cada jogo», explicou.
Goleadora de Torres quase deixou futebol
Quando chegou para a primeira experiência em Portugal, Chandra fê-lo para jogar no Torreense, onde se fez notar como uma canadiana goleadora que em pouco tempo era recrutada pelo Sporting.
«Honestamente, nunca pensei nisso, quase tinha parado de jogar porque no Canadá, na altura, era muito comum ter de ir para fora, não há campeonato lá, és forçada a ir para o estrangeiro… Felizmente, as coisas estão agora a mudar. Foi muito difícil para mim estar longe da minha família, mas quando a oportunidade de ir para o Sporting surgiu, eu não podia dizer que não. Limitei-me a seguir o caminho e aproveitar as portas que se abriram e é assim que a vida me continua a acontecer: uma porta fecha, outra abre, continuo a avançar e tudo continua a correr bem para mim até agora, por isso é nisso que confio», destacou.