Benfica Entrevista A BOLA: «Vlachodimos tem um nível muito alto, baliza está bem entregue»
Em entrevista a A BOLA, Helton Leite passou em revista a passagem pelo Benfica, deixando enormes elogios a Vlachodimos, atual dono da titularidade na baliza encarnada.
- Antes de mais, como têm sido as férias após uma época que o levou a mudar de Portugal para a Turquia?
- Aproveitar para descansar. Agora estou na fazenda da família. Aqui tem de tudo um pouco, cavalos, cão, gatos, galinhas, bois… fica no interior do Brasil, bom para repousar e carregar baterias.
- Recuemos até à última época que fez pelo Boavista [2019/2020] em que foi considerado o melhor guarda-redes da Liga. Que recordações guarda dessa temporada?
- Foi uma época especial. Na parte final da temporada anterior tive uma lesão grave. Demorei oito meses a recuperar. Quando voltei o Bracali estava como titular, mas houve uma mudança de treinador e passei a ser eu o titular. Depois de tanto tempo parado consegui atingir um bom nível… a interrupção por causa da pandemia também ajudou, pois deu mais tempo para a recuperação. E os últimos dez jogos foram muito bons, tanto que foi aí que acabei por confirmar o salto para o Benfica. Tenho uma grande identificação com o Boavista e muito carinho pelo clube. Deixei lá muitos amigos, um bom relacionamento e foi graças ao que consegui lá que chegou, depois, aquilo que qualquer jogador sonha, que é dar o salto para um clube como o Benfica. Todo o mundo sonha estar num clube com aquela magnitude do Benfica, mas foi através do Boavista que lá cheguei e isso não esqueço nunca.
- Aceitou o desafio Benfica mesmo sabendo que ia enfrentar concorrência de um guarda-redes como o Vlachodimos. Tinha consciência das dificuldades que ia enfrentar?
- Quando se tem uma oportunidade dessas, de assinar por um clube como o Benfica, acho que não se pensa duas vezes. Sabia ao que ia e o que ia encontrar, mas com o intuito de disputar a posição. Era um risco, mas aceitei o desafio. Assinar por um clube daquela magnitude, de poder disputar provas europeias, campeonato, lutar para ganhar todas as provas em que o clube entra, sentir um clube daquele tamanho é algo que mexe. E que foi muito importante para a minha vida, vai sempre ficar marcado. O meu sentimento foi o de aceitar e vamos à luta. E a verdade é que a meio da época tive a oportunidade de começar a jogar. Foi um risco, como disse, mas acabou por valer a pena sobretudo pela primeira época, em que fiz 26 jogos… 26 jogos sabendo que tinha outro grande guarda-redes à espera de poder entrar, foi algo muito gratificante. Naquele momento acabou sendo uma aposta ganha… apesar de infelizmente nada termos conquistado.
«MÉRITO AOS RIVAIS»
- Passou para titular num momento em que Jorge Jesus fez um reset na equipa. Estava à espera de passar para titular naquela fase?
- À espera confesso que não estava. Mas preparado sim. Nunca ninguém saberá o que é representar um clube como o Benfica antes de lá chegar. Por isso, quando se entra e se começa a jogar não dá para pensar muito, é executar, executar, executar. Porque é uma responsabilidade muito grande. Então, não estava à espera, na minha mente não estava… mas preparado sim. Temos de estar sempre à espera de uma oportunidade. Entrei e joguei várias competições, entre campeonato, Liga Europa, Taça de Portugal… Foi uma experiência boa e estou muito grato por tudo.
- O Benfica acabou por nada conquistar nessas épocas. Havia condições para ter sido diferente?
- Aconteceu. É difícil encontrar uma razão só para isso. Há que dar mérito também aos rivais, porque estiveram a um nível muito alto. Em vez de encontrar desculpas, é bom dizer-se que naquele momento não conseguimos ser melhores que os rivais, não os conseguimos superar. E isso foi muito frustrante para todos. Porque quando se está no Benfica há uma obrigação muito grande de lutar por títulos. E se vemos que os rivais nos superam… Foi muito ruim para todo o mundo. Mas são coisas que acontecem no futebol. O clube cresceu, nós aprendemos e esta época as coisas foram diferentes, e o Benfica chegou ao sucesso. Até mesmo na última temporada as coisas correram muito bem na Liga dos Campeões, embora no campeonato não. Mas a base estava a ser lançada e este ano tudo deu certo e com muito mérito de todos.
- No arranque da segunda época no Benfica, após ter sido titular na segunda metade anterior, Jorge Jesus volta a apostar em Vlachodimos. Sentiu aí uma pontinha de injustiça?
- Não, injustiça não. O relvado é que manda. Até podemos ter bons resultados, jogar bem… mas quando os títulos não aparecem tudo pode acontecer. São opções e os jogadores têm de respeitar. A equipa teve um início muito forte, com apuramento para a Champions. E quando as coisas estão bem a opção é não mudar. Resta continuar a trabalhar para esperar uma nova oportunidade. Mas a verdade é que Vlachodimos manteve um nível muito alto enquanto estive no Benfica. Não foi injustiça, foi mérito do Vlachodimos que trabalhou muito para chegar onde chegou pelo Benfica.
- E não será fácil para um treinador ter de optar por um entre dois bons guarda-redes…
- Lógico. É claro que eu quero jogar sempre. Tal como o Vlachodimos também. É uma luta sadia. E no final o treinador assume a opção dele. Houve aquele momento em que ele saiu e eu tive vantagem, estive bem e segurei o lugar. Depois aconteceu o inverso. Mas agradeço muito a Deus pela oportunidade que me deu de jogar no Benfica e por estar agora no Antalyaspor. Eu sou muito crente e acredito que tudo o que nos acontece vem de Deus e temos de ter gratidão pelo caminho que Ele nos indica.
- Como foi a relação com Vlachodimos? Ele chegou até a ponderar sair naquela fase em que o Helton estava a titular…
- Penso que o Benfica tinha dois guarda-redes muito competitivos, cada um com a sua personalidade e características, mas, para se perceber como era o nosso relacionamento, nós até hoje trocamos mensagens quase diariamente. Comentamos as coisas um do outro nas redes sociais, falei com ele a seguir à conquista do título. Tivemos sempre um relacionamento muito bom. Vlachodimos é uma pessoa muito boa, alguém de grande caráter. Independentemente daquilo que ele disse ou não disse, nunca me importei muito com isso, porque no dia-a-dia conhecemos a pessoa e o caráter dela. E fico muito feliz com o sucesso dele, é alguém por quem tenho muito carinho e muito apreço. E sei que isso é recíproco.
- Está bem entregue a baliza do Benfica?
- Muito bem sem dúvida. Vlachodimos é alguém muito focado, muito estável, está sempre presente, está há cinco épocas no Benfica e tem mostrado que é muito seguro, tem muita qualidade.