Espanha: o guia
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EURO 2024 Espanha: o guia

INTERNACIONAL31.05.202412:00

Guia da seleção espanhola escrito por David Álvares e Juan I. Irigoyen para o El País

Expectativas

A Espanha chega ao EURO na Alemanha com melhores expectativas do que se podia imaginar há 18 meses, quando perderam com Marrocos nos penáltis nos oitavos de final do Mundial, substituindo Luis Enrique por Luis de la Fuente. A seleção mostrou uma preocupante falta de criatividade ofensiva no Catar e, em vez de contratar um técnico de alto perfil, a federação olhou internamente e optou por um selecionador cuja carreira foi passada maioritariamente nas seleções jovens de Espanha. Contudo, a experiência não começou bem.

De la Fuente perdeu o seu segundo jogo da campanha de qualificação para o EURO por 2-0, frente à Escócia, em Hampden Park, e o treinador foi bastante criticado. Houve até rumores de que podia ser despedido tão cedo após a sua contratação. Contudo, os próximos jogos de Espanha foram na Liga das Nações frente a Itália e Croácia, duas seleções que vão encontrar no EURO.

A Itália saiu derrotada por 2-1 graças a um golo tardio de Joselu na meia-final e, de seguida, venceram nos penáltis frente à Croácia. O sucesso na Liga das Nações deu à equipa – e ao treinador – uma plataforma para crescer. O projeto tem estado bastante estável desde aí e tem progredido serenamente. De la Fuente também aprendeu com os seus erros – por exemplo, não fazer oito alterações na equipa, como fez na derrota frente à Escócia. Também mostrou que é capaz de jogar um futebol mais direto do que aquele tão criticado no Catar, mas sem perder o controlo do jogo, maioritariamente pela influência de Rodri no meio-campo. Os extremos envolvem-se mais e não tem receio de utilizar um ponta-de-lança mais tradicional como Joselu.

A Espanha ganhou os restantes jogos de qualificação, mas perdeu o supremo talento de Gavi, que sofreu uma rotura do ligamento cruzado frente à Geórgia. Há grandes questões sobre Pedri, que também tem sido fustigado pelas lesões e não tem estado à disposição de De La Fuente, enquanto o número 9 titular, Álvaro Morata, tem tido uma primavera difícil. Contudo, apesar de todos os problemas, parece que a Espanha viaja para o EURO com uma boa base e deverá estar entre as favoritas à vitória. 

O selecionador

Luis de la Fuente (IMAGO)

Luis de la Fuente não tem uma longa lista de clubes no CV – embora tenha representado Sevilha ou Athletic como jogador –, mas provou ser a escolha perfeita numa fase turbulenta para a federação espanhola. Luis Rubiales, o presidente que o contratou, demitiu-se após o beijo não consensual a Jenni Hermoso após a final do Mundial feminino e está agora envolvido em vários casos legais. Durante um estágio do plantel a guarda civil entrou nos escritórios da federação mesmo ao lado do campo onde os jogadores treinavam. De La Fuente tem mantido a calma e pediu união ao grupo com uma simples frase: «Se vieram jogar pela seleção têm de ser bons e têm de se comprometer.»

O ícone

Rodri tornou-se no jogador-chave durante a transição entre Luis Enrique e De La Fuente. O primeiro colocou-o a jogar como central no Catar, enquanto este último usa-o como o maestro do jogo no meio-campo, tal como Guardiola faz no Manchester City. «Ele é o melhor da Europa», disse o catalão em 2023, após a final da Liga dos Campeões, acrescentando: «um médio fantástico.» Foi escolhido como melhor em campo na vitória frente ao Inter (tendo marcado o golo da vitória) e foi, também, o melhor jogador na final da Liga das Nações, frente à Croácia. Tornou-se num dos líderes da equipa, o jogador que dita a velocidade com que a equipa joga em campo.

Para ter debaixo de olho

Lamine Yamal no Barcelona-Las Palmas (Imago)

Lamine Yamal pode ter apenas 16 anos quando o EURO começar (faz 17 a 13 de julho), mas já está a aparecer como um jogador-chave na seleção. Na verdade, nesta última época, foi uma das raras boas histórias para o Barcelona de Xavi. «Ele surpreende-te todos os dias», diz De La Fuente. Apesar do facto de ainda ser um jogador bastante errático, continua a ser um extremo absolutamente decisivo, capaz de quebrar facilmente as linhas adversários e tem um registo goleador muito bom.

Espírito rebelde

Álvaro Morata no Atlético Madrid-Borussia Dortmund (Imago)

Esta seleção espanhola não tem um jogador capaz de revolucionar o balneário ou chocar o resto do mundo com um comentário controverso numa conferência de imprensa. Há um jogador, contudo, que é capaz de estar sempre na ribalta, mesmo que ele não o queira. Álvaro Morata já jogou por gigantes europeus como o Real Madrid, Juventus, Chelsea e Atlético, mas a sua capacidade goleadora tem sido questionada ao longo da sua carreira. Não interessa se já marcou mais de 200 golos como profissional. Já foi vaiado e recebeu ameaças de morte pelos próprios adeptos espanhóis, mas De La Fuente não tem dúvidas: Morata é o capitão da seleção.

A espinha dorsal

Unai Simón, Aymeric Laporte, Rodri e Álvaro Morata. Simón já era o número 1 quando De La Fuente assumiu a seleção e não vai perder o lugar. O mesmo acontece com Laporte, que manteve o seu lugar como líder da defesa apesar da sua transferência para o Al-Nassr da Arábia Saudita. De La Fuente valoriza muito a sua experiência. Ninguém questiona o lugar de Rodri e Morata ainda tem a confiança do selecionador no ataque. Algo a relembrar é que esses quatro jogadores não são apenas líderes em campo, mas também no balneário.

Onze provável

4-3-3 - Unai Simón - Carvajal, Le Normand, Laporte, Grimaldo - Olmo, Rodri, Fabián - Lamine Yamal, Morata, Nico Williams.

Adepto famoso

Dizem que o mundo perdeu um futebolista magnífico porque Rafael Nadal  preferiu jogar ténis. É sobrinho do antigo jogador da ‘Dream Team’ do Barcelona, Miguel Ángel Nadal, e gosta de jogar futebol quando pode. Apesar dessa ligação, o vencedor de 22 Grand Slams apoia o Real Madrid – e a seleção, claro. Quando a Espanha venceu o Mundial 2010, Nadal foi uma das primeiras pessoas a entrar no balneário para celebrar com Casillas, Iniesta, Xavi e os restantes.

Petisco

Nenhum jogo está completo sem uma boa cerveja. Seja no bar ou nas bancadas, o cenário ideal para seguir uma competição como o EURO, este verão, especialmente num país quente como Espanha, é pedindo uma caña [fino ou imperial] com muita espuma. Além de ter uma cerveja fresca também precisas de preparar o estômago e que melhor forma de complementar uma bebida do que com um prato de batatas bravas (batatas fritas com molho picante por cima) ou uma salada russa (salada com maionese, atum, azeitonas e cenoura), o que, apesar do nome, ainda é mais espanhol do que uma omelete de batatas.