Benfica-Gil Vicente, 5-1 Família no balneário, dinâmicas de jogo, adaptações: tudo o que disse Bruno Lage
Treinador português mostrou-se feliz com vitória e evolução do conjunto encarnado
Após a goleada de 5-1 imposta ao Gil Vicente, Bruno Lage considerou, na conferência de imprensa, que o Benfica já começa a jogar um pouco mais à imagem do que pretende, lamentando, ainda assim, a falta de tempo para praticar rotinas. Deixou elogios a Otamendi, frisou que a escolha de Tomás Araújo para a lateral direita deve-se apenas ao momento e garantiu que, à semelhança de Rúben Amorim, se sente «abençoado».
— Comentário a dois factos: Benfica volta a marcar dois golos de bola parada, que revela trabalho e, mais uma vez, jogadores que saltaram do banco marcaram.
— Antes de mais, sobre o jogo, do que analisámos vimos uma equipa competente, boa na construção e com jogadores com qualidade técnica, uma estratégia bem definida e, de alguma forma tínhamos de estar preparados para esta forma de jogar do Gil Vicente. Equipa que gosta de ter paciência com bola, encostam-se à linha lateral para construir e, com isso, tentámos puxar e desgastar o adversário. Posto isto, olhar para o adversário e perceber que é uma equipa competente, olhar para o positivo que fizemos, o ter capacidade de virar o resultado na primeira parte com golo de canto e, na segunda parte, quando sentimos que precisávamos de outra energia na frente, para explorar espaços nas costas e continuar a ser eficazes na pressão, mexemos e assim aconteceu. Resultado muito bom para nós, uma vitória em equipa, com golos de bola parada e a sair do banco que nos deixa satisfeitos.
— Tomás Araújo volta a ser o lateral-direito. Passa a ser a principal opção ou tem a ver com limitação ou falta de ritmo de Bah?
— Tem a ver com tudo. Com o que sentimos que é o melhor a cada momento. Estamos muito satisfeitos com Bah e Issa, tal como com o Beste, que também jogou noutra posição. Ainda hoje senti que precisava dele na ala e senti que com o 3-1 podíamos criar situações de perigo. É sentir o momento. Bah ainda tem uma ligeira impressão, treinou apenas um dia e preferimos manter a equipa que vinha do jogo do bessa e que nos deu garantias. Tomás já tinha feito alguns jogos a lateral no ano passado, é bom tecnicamente, rápido e dá garantias. Neste momento, enquanto equipa técnica, temos de adaptar da melhor maneira os jogadores. Nem todos podem ser como Akturkoglu, que chega e faz golos, outros precisam de mais tempo para se adaptarem. Perceber que jogar em linha de cinco é diferente de jogar com uma linha de quatro, isso leva tempo e treino. Estamos satisfeitos e o que interessa é que a equipa tenha o rendimento que esperamos.
— Quão importante foi para Otamendi ser ele a marcar o primeiro golo do Benfica? Sinto que já teve fases más e momentos bons esta época.
— Falo apenas do momento em que cá cheguei, é bom para qualquer um marcar, mas o Nico, pela sua experiência e currículo, não fica abalado por ter cometido um deslize naquele primeiro golo (n.d.r. Lage refere-se ao golo sofrido contra o Santa Clara) e este golo dá a tranquilidade necessária para fazer boas exibições. É preciso trazer a mentalidade vencedora e consistência, são fatores muito importantes para jogar no Benfica. Independentemente da idade ou prestígio, todos têm de corresponder. Foi um golo muito importante para a equipa, que tem trabalhado situações de bola parada. Fiquei feliz pelo Nico como fiquei feliz por o Florentino já ter dois golos em 15 dias. Revela trabalho, porque os dois golos foram praticamente idênticos.
— Depois desta goleada, segue-se um adversário de topo, Atlético Madrid. Com Lage, o Benfica tem apenas vitórias. Isto dá confiança a si e aos jogadores para encarar o adversário olhos nos olhos?
— Dá confiança a todos, até os adeptos sentem mais confiança, a estrutura… ainda há um longo caminho a percorrer. Há coisas que vejo que a equipa já faz, no sentido de, além de vencer os quatro jogos, conseguiu criar um maior número de oportunidades, marcar mais golos, ter mentalidade vencedora de querer mais. Ao intervalo, com 2-1, sentimos que o jogo estava controlado, mas quisemos procurar o mais rápido possível o terceiro. Fizemos três alterações para procurar o golo e fechar o jogo. Há aspetos que ainda temos de melhorar, infelizmente não temos tido o tempo suficiente para treinar, o tempo de recuperação por vezes também não é o certo pela sequência de jogos. Há coisas que queremos fazer mais e melhor, uma delas é ser mais agressivos na pressão. Hoje tentámos que o Gil Vicente jogasse verticalmente e que os nossos médios recuperassem bola e saíssem na transição, mas perdemos algumas bolas. Queremos que a equipa tenha ambição para procurar mais golos, mas não pode perder a posse de bola e o controlo do jogo.
— Há pouco falou do Issa Kaboré, hoje não esteve no banco de suplentes e não esteve no almoço promovido por Otamendi. Porque não esteve hoje no banco? Segundo jogo na luz, segunda vez que virou resultado, é uma arma do Benfica, esta capacidade de reação?
— Sobre o Issa, acho que a ausência até já foi explicada na foto. Depois, são decisões que temos de tomar. Entre manter o Tomás Araújo ou trazer o Bah, que já está cá há muito tempo... Issa tem potencial, mas ainda está numa fase de adaptação. Foi fácil tomar a decisão, o importante é que ninguém está fora do grupo. Sobre a viragem no marcador, é fundamental isto que acabei de dizer. Falei com os jogadores sobre isto, sobre cultura de equipa e cultura do clube e que ninguém nem nada está acima da equipa, a não ser uma coisa: família. E é uma família que temos de construir aqui dentro. A família de 60 mil estava a assistir ao jogo, várias famílias assistiram pelo mundo. Quanto mais depressa formarmos uma família no balneário, mais depressa teremos ainda mais união, relação mais forte com os adeptos e a responsabilidade é nossa. Têm de nos ver como família para se apoiarem cada vez mais como família.
— Pegando nas declarações de Rúben Amorim, que disse sentir-se abençoado pelas condições no Sporting e pela pré-época tranquila, o Bruno pega no comboio já com a época iniciada. Tem tido pouco tempo para trabalhar a equipa. Rúben sente-se abençoado… e o Bruno, como se sente?
— Também, muito abençoado. A vida e o destino deram-me a oportunidade de voltar a treinar o Benfica. Sinto-me feliz, a minha adaptação ao clube foi muito fácil. O que você disse é o mundo perfeito, mas nem sempre acontece, ter um bom início de pré-época. Neste momento, não temos semanas limpas, até por causa do aumento de jogos na Liga dos Campeões. Na primeira vez que cá estive, tivemos algumas semanas em janeiro, agora nem isso. Mundo ideal é isso, ter quatro ou cinco semanas para trabalhar na pré-época. Ter o plantel fechado na pré-época e poder trabalhar é tudo. Temos tempo para treinar, passar ideias, ver vídeos sobre formas de jogar, mas são poucas as equipas que podem ter o mérito de conseguir ter tudo resolvido na pré-época. Depois é recuperar. O que é a melhor escola de vida? São as experiências. E a minha experiência no Championship é isto. Jogar de três em três dias, senti-me abençoado por treinar com Carvalhal. São muitos jogos consecutivos em que não há tempo para treinar, é recuperar e jogar. Depois, a variedade de sistemas, qualidade das equipas, estádios magníficos… isso deu-me uma experiência tremenda, talvez a maior experiência da minha vida e que me proporcionou grande crescimento enquanto treinador.